Dermatite seborreica
Resumo
1. Definição e Contexto Clínico
Dermatite seborreica (DS) é uma dermatose inflamatória crônica caracterizada por eritema e descamação oleosa amarelada em áreas de alta densidade de glândulas sebáceas (couro cabeludo, face, parte superior do tronco e dobras). Tem dois picos de incidência: lactentes nos primeiros 12 meses (crosta láctea) e adolescentes, podendo persistir na vida adulta. Embora benigna, provoca desconforto estético e preocupação familiar; formas extensas podem complicar‑se com infe
Categoria
Dermatologia > Dermatites e Eczemas > Dermatite seborreica
Conduta Completa
1. Definição e Contexto Clínico
Dermatite seborreica (DS) é uma dermatose inflamatória crônica caracterizada por eritema e descamação oleosa amarelada em áreas de alta densidade de glândulas sebáceas (couro cabeludo, face, parte superior do tronco e dobras). Tem dois picos de incidência: lactentes nos primeiros 12 meses (crosta láctea) e adolescentes, podendo persistir na vida adulta. Embora benigna, provoca desconforto estético e preocupação familiar; formas extensas podem complicar‑se com infecção secundária.
2. Fisiopatologia Essencial
Produção sebácea aumentada (hormônios maternos em lactentes; androgênios na puberdade).
Proliferação da levedura lipofílica Malassezia — metaboliza triglicerídeos em ácidos graxos irritantes.
Resposta inflamatória individual: fatores genéticos, imunológicos e ambientais (clima quente‑úmido, oclusão, estresse).
3. Manifestações Clínicas
Lactente
placas espessas oleosas no couro cabeludo (“crosta láctea”), eritema/descamação em sobrancelhas, sulcos nasogenianos e, às vezes, região de fraldas (diferencial: dobra preservada). Geralmente sem prurido.
Adolescente
“caspa” (descamação fina) + eritema em couro cabeludo; lesões seborreicas em sobrancelhas, cantos do nariz, conduto auditivo e tórax superior. Prurido leve‑moderado.
Formas especiais
blefarite seborreica (pálpebras), otite externa seborreica, DS eritrodérmica em imunossuprimidos.
4. Diagnóstico
Clínico: topografia típica, descamação gordurosa e curso recidivante. Solicitar raspado micológico ou biópsia apenas se dúvida diagnóstica (tinea capitis, psoríase, lúpus, dermatite de contato).
5. Manejo Terapêutico
5.1 Princípios Gerais
Educar família: doença não contagiosa, tende a recidivar; objetivo é controle, não cura definitiva.
Higiene: lavagem regular do couro cabeludo/áreas acometidas com água morna e shampoo suave; evitar óleos vegetais espessos.
Primeira linha sempre tópica (antifúngico ± anti‑inflamatório).
5.2 Tratamento por Faixa Etária
Lactentes
Remoção de crostas — óleo mineral ou vaselina líquida 15 min antes do banho; escovar delicadamente.
Shampoo medicamentoso — cetoconazol 2 % 2×/semana, deixar 3 – 5 min e enxaguar; duração 2 – 4 semanas.
Antifúngico creme — cetoconazol 2 % 1×/dia em sobrancelhas/face por 14 dias.
Hidrocortisona 1 % (creme) 1×/dia por até 7 dias se eritema intenso.
Pré‑adolescentes / Adolescentes
Shampoo anticaspa (rotacionar a cada 4 semanas):
cetoconazol 2 % 2 – 3×/sem.
sulfeto de selênio 2,5 % 2×/sem.
piritionato de zinco 1 % uso diário ou 3×/sem.
Ciclopirox 1 % ou cetoconazol 2 % creme 1–2×/dia em lesões faciais/torácicas, até clarear.
Hidrocortisona 1 % (face) ou mometasona 0,1 % (tronco) 1×/dia, máximo 14 dias, apenas nas crises.
Tacrolimo 0,03 % (pediátrico) 2×/semana para manutenção facial, se recidivas frequentes.
5.3 Manutenção e Prevenção de Recidivas
Shampoo medicamentoso 1×/semana após controle.
Evitar produtos cosméticos oleosos; usar roupas de algodão; controlar calor/umidade.
Identificar fatores desencadeantes (estresse, privação de sono, variáveis hormonais).
5.4 Quando Escalar Tratamento ou Encaminhar
Falha após 6 – 8 semanas de terapêutica tópica correta.
Eritrodermia seborreica, imunossuprimidos, suspeita de psoríase ou tinea capitis.
Necessidade de antifúngico sistêmico (ex.: fluconazol 3 – 6 mg/kg/dia VO, 14 dias) ou corticoterapia oral curta em eritrodermia.
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Referências
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA. Consenso Brasileiro de Dermatite Seborreica. Rio de Janeiro, 2024.
AMERICAN ACADEMY OF DERMATOLOGY. Guidelines of care for seborrheic dermatitis. Chicago, 2024.
EUROPEAN SOCIETY OF PEDIATRIC DERMATOLOGY. Infantile seborrheic dermatitis: management recommendations. Paris, 2024.
INTERNATIONAL SOCIETY OF DERMATOLOGY. Malassezia‑associated dermatoses: update 2024. Londres, 2024.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Dermatoses comuns na infância: manual prático*. Genebra, 2024.l
Tratamento
1. Lactente (0 – 12 meses)
Óleo mineral / vaselina líquida — aplicar no couro cabeludo 15 min antes do banho, 1×/dia, 5 dias.
Shampoo cetoconazol 2 % — 2×/semana, massagear, aguardar 5 min, enxaguar, por 4 semanas.
Cetoconazol creme 2 % — camada fina nas sobrancelhas/face 1×/dia, 14 dias.
Se eritema acentuado: Hidrocortisona 1 % creme — 1×/dia, máx. 7 dias.
2. Criança maior / Adolescente
Fase de ataque (4 semanas)
Shampoo cetoconazol 2 % 3×/semana.
Shampoo sulfeto de selênio 2,5 % 2×/semana (dias alternados).
Ciclopirox 1 % creme — face/tórax 2×/dia, até clarear.
Hidrocortisona 1 % creme — face 1×/dia, 10 dias se eritema intenso.
Manutenção
Shampoo piritionato de zinco 1 % 1×/semana.
Tacrolimo 0,03 % pomada — face 2×/semana, por 3 meses, se recidiva frequente.
Prurido significativo: Loratadina 5 mg (< 6 a) ou 10 mg (> 6 a) VO, 1×/dia, enquanto necessário.
3. Situações especiais
Blefarite seborreica — compressa morna + limpeza palpebral; ciclopirox 1 % 2×/dia, 10 dias.
DS extensa imunossuprimido — adicionar Fluconazol 3 mg/kg/dia VO, 14 dias; monitorar enzimas hepáticas.
Eritrodermia seborreica — Prednisolona 1 mg/kg/dia VO, 5 dias (desmame em mais 5 dias); encaminhar.
4. Orientações ao responsável
Lavar couro cabeludo regularmente; não usar óleos vegetais espessos.
Shampoo medicamentoso: deixar agir 3 – 5 min antes de enxaguar.
Manter unhas curtas; evitar coçar para prevenir impetigo.
Sinais de alerta para retorno rápido: pus, crostas melicéricas, febre ou piora após 4 semanas de uso correto.
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