Foliculite
Resumo
1. Definição e Fisiopatologia
A Foliculite é a inflamação de um ou mais folículos pilosos, que pode ser infecciosa ou não infecciosa. A forma mais comum na prática pediátrica é a infecciosa, manifestando-se como pápulas ou pústulas eritematosas centradas por um pelo. É uma das piodermites mais prevalentes, especialmente em adolescentes.
Fisiopatologia
A condição se inicia com um dano ao folículo piloso, seja por fricção, oclusão ou maceração, que permite a invasão de microrganismos. O patógeno
Categoria
Dermatologia > Infecções Cutâneas > Foliculite
Conduta Completa
1. Definição e Fisiopatologia
A Foliculite é a inflamação de um ou mais folículos pilosos, que pode ser infecciosa ou não infecciosa. A forma mais comum na prática pediátrica é a infecciosa, manifestando-se como pápulas ou pústulas eritematosas centradas por um pelo. É uma das piodermites mais prevalentes, especialmente em adolescentes.
Fisiopatologia
A condição se inicia com um dano ao folículo piloso, seja por fricção, oclusão ou maceração, que permite a invasão de microrganismos. O patógeno mais comum, Staphylococcus aureus, coloniza a porção superficial do folículo (óstio) e prolifera, desencadeando uma resposta inflamatória neutrofílica que resulta na pústula característica. A infecção pode ser superficial (limitada ao infundíbulo folicular) ou profunda, envolvendo todo o folículo e o tecido adjacente.
Classificação
Superficial: Atinge a parte superior do folículo. Inclui o impetigo de Bockhart (estafilocócico), foliculite por Pseudomonas ("da banheira quente") e foliculite por Malassezia**.
Profunda: A inflamação se estende mais profundamente, resultando em lesões mais dolorosas e com maior potencial cicatricial. Inclui o furúnculo (nódulo inflamatório de um folículo) e o carbúnculo (confluência de múltiplos furúnculos).
2. Etiologia e Fatores de Risco
Agentes Etiológicos:
Staphylococcus aureus: É o principal agente em mais de 80% dos casos. A presença de cepas de S. aureus resistente à meticilina (MRSA) da comunidade deve ser considerada.
Pseudomonas aeruginosa: Associada à "foliculite da banheira quente", por exposição a água contaminada e mal clorada.
Malassezia spp. (anteriormente Pityrosporum): Uma levedura comensal que causa a foliculite pitirospórica, comum no tronco de adolescentes com pele oleosa.
Bacilos Gram-negativos: Podem ocorrer em pacientes em uso prolongado de antibióticos para acne.
Fatores Predisponentes:
Oclusão e Fricção: Roupas apertadas, equipamentos esportivos, barbear/depilação.
Umidade: Sudorese excessiva, ambientes quentes.
Dermatoses Preexistentes: Dermatite atópica, eczema, escoriações.
Condições Sistêmicas: Obesidade, diabetes mellitus, imunossupressão.
Estado de Portador Nasal de S. aureus.
3. Avaliação Clínica e Diagnóstico
O diagnóstico é eminentemente clínico.
Manifestações Clínicas:
Foliculite Superficial: Pústulas pequenas (2-5 mm) com um halo eritematoso, centradas por um pelo. Podem ser pruriginosas ou levemente dolorosas.
Furúnculo: Nódulo eritematoso, firme, quente e muito doloroso, que evolui com um ponto central de flutuação (pus) e pode drenar espontaneamente.
Carbúnculo: Placa inflamatória profunda, formada pela confluência de múltiplos furúnculos, com vários pontos de drenagem. Geralmente associado a sintomas sistêmicos (febre, mal-estar).
Diagnóstico Laboratorial:
Não é necessário na foliculite superficial não complicada.
Cultura com Antibiograma: Indicada em casos de foliculite profunda, lesões extensas, falha terapêutica ou em pacientes imunocomprometidos. A amostra deve ser coletada do pus da lesão.
Exame Micológico Direto (EMD): Indicado se houver suspeita de foliculite fúngica.
Diagnóstico Diferencial: Acne vulgar (presença de comedões), miliária pustulosa, queratose pilar, pseudofoliculite da barba, hidradenite supurativa.
4. Manejo e Tratamento
O tratamento é escalonado, dependendo da extensão e profundidade da infecção.
Medidas Gerais:
Higiene: Banhos com sabonetes antissépticos.
Evitar Fatores Predisponentes: Usar roupas largas de algodão, evitar oclusão e fricção.
Compressas Mornas: Aplicar sobre as lesões por 15 minutos, 3 a 4 vezes ao dia, para facilitar a drenagem espontânea das pústulas.
Tratamento Tópico:
É a primeira linha para foliculite superficial e localizada.
Antibióticos Tópicos: Mupirocina é a primeira escolha pela sua excelente cobertura antiestafilocócica (incluindo MRSA). Ácido fusídico e Retapamulina são alternativas.
Tratamento Sistêmico:
Indicações: Foliculite extensa ou profunda (furúnculos/carbúnculos), falha da terapia tópica, presença de celulite associada ou sinais sistêmicos (febre).
Antibióticos Orais: A escolha deve cobrir S. aureus. Cefalexina é a primeira linha para cepas sensíveis à meticilina (MSSA). Se houver suspeita ou prevalência local de MRSA, Clindamicina ou Sulfametoxazol-Trimetoprima são as opções.
