Dermatite de contato
Resumo
Definição e relevância clínica
Dermatite de contato é uma inflamação cutânea provocada pelo contato direto com irritantes (forma irritativa) ou alérgenos (forma alérgica, hipersensibilidade tipo IV). Na população pediátrica brasileira a prevalência gira em torno de 15 – 20 %, com maior incidência em pré-escolares e escolares. O reconhecimento precoce evita prurido crônico, absenteísmo escolar e sensibilização permanente.
Fisiopatologia em foco
Irritativa (≈ 80 %) – dano direto à barreira epidé
Categoria
Dermatologia > Dermatites e Eczemas > Dermatite de contato
Conduta Completa
Definição e relevância clínica
Dermatite de contato é uma inflamação cutânea provocada pelo contato direto com irritantes (forma irritativa) ou alérgenos (forma alérgica, hipersensibilidade tipo IV). Na população pediátrica brasileira a prevalência gira em torno de 15 – 20 %, com maior incidência em pré-escolares e escolares. O reconhecimento precoce evita prurido crônico, absenteísmo escolar e sensibilização permanente.
Fisiopatologia em foco
Irritativa (≈ 80 %) – dano direto à barreira epidérmica → liberação de IL-1α, TNF-α → inflamação imediata proporcional à concentração do agente.
Alérgica (≈ 20 %) – fase de sensibilização (células de Langerhans + linfócitos T) seguida de elicitação em exposições subsequentes; manifestação 24-72 h após contato, geralmente com prurido intenso.
Classificação prática de gravidade
Leve – eritema discreto, descamação fina, prurido leve; área limitada.
Moderada – eritema vívido, vesículas/pápulas, prurido moderado, possível interferência no sono.
Grave – edema marcado, bolhas, exsudação, fissuras ou > 20 % da superfície corporal; impacto funcional importante ou infecção secundária.
Agentes pediátricos mais comuns
Lactentes – urina/fezes (dermatite de fraldas), fragrâncias e conservantes de lenços umedecidos, lanolina.
Pré-escolares – látex de balões, plantas (Copaifera, Euphorbia, primula), detergentes.
Escolares/Adolescentes – níquel (bijuterias, botões de calça), colas e tintas escolares, borracha de calçados, cosméticos.
Fármacos tópicos – neomicina, bacitracina, anestésicos locais.
Diagnóstico
Predominantemente clínico: lesão eczematosa onde houve contato, início temporal coerente, melhora após afastamento do agente.
Quando a história é obscura ou o quadro é crônico/refratário, solicitar teste de contato (painel pediátrico ou “patch test” padronizado) – leitura em 48 h e 96 h.
Diagnósticos diferenciais chave: dermatite atópica (distribuição flexural), escabiose (prurido noturno, sulcos), candidíase de fralda (pápulas satélites), psoríase infantil (placas bem delimitadas).
Manejo passo a passo
1. Identificar e retirar o agente
Lavar imediatamente a área com água morna + sabão neutro; roupas/objetos devem ser trocados ou higienizados.
2. Fase aguda (até 7 dias)
Corticoide tópico de potência adequada 1–2×/dia.
Compressa fria ou solução de permanganato 1 : 10 000, 15 min, 2×/dia se houver exsudação.
Anti-histamínico oral sedativo à noite se prurido perturbar o sono.
3. Fase subaguda/crônica
Reduzir o corticoide; iniciar emoliente sem fragrância 3×/dia.
Orientar evitar sabonetes perfumados, amaciantes e lenços com álcool.
4. Indicações de terapia sistêmica
Lesão extensa (> 20 % SC), falha após 7–10 dias de tratamento tópico otimizado ou complicação infecciosa.
Prednisolona 1 mg/kg/dia VO por 7 dias (desmame em 3–5 dias).
5. Prevenção de recidivas
Diário de produtos e atividades; substituir por itens hipoalergênicos.
Uso contínuo de emoliente e proteção de barreira (luvas de algodão, roupas de manga longa em contato com plantas ou químicos).
