Hidrocele Infantil
Resumo
1. Definição e Contexto
Acúmulo de líquido seroso na túnica vaginal, causando aumento de volume escrotal indolor e benigno.
Tipos:
Não Comunicante: Conduto peritoneovaginal fechado; volume constante.
Comunicante: Conduto pérvio; líquido peritoneal flui da cavidade abdominal; volume varia (maior ao final do dia/esforço, menor ao repouso).
Fator de Risco: Prematuridade.
2. Apresentação Clínica e Diagnóstico
Sinal Cardinal: Aumento de volume escrotal indolor, cístico. Testículo geralmente palpável.
Transiluminação: Positiva (achado característico).
Diagnóstico: Eminentemente clínico (anamnese e exame físico).
Ultrassonografia: Não rotineira. Indicada para:
Impossibilidade de palpar o testículo.
Suspeita de patologia testicular associada (ex: tumor, torção).
Dificuldade em diferenciar de hérnia inguinal encarcerada.
Dor ou sensibilidade escrotal.
3. Diagnóstico Diferencial (Urgências e Condições Importantes)
Hérnia Inguinal: Abaulamento redutível na região inguinoescrotal, pode ser doloroso. Transiluminação negativa. Risco de encarceramento/estrangulamento.
Torção Testicular: Dor escrotal aguda e intensa, início súbito, náuseas/vômitos, testículo elevado/horizontalizado, ausência de reflexo cremastérico. Urgência cirúrgica.
Orquiepididimite: Dor e edema gradual, febre, sintomas urinários, sinais flogísticos.
Tumor Testicular: Massa sólida, firme, indolor (raro na infância).
4. Manejo e Tratamento
Conduta Expectante:
Maioria das hidroceles congênitas resolve espontaneamente até 18-24 meses de idade (fechamento do conduto e reabsorção do líquido).
Reavaliações pediátricas periódicas (3-6 meses) para monitorar e descartar hérnia.
NÃO aspirar o líquido (alto risco de recorrência e infecção).
Orientações à Família:
Condição benigna, indolor, não afeta fertilidade futura.
Não manipular a bolsa escrotal.
Indicações para Encaminhamento Cirúrgico (Hidrocelectomia):
Persistência da hidrocele após 18-24 meses de idade.
Suspeita clínica clara de hérnia inguinal associada (conteúdo redutível, abaulamento que se estende à região inguinal).
Aumento progressivo e significativo do volume, causando desconforto ou tensão na pele.
Dúvida diagnóstica persistente.
5. Sinais de Alerta para Retorno Imediato (Emergência)
Aconselhar a família a procurar atendimento médico de urgência se a criança apresentar:
Aumento súbito e doloroso do volume na região escrotal ou inguinal.
Irritabilidade intensa ou choro inconsolável.
Vômitos (especialmente biliosos), distensão abdominal, recusa alimentar.
Alteração na coloração da bolsa escrotal (vermelhidão, arroxeado).
6. Prognóstico
Excelente. A condição não afeta a fertilidade futura ou a função testicular.
Categoria
Cirurgia pediátrica > Urologia Cirúrgica > Hidrocele Infantil
Conduta Completa
1. Definição e Contexto
A hidrocele infantil é o acúmulo de líquido seroso na túnica vaginal, a membrana que envolve os testículos, resultando em aumento do volume escrotal. É uma das causas mais comuns de tumefação escrotal em recém-nascidos e lactentes, geralmente indolor e benigna.
Existem dois tipos principais:
Hidrocele Não Comunicante: Ocorre quando o conduto peritoneovaginal se fecha, mas o líquido que estava ao redor do testículo não é completamente reabsorvido pelo corpo. O volume tende a ser constante.
Hidrocele Comunicante: Resulta da falha no fechamento do conduto peritoneovaginal, permitindo que o fluido peritoneal flua livremente entre a cavidade abdominal e a bolsa escrotal. Caracteriza-se pela variação do volume escrotal ao longo do dia, que aumenta com atividades como choro ou esforço físico e diminui com o repouso.
2. Fisiopatologia
A fisiopatologia está diretamente ligada à descida testicular durante o desenvolvimento fetal. Os testículos migram do abdômen para a bolsa escrotal, levando consigo um divertículo do peritônio chamado de processus vaginalis (conduto peritoneovaginal).
Normalmente, este conduto se oblitera espontaneamente antes ou logo após o nascimento.
Na hidrocele comunicante, a persistência da patência deste conduto permite a passagem de líquido peritoneal para a túnica vaginal.