A duração do tratamento é geralmente de 7 a 10 dias.
Drenagem Cirúrgica:
Indicada para furúnculos e carbúnculos com ponto de flutuação evidente. A incisão e drenagem é um componente crucial do tratamento para estas lesões.
Prevenção de Recorrências:
Em casos de foliculite recorrente, deve-se investigar e tratar o estado de portador de S. aureus, que geralmente coloniza as narinas. O tratamento inclui o uso de mupirocina pomada intranasal.
Referências Bibliográficas
Stevens, D. L., Bisno, A. L., Chambers, H. F., et al. (2014). Practice Guidelines for the Diagnosis and Management of Skin and Soft Tissue Infections: 2014 Update by the Infectious Diseases Society of America. Clinical Infectious Diseases, 59(2), e10–e52.
Sociedade Brasileira de Dermatologia. (2024). Consenso Brasileiro de Piodermites.
Loo, D. S., & Fisher, D. A. (2019). Community-Acquired Methicillin-Resistant Staphylococcus aureus Infections in Children. Pediatrics in Review, 40(9), 455-466.
Habif, T. P. (2021). Clinical Dermatology: A Color Guide to Diagnosis and Therapy (7th ed.). Elsevier.
Gonzalez, M. E., & Paller, A. S. (2018). Pediatric bacterial skin infections. Current Opinion in Pediatrics, 30(4), 481-487.
American Academy of Dermatology Association. (2023). Boils and carbuncles: Diagnosis and treatment*.
Tratamento
1. Orientações Gerais ao Prescritor
A abordagem terapêutica da foliculite é escalonada. Inicie com medidas locais e terapia tópica para casos superficiais e localizados.
Reserve a antibioticoterapia sistêmica para infecções extensas, profundas ou complicadas.
A drenagem de lesões flutuantes (furúnculos) é uma parte essencial do tratamento.
A educação do paciente sobre medidas de higiene e prevenção é fundamental para evitar recidivas.
2. Prescrição para Foliculite Superficial Localizada
Medidas Gerais e Cuidados Locais:
1. Higiene: Lavar a área afetada 2 vezes ao dia com Sabonete de Clorexidina a 2%.
2. Compressas Mornas: Aplicar compressas com água morna sobre as lesões por 15 minutos, 3 vezes ao dia, para auxiliar na drenagem das pústulas.
Antibioticoterapia Tópica (Primeira Linha):
Prescrição:
1. Mupirocina 2% pomada.
2. Modo de Usar: Aplicar uma fina camada sobre as lesões, 3 vezes ao dia.
3. Duração: 7 a 10 dias.
3. Prescrição para Foliculite Extensa ou Furunculose (Terapia Sistêmica)
Prescrição (Primeira Escolha - Suspeita de MSSA):
1. Cefalexina, suspensão oral 250mg/5mL ou cápsulas 500mg.
2. Dose: Prescrever na dose de 50 mg/kg/dia, por via oral, dividida de 6 em 6 horas (dose máxima de 2g/dia).
3. Duração: 7 a 10 dias.
Prescrição (Suspeita ou Alta Prevalência de MRSA):
Prescrição (Opção 1):
1. Clindamicina, suspensão oral 75mg/5mL ou cápsulas 300mg.
2. Dose: Prescrever na dose de 30 mg/kg/dia, por via oral, dividida de 8 em 8 horas (dose máxima de 1,8g/dia).
Prescrição (Opção 2):
1. Sulfametoxazol + Trimetoprima, suspensão oral (200mg+40mg/5mL).
2. Dose: Prescrever na dose de 8 a 12 mg/kg/dia (do componente Trimetoprima), por via oral, dividida de 12 em 12 horas.
4. Prescrição para o Manejo do Furúnculo
1. Drenagem: Realizar incisão e drenagem da lesão se houver ponto de flutuação evidente.
2. Manter compressas mornas 3 a 4 vezes ao dia.
3. Manter a área coberta com um curativo seco para evitar a disseminação.
4. Prescrever antibioticoterapia sistêmica (conforme Esquema 3) se o furúnculo for grande (> 2 cm), localizado em áreas de risco (face), se houver celulite ao redor ou se o paciente apresentar febre.
5. Prescrição para Prevenção de Recorrências (Descolonização)
Indicação:
Pacientes com furunculose de repetição.
Prescrição:
1. Mupirocina 2% pomada.
Modo de Usar: Aplicar uma pequena quantidade dentro de ambas as narinas, 2 vezes ao dia, por 5 dias.
2. Sabonete de Clorexidina a 4%.
Modo de Usar: Utilizar para o banho diário, do pescoço para baixo, por 5 a 14 dias.
3. Orientar a descontaminação de fômites: lavar roupas de cama, toalhas e roupas pessoais com água quente.
6. Orientações para a Família e Sinais de Alerta
1. Higiene: É fundamental lavar as mãos com frequência e usar toalhas individuais para evitar a transmissão para outros membros da família.
2. Não espremer: Nunca espremer as lesões, especialmente na face, pois isso pode disseminar a infecção para tecidos mais profundos.
3. Sinais de Alerta para Retorno Imediato:
Aumento rápido da vermelhidão, do inchaço ou da dor ao redor da lesão.
Surgimento de estrias vermelhas a partir da lesão (linfangite).
Febre alta ou prostração.
Ausência de melhora após 48 horas de tratamento.
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