Aconselhar família sobre leitura de rótulos e reações cruzadas (ex.: níquel em bijuteria e botões de jeans).
Quando encaminhar
Dermatite recorrente apesar de tratamento correto.
Necessidade de teste de contato especializado.
Suspeita de imunodeficiência ou eritrodermia.
Referências
1. SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA. Consenso Brasileiro de Dermatite de Contato. Rio de Janeiro: SBD, 2024.
2. AMERICAN ACADEMY OF DERMATOLOGY. Guidelines of care for the management of contact dermatitis. Journal of the American Academy of Dermatology, Chicago, 2024.
3. EUROPEAN SOCIETY OF CONTACT DERMATITIS. Pediatric contact dermatitis recommendations. Contact Dermatitis, Berlim, 2024.
4. INTERNATIONAL CONTACT DERMATITIS RESEARCH GROUP. Patch testing: principles and practice. Londres, 2024.
5. WORLD ALLERGY ORGANIZATION. Contact dermatitis management update*. Milwaukee, 2024.
Tratamento
Abordagem ambulatorial rápida
1. Remoção do agente
Lavar área × 15 min com água morna + sabonete neutro; trocar roupas/objetos.
2. Corticosteroide tópico (escolha um)
Face/dobras/lactentes – Hidrocortisona 1 % creme, fina camada 2×/dia, 7 dias.
Tronco/membros – Mometasona 0,1 % creme, 1×/dia, 10 dias.
Lesão liquenificada/palma‑planta – Clobetasol 0,05 % pomada, 1×/dia, máx. 14 dias.
> Aplicar o medicamento, esperar 30 min e então hidratar com vaselina branca ou creme com ceramidas.
3. Anti‑histamínico oral (se prurido)
Noturno – Hidroxizina 0,5 mg/kg VO 6/6 h, máx. 100 mg/dia.
Diurno – Loratadina 5 mg VO 1×/dia (< 6 a) ou 10 mg (≥ 6 a).
4. Compressa úmida (lesão exsudativa)
Soro fisiológico gelado 15 min, 2×/dia por 3 dias.
5. Infecção secundária (impetigo)
Lesão limitada – Mupirocina 2 % pomada 3×/dia, 7 dias.
Disseminada – Cefalexina 40 mg/kg/dia VO 8/8 h, 7 dias.
6. Orientações essenciais ao responsável
Identificar produto ou hábito implicado; suspender por completo.
Manter unhas curtas, evitar coçar; luvas finas de algodão para dormir se necessário.
Retorno em 3–5 dias: avaliar diminuição do eritema e prurido.
Procurar serviço se: febre, dor intensa, pústulas, extensão rápida.
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Prescrição hospitalar (quando indicada)
Critérios – área > 20 % SC, edema facial importante, eritrodermia, falha VO ou infecção grave.
1. Metilprednisolona EV 1 mg/kg/dose 12/12 h durante 48 h → transição para prednisolona VO 1 mg/kg/dia, completar 7 dias.
2. Clindamicina EV 25 mg/kg/dia 8/8 h se celulite ou suspeita de MRSA.
3. Cuidados locais – compressa de permanganato 1 : 10 000 20 min 2×/dia; vaselina estéril nas áreas secas.
4. Hidratação venosa conforme perdas; monitorar eletrólitos.
5. Alta quando eritema reduzir ≥ 50 %, afebril 24 h, tolerando VO, família capacitada para continuidade domiciliar.
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Prevenção de recorrência (orientar na alta/consulta)
Substituir cosméticos e produtos de limpeza por versões hipoalergênicas sem fragrância ou conservantes agressivos.
Em atividades artísticas, usar luvas de algodão sob luvas de vinil; lavar mãos apenas com syndet.
Adolescentes com alergia a níquel: bijuterias “nickel‑free”, fita isolante transparente no verso de botões/metais de roupa.
Revisão dermatológica em 2 – 4 semanas; repetir “patch test” se quadro persistir ou novos alérgenos suspeitos surgirem.
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