Na hidrocele não comunicante, o conduto se fecha, mas há um desequilíbrio entre a secreção e a absorção de líquido pela túnica vaginal, levando ao seu acúmulo.
3. Fatores de Risco
O principal fator de risco para a hidrocele congênita é a prematuridade, devido à maior probabilidade de o conduto peritoneovaginal ainda estar pérvio ao nascimento. Outros fatores incluem baixo peso ao nascer e histórico familiar.
4. Apresentação Clínica
O sinal cardinal é o aumento de volume indolor de um ou ambos os lados da bolsa escrotal.
Inspeção: Aumento de volume escrotal, com pele de aspecto normal.
Palpação: Consistência cística, indolor, e geralmente é possível palpar o testículo dentro do volume líquido.
Variação de Volume: Em hidroceles comunicantes, os pais frequentemente relatam que o inchaço é menor pela manhã e aumenta ao longo do dia.
Transiluminação: Um dos achados mais característicos é a transiluminação positiva, onde uma fonte de luz forte aplicada à bolsa escrotal atravessa o conteúdo líquido, fazendo com que todo o escroto se ilumine. Este sinal ajuda a diferenciar de massas sólidas ou hérnias.
5. Diagnóstico
O diagnóstico da hidrocele infantil é eminentemente clínico, baseado na anamnese e no exame físico detalhado.
5.1. Exames Complementares
A ultrassonografia da bolsa escrotal não é rotineiramente necessária, sendo reservada para casos de dúvida diagnóstica.
Indicações para Ultrassonografia:
Impossibilidade de palpar o testículo.
Suspeita de patologia testicular associada (ex: tumor, torção).
Dificuldade em diferenciar de uma hérnia inguinal encarcerada.
Dor ou sensibilidade escrotal.
5.2. Diagnóstico Diferencial
É crucial diferenciar a hidrocele de outras causas de aumento de volume escrotal, especialmente as que representam urgências cirúrgicas.
| Condição | Características Clínicas Principais | Transiluminação | Achados Adicionais |
|---|---|---|---|
| Hidrocele | Aumento de volume indolor, cístico, irredutível. | Positiva | Testículo palpável dentro do líquido. |
| Hérnia Inguinal | Abaulamento redutível na região inguinoescrotal, pode ser doloroso. | Negativa | Pode haver ruídos hidroaéreos; risco de encarceramento/estrangulamento. |
| Torção Testicular | Dor escrotal aguda e intensa, início súbito, náuseas/vômitos. | Negativa | Testículo elevado, horizontalizado; ausência do reflexo cremastérico. Urgência cirúrgica. |
| Orquiepididimite | Dor e edema de início gradual, febre, sintomas urinários. | Negativa | Sinais flogísticos locais; melhora da dor com a elevação do testículo (Sinal de Prehn positivo). |
| Tumor Testicular | Massa sólida, firme, indolor e aderida ao testículo. | Negativa | Raro na infância, mas deve ser considerado. |
| Cisto de Cordão | Massa cística localizada no cordão espermático, acima do testículo. | Positiva | Testículo separado da massa. |
6. Manejo e Tratamento
A abordagem da hidrocele infantil é primariamente conservadora, pois a maioria dos casos tem resolução espontânea.
6.1. Conduta Expectante
Para a maioria das hidroceles congênitas (comunicantes ou não), a conduta é a observação clínica.
Resolução Espontânea: Espera-se o fechamento do conduto peritoneovaginal e a reabsorção do líquido, o que ocorre na maioria dos casos até os 12 a 24 meses de idade.
Seguimento: Reavaliações pediátricas periódicas (a cada 3-6 meses) são recomendadas para monitorar o tamanho e descartar o surgimento de uma hérnia.
6.2. Tratamento Cirúrgico
A cirurgia (hidrocelectomia) é indicada em situações específicas. O procedimento consiste na ligadura alta do conduto peritoneovaginal patente através de uma incisão inguinal.
Indicações para Encaminhamento ao Cirurgião Pediátrico:
Persistência da hidrocele após 18-24 meses de idade.
Suspeita clínica de hérnia inguinal associada.
Aumento progressivo e significativo do volume, causando desconforto ou comprometimento da pele escrotal.
Dúvida diagnóstica que não pôde ser esclarecida com exames de imagem.
Importante: A aspiração do líquido não é recomendada em crianças devido ao alto índice de recorrência e ao risco de infecção.
