Pitiríase Alba
Resumo
1. Definição e Fisiopatologia
A Pitiríase Alba é uma dermatose benigna, comum e autolimitada, caracterizada por máculas hipopigmentadas, arredondadas ou ovais, com descamação fina, que acomete predominantemente a face, o pescoço e os membros superiores de crianças e adolescentes. É considerada uma manifestação menor de dermatite atópica ou uma forma de eczema de baixo grau, representando uma hipopigmentação pós-inflamatória.
Fisiopatologia: A condição resulta de uma inflamação subclínica na epi
Categoria
Dermatologia > Distúrbios da Pigmentação > Pitiríase Alba
Conduta Completa
1. Definição e Fisiopatologia
A Pitiríase Alba é uma dermatose benigna, comum e autolimitada, caracterizada por máculas hipopigmentadas, arredondadas ou ovais, com descamação fina, que acomete predominantemente a face, o pescoço e os membros superiores de crianças e adolescentes. É considerada uma manifestação menor de dermatite atópica ou uma forma de eczema de baixo grau, representando uma hipopigmentação pós-inflamatória.
Fisiopatologia: A condição resulta de uma inflamação subclínica na epiderme. Este processo inflamatório leve interfere na função dos melanócitos, diminuindo a produção de melanina e, principalmente, a transferência dos melanossomas para os queratinócitos circundantes. Diferentemente do vitiligo, não há destruição de melanócitos, o que garante o potencial de repigmentação completa. Fatores como a barreira cutânea deficiente (típica da atopia), o ressecamento da pele (xerose) e a exposição solar contribuem para o surgimento e a visibilidade das lesões.
2. Epidemiologia e Fatores de Risco
Prevalência: Afeta de 2 a 5% da população pediátrica, podendo chegar a 30-40% em crianças com dermatite atópica.
Faixa Etária: Pico de incidência entre 3 e 16 anos.
Fatores de Risco: História pessoal ou familiar de atopia (dermatite atópica, asma, rinite), pele seca (xerose), exposição solar intensa sem fotoproteção adequada e uso de sabonetes agressivos.
3. Avaliação Clínica e Diagnóstico
O diagnóstico é eminentemente clínico.
Manifestações Clínicas:
Lesão Elementar: Mácula ou placa hipopigmentada (não acrômica), de bordas mal definidas, com tamanho variando de 0,5 a 5 cm. A superfície é tipicamente coberta por uma descamação fina e furfurácea.
Localização: Face (bochechas, região perioral, testa) é o local mais comum. Também ocorre em pescoço, ombros e braços.
Sintomas: Geralmente assintomática. Prurido leve pode estar presente, indicando um componente eczematoso mais ativo.
Diagnóstico Diferencial: O principal desafio é diferenciar a pitiríase alba do vitiligo.
Vitiligo: As máculas são acrômicas (branco-nacarado), com bordas bem definidas, sem descamação, e podem apresentar fenômeno de Koebner.
Tínea Versicolor: Causada por Malassezia furfur. As lesões são confluentes, com descamação fina que se acentua ao estiramento da pele (sinal de Zileri). O exame micológico direto (KOH) é positivo.
Hipopigmentação Pós-inflamatória: Ocorre após uma dermatose inflamatória prévia bem definida (ex: eczema, psoríase).
Nevus Depigmentosus: Lesão hipocrômica congênita, estável ao longo da vida.
Exames Complementares: Raramente necessários.
Lâmpada de Wood: Pode ajudar a acentuar o contraste da hipopigmentação, mas não mostra a fluorescência branco-brilhante característica do vitiligo.
Exame Micológico Direto (KOH): Indicado se houver suspeita de tínea versicolor; será negativo na pitiríase alba.
Biópsia Cutânea: Reservada para casos de dúvida diagnóstica persistente.
4. Manejo e Tratamento
A abordagem deve focar em três pilares: educação, hidratação/fotoproteção e controle da inflamação.
Conduta Expectante vs. Tratamento Ativo:
A observação ativa é uma conduta válida, pois a condição é benigna e autolimitada. A decisão de tratar deve considerar o impacto estético e a ansiedade familiar.
Pilares do Tratamento:
1. Hidratação e Fotoproteção: São as medidas mais importantes. A hidratação restaura a barreira cutânea e a fotoproteção diminui o contraste entre a pele sã (que bronzeia) e a lesão (que não bronzeia).
2. Terapia Anti-inflamatória Tópica: Usada para controlar a inflamação subclínica e acelerar a repigmentação.
Corticosteroides de Baixa Potência: São a primeira linha para o tratamento farmacológico.
Inibidores de Calcineurina (Tacrolimus, Pimecrolimus): Excelente alternativa, especialmente para a face, pois não causam atrofia cutânea e podem ser usados por períodos mais longos.
