Candidíase Cutânea
Resumo
1. Definição e Fisiopatologia
A Candidíase Cutânea é uma infecção fúngica superficial causada por leveduras do gênero Candida, principalmente a Candida albicans. É uma das dermatoses mais comuns na infância, especialmente em lactentes, manifestando-se como uma infecção oportunista em áreas de dobras cutâneas quentes e úmidas.
Fisiopatologia
A Candida spp. é um comensal normal da pele e mucosas. A doença ocorre quando há uma quebra no equilíbrio da microbiota local, permitindo a proliferação da
Categoria
Dermatologia > Infecções Cutâneas > Candidíase Cutânea
Conduta Completa
1. Definição e Fisiopatologia
A Candidíase Cutânea é uma infecção fúngica superficial causada por leveduras do gênero Candida, principalmente a Candida albicans. É uma das dermatoses mais comuns na infância, especialmente em lactentes, manifestando-se como uma infecção oportunista em áreas de dobras cutâneas quentes e úmidas.
Fisiopatologia
A Candida spp. é um comensal normal da pele e mucosas. A doença ocorre quando há uma quebra no equilíbrio da microbiota local, permitindo a proliferação da levedura. Fatores como umidade excessiva, maceração, oclusão (pelo uso de fraldas), alteração do pH da pele e comprometimento da barreira cutânea são cruciais. A Candida então passa de sua forma de levedura para a forma de pseudo-hifas, que é invasiva e, através da produção de enzimas como proteases e fosfolipases, causa a inflamação e as lesões características da epiderme.
2. Etiologia e Fatores de Risco
Agente Etiológico: Candida albicans é responsável por 80-90% dos casos. Outras espécies como C. parapsilosis e C. tropicalis podem ser encontradas, especialmente em ambientes hospitalares ou em pacientes imunocomprometidos.
Fatores Predisponentes:
Locais: Umidade e calor (dobras cutâneas), oclusão por fraldas, higiene inadequada, dermatite de fraldas irritativa preexistente.
Sistêmicos: Uso recente de antibióticos de amplo espectro (principal fator em lactentes saudáveis), uso de corticosteroides (tópicos ou sistêmicos), imunodeficiências (congênitas ou adquiridas) e diabetes mellitus.
3. Avaliação Clínica e Diagnóstico
O diagnóstico é primariamente clínico, baseado na morfologia e distribuição das lesões.
Manifestações Clínicas:
Candidíase de Fraldas: É a apresentação mais comum. Caracteriza-se por um eritema intenso, vermelho-vivo e brilhante, que classicamente acomete as dobras inguinais e genitais (diferencial importante com a dermatite irritativa, que poupa as dobras). O achado patognomônico é a presença de lesões satélites, que são pápulas ou pústulas eritematosas localizadas na periferia da placa principal.
Candidíase Intertriginosa: Afeta outras dobras, como axilas, pescoço (em lactentes) e espaços interdigitais. Apresenta-se como placas eritematosas, maceradas, com fissuras no fundo da dobra e as mesmas lesões satélites.
Candidíase Perianal e Genital: Eritema bem delimitado ao redor do ânus ou na genitália, frequentemente associado à candidíase de fraldas ou intestinal.
Diagnóstico Laboratorial:
Geralmente não é necessário em casos típicos.
Exame Micológico Direto (EMD) com KOH 10%: É o método de confirmação de escolha em casos duvidosos. A coleta é feita por raspagem da borda da lesão ou do teto de uma pústula e revela a presença de leveduras e pseudo-hifas.
Cultura para Fungos (Meio Sabouraud): Reservada para casos refratários ao tratamento ou para identificação da espécie em pacientes imunocomprometidos.
Diagnóstico Diferencial:
Dermatite de Fraldas Irritativa: Poupa as dobras.
Dermatite Seborreica: Lesões amareladas e gordurosas, sem lesões satélites.
Psoríase Inversa: Placas bem delimitadas e brilhantes nas dobras, sem pústulas satélites.
Tinea Cruris: Infecção por dermatófitos, rara em lactentes, com bordas ativas e elevadas.
4. Manejo e Tratamento
O tratamento visa a erradicação do fungo, o alívio dos sintomas e, crucialmente, a correção dos fatores predisponentes.
Medidas Gerais e Cuidados Locais:
Controle da Umidade: É o pilar do tratamento e da prevenção. Manter as áreas afetadas limpas e, principalmente, secas.
Higiene: Banhos com sabonetes neutros, secagem cuidadosa sem fricção.
Cuidados com Fraldas: Trocas frequentes (a cada 2-3 horas), períodos "sem fralda" para arejar a pele, e uso de cremes de barreira (à base de óxido de zinco) para proteger a pele da umidade e do contato com urina e fezes.
Tratamento Tópico (Primeira Linha):
É o tratamento de escolha para a candidíase cutânea não complicada.
Antifúngicos Azólicos: Clotrimazol, Miconazol ou Cetoconazol em creme são altamente eficazes.