7. Complicações
A hidrocele isolada raramente causa complicações. O principal risco está associado à persistência do conduto peritoneovaginal, que pode permitir o desenvolvimento de uma hérnia inguinal indireta. Uma hérnia pode levar a complicações graves como encarceramento e estrangulamento, que são emergências cirúrgicas.
8. Prognóstico e Seguimento
O prognóstico para crianças com hidrocele é excelente. A grande maioria resolve espontaneamente sem qualquer intervenção. A condição não afeta a fertilidade futura ou a função testicular. O seguimento pediátrico regular é suficiente para monitorar a evolução e identificar a necessidade de encaminhamento cirúrgico no tempo adequado.
9. Referências
1. KLIEGMAN, R. M. et al. Nelson Textbook of Pediatrics. 21st ed. Philadelphia: Elsevier, 2020.
2. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Tratado de Pediatria. 5a ed. Barueri: Manole, 2022.
3. CORAN, A. G. et al. Pediatric Surgery. 7th ed. Philadelphia: Mosby Elsevier, 2012.
4. OBSERVAPED. Hidrocele. Publicado em 1 de junho de 2022.
5. CEZARINO, B. Hidrocele em Criança: O Que é e Como Tratar? Publicado em [data de publicação, se disponível].
6. EUROPEAN ASSOCIATION OF UROLOGY. Guidelines on Paediatric Urology. 2023.
Tratamento
1. Checklist da Consulta de Seguimento
Este checklist destina-se a orientar a avaliação de uma criança com diagnóstico de hidrocele em acompanhamento ambulatorial.
Anamnese Dirigida:
[ ] Questionar sobre variações no volume da bolsa escrotal ao longo do dia (sugestivo de hidrocele comunicante).
[ ] Perguntar sobre a presença de dor, irritabilidade ou recusa alimentar (sinais de alerta para complicações).
[ ] Investigar episódios de vômitos, distensão abdominal ou choro inconsolável (sugestivo de hérnia encarcerada).
Exame Físico:
[ ] Inspeção: Avaliar o volume, simetria e aspecto da pele da bolsa escrotal.
[ ] Palpação:
- [ ] Confirmar a consistência cística e indolor da tumefação.
- [ ] Tentar palpar ambos os testículos, verificando se estão normais e tópicos dentro da bolsa escrotal.
- [ ] Avaliar a redutibilidade da tumefação (se redutível, o diagnóstico é hérnia inguinal).
[ ] Transiluminação: Realizar o teste com uma fonte de luz para confirmar o conteúdo líquido (transiluminação positiva).
[ ] Avaliação da Região Inguinal: Palpar o trajeto do canal inguinal para investigar a presença de hérnia associada.
2. Orientações para a Família
Explicação da Condição: Esclarecer que a hidrocele é um acúmulo de líquido na bolsa escrotal, muito comum em bebês, e que não é grave.
Natureza Benigna: Reforçar que a condição é geralmente indolor, não prejudica o testículo, não afeta a fertilidade futura e, na grande maioria dos casos, desaparece sozinha.
Evolução Esperada: Informar que a resolução espontânea costuma ocorrer até os 18 a 24 meses de idade.
Higiene: Manter os cuidados de higiene habituais da região genital.
Não Manipular: Orientar a não apertar, esvaziar ou manipular a hidrocele, pois isso não resolve o problema e pode causar lesões.
3. Sinais de Alerta para Retorno Imediato
A família deve ser orientada a procurar atendimento médico de urgência se a criança apresentar qualquer um dos seguintes sinais, que podem indicar uma complicação como hérnia encarcerada:
[ ] Aumento súbito e doloroso do volume na região escrotal ou inguinal.
[ ] Irritabilidade intensa e choro inconsolável.
[ ] Vômitos, especialmente se forem esverdeados (biliosos).
[ ] Distensão abdominal ou recusa alimentar.
[ ] Alteração na coloração da bolsa escrotal (vermelhidão ou arroxeado).
4. Critérios para Encaminhamento ao Cirurgião Pediátrico
O encaminhamento para avaliação cirúrgica deve ser considerado nas seguintes situações:
[ ] Persistência da hidrocele após a idade de 18 a 24 meses.
[ ] Suspeita clínica clara de hérnia inguinal associada (conteúdo redutível ou abaulamento que se estende à região inguinal).
[ ] Aumento progressivo do volume que cause desconforto evidente à criança ou tensão na pele escrotal.
[ ] Dúvida diagnóstica que persiste mesmo após acompanhamento clínico.
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