5. Prognóstico
O prognóstico é excelente. A repigmentação completa é a regra, embora o processo possa ser lento, durando de meses a anos. A manutenção dos cuidados com a pele (hidratação e fotoproteção) é a melhor estratégia para acelerar a melhora e prevenir recidivas.
Referências Bibliográficas
1. Janniger, C. K., & Schwartz, R. A. (2022). Pityriasis alba. In StatPearls. StatPearls Publishing.
2. Sociedade Brasileira de Dermatologia. (2024). Consenso Brasileiro de Discromias na Infância.
3. Givler, D. N., & Basit, H. (2023). Pityriasis Alba. In StatPearls. StatPearls Publishing.
4. Blessmann, W. B., et al. (2017). Pityriasis alba: a study of 201 children. Anais Brasileiros de Dermatologia, 92(6), 803–806.
5. In, S. I., & Lee, S. E. (2018). Pityriasis Alba. In Sauer's Manual of Skin Diseases (11th ed.). Lippincott Williams & Wilkins.
6. Silverberg, N. B. (2015). Update on childhood vitiligo. Current Opinion in Pediatrics, 27*(4), 446-452.
Tratamento
1. Orientações Gerais ao Prescritor
A base do tratamento é tranquilizar a família, explicar a natureza benigna e autolimitada da doença, e prescrever uma rotina de cuidados com a pele focada em hidratação e fotoproteção.
O tratamento farmacológico é adjuvante e visa acelerar a repigmentação. A escolha do agente depende da localização e da presença de inflamação.
2. Prescrição de Cuidados Básicos (Para Todos os Pacientes)
Hidratação Cutânea:
Prescrição:
1. Loção hidratante à base de ceramidas (ex: CeraVe Loção Hidratante®, Cetaphil Pro AD Restoraderm®).
2. Modo de Usar: Aplicar uma camada generosa no rosto e nas áreas afetadas, 2 a 3 vezes ao dia, preferencialmente sobre a pele ainda úmida após o banho.
Fotoproteção:
Prescrição:
1. Protetor solar pediátrico com FPS ≥ 50, de amplo espectro (UVA/UVB), preferencialmente com filtros físicos (óxido de zinco, dióxido de titânio).
2. Modo de Usar: Aplicar no rosto e áreas expostas todas as manhãs, 30 minutos antes de sair de casa. Reaplicar a cada 2 horas durante exposição solar contínua.
Higiene:
1. Orientar banhos rápidos, com água morna (não quente), e o uso de sabonetes suaves, sem detergente (syndet) ou sabonetes líquidos infantis com pH neutro.
3. Prescrição de Terapia Anti-inflamatória Tópica
Primeira Linha (Corticosteroide de Baixa Potência):
Indicação: Lesões com eritema ou descamação mais evidente.
Prescrição:
1. Hidrocortisona 1% creme.
2. Modo de Usar: Aplicar uma fina camada exclusivamente sobre as manchas, 2 vezes ao dia.
3. Duração: 14 a 21 dias. Suspender após este período e manter apenas a hidratação e fotoproteção.
Alternativa para a Face (Inibidores de Calcineurina - Uso off-label):
Indicação: Lesões faciais persistentes ou em pacientes com contraindicação ao uso de corticoides.
Prescrição (para crianças > 2 anos):
1. Pimecrolimus 1% creme (ex: Elidel®) ou Tacrolimus 0,03% pomada (ex: Tarfic®).
2. Modo de Usar: Aplicar uma fina camada exclusivamente sobre as manchas, 2 vezes ao dia.
3. Duração: Manter até a repigmentação satisfatória, o que pode levar de 2 a 3 meses.
Orientação: Pode ocorrer uma sensação de ardor leve nos primeiros dias de uso, que tende a desaparecer. O uso de protetor solar é obrigatório durante o tratamento.
4. Orientações para a Família e Sinais de Alerta
1. Natureza da Condição: "Esta é uma condição de pele muito comum em crianças, chamada Pitiríase Alba. É uma forma de pele seca e sensível, não é contagiosa, não é uma micose e não é vitiligo. A cor da pele voltará ao normal com o tempo."
2. Tratamento: "O tratamento mais importante é usar o hidratante e o protetor solar todos os dias, rigorosamente. O creme anti-inflamatório ajuda a acelerar a melhora."
3. Prognóstico: "A melhora é lenta e gradual. Pode levar muitos meses ou até 1-2 anos para que as manchas desapareçam completamente. A paciência é fundamental."
4. Sinais de Alerta para Retorno:
Se as manchas ficarem muito vermelhas, inchadas ou com secreção (sinal de infecção).
Se o prurido se tornar intenso.
Se novas manchas continuarem a aparecer em grande número, apesar dos cuidados.
* Se uma mancha se tornar completamente branca, sem nenhuma cor.
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