Antifúngicos Polienos: Nistatina em creme ou pomada é uma opção segura e eficaz, especialmente para lactentes.
O tratamento deve ser mantido por 1 a 2 semanas após a resolução clínica para prevenir recidivas.
Tratamento Sistêmico:
Indicações: Reservado para casos de doença extensa, refratária ao tratamento tópico, em pacientes imunocomprometidos ou com candidíase mucocutânea crônica.
Droga de Escolha: Fluconazol oral é o medicamento de primeira linha, com excelente perfil de segurança e eficácia em pediatria.
Referências Bibliográficas
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Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). (2022). Dermatite da Área das Fraldas. Documento Científico.
American Academy of Dermatology Association. (2023). Diaper Rash: How to Treat.
Kliegman, R. M., et al. (Eds.). (2020). Nelson Textbook of Pediatrics (21st ed.). Elsevier.
Cohen, B. A. (2022). Pediatric Dermatology (5th ed.). Elsevier.
Hay, R. J. (2017). Therapy of skin, hair and nail fungal infections. Journal of Fungi, 3*(4), 54.
Tratamento
1. Orientações Gerais ao Prescritor
O tratamento da candidíase cutânea deve sempre combinar a terapia antifúngica com medidas rigorosas de controle da umidade e higiene.
A terapia tópica é a primeira linha para a maioria dos casos.
A educação familiar sobre os cuidados locais e a prevenção de recidivas é fundamental para o sucesso do tratamento.
2. Prescrição para Candidíase de Fraldas
Cuidados Locais (Obrigatórios):
1. Higiene: Realizar a limpeza da área das fraldas com algodão e água morna a cada troca. Evitar lenços umedecidos com álcool ou perfume.
2. Secagem: Secar a pele completamente, com toques suaves, sem esfregar.
3. Trocas de Fralda: Aumentar a frequência das trocas (a cada 2-3 horas ou sempre que estiver suja).
4. Períodos "Sem Fralda": Deixar a criança sem fralda por alguns períodos durante o dia para arejar a pele.
Tratamento Tópico (escolher uma opção):
### Prescrição (Opção 1 - Azólico):
1. Clotrimazol 1% creme.
2. Modo de Usar: Aplicar uma fina camada sobre toda a área avermelhada, incluindo as dobras e as lesões satélites, 2 vezes ao dia (manhã e noite).
3. Duração: Manter o tratamento por 14 dias, ou por pelo menos 7 dias após o desaparecimento completo das lesões.
### Prescrição (Opção 2 - Polieno):
1. Nistatina 100.000 UI/g creme ou pomada.
2. Modo de Usar: Aplicar uma fina camada sobre a área afetada a cada troca de fraldas (3 a 4 vezes ao dia).
3. Duração: 14 dias.
Creme de Barreira (associar ao antifúngico):
1. Pasta d'água com Óxido de Zinco a 20-40%.
2. Modo de Usar: Aplicar uma camada espessa por cima do creme antifúngico, em todas as trocas de fralda, para proteger a pele do contato com urina e fezes.
3. Prescrição para Candidíase Intertriginosa (Dobras)
1. Miconazol 2% creme.
Modo de Usar: Aplicar uma fina camada na dobra afetada, 2 vezes ao dia, após a higiene e secagem cuidadosa da área.
Duração: 2 a 4 semanas.
2. Associar: Miconazol 2% em pó.
Modo de Usar: Polvilhar uma pequena quantidade na dobra após a aplicação do creme, para ajudar a manter a área seca.
4. Prescrição para Tratamento Sistêmico
Indicação: Casos extensos, refratários, ou em pacientes imunocomprometidos.
Prescrição (Primeira Linha):
1. Fluconazol, suspensão oral 50mg/5mL.
2. Dose: Prescrever na dose de 3 a 6 mg/kg/dia, por via oral, em dose única diária.
3. Duração: 7 a 14 dias.
4. Orientação: Pode ser administrado com ou sem alimentos.
5. Prescrição para Complicações (Infecção Secundária)
Indicação: Lesões com pústulas, secreção purulenta ou crostas melicéricas.
Prescrição:
1. Mupirocina 2% pomada.
2. Modo de Usar: Aplicar uma fina camada sobre as lesões infectadas, 3 vezes ao dia, por 7 dias.
3. Orientação: Aplicar o creme antifúngico nas outras áreas e o creme de barreira por cima de tudo.
6. Orientações para a Família
1. Aderência: É fundamental aplicar o creme antifúngico por todo o período prescrito, mesmo que as lesões melhorem antes, para evitar que a infecção retorne.
2. Higiene é Chave: Manter a pele sempre limpa e, o mais importante, bem seca. A umidade é o principal fator que alimenta o fungo.
3. Sinais de Alerta para Retorno:
Se não houver nenhuma melhora após 7 dias de tratamento.
Se a vermelhidão e as bolinhas se espalharem para fora da área tratada.
* Se a criança apresentar febre ou parecer mais prostrada.
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