Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV)
Resumo
1. Definição e Fisiopatologia
A Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV) é uma reação adversa reprodutível, mediada por mecanismos imunológicos específicos, que ocorre após a ingestão de proteínas do leite de vaca (principalmente caseína e beta-lactoglobulina). É a alergia alimentar mais comum em lactentes e crianças pequenas, com uma prevalência estimada de 2-3%.
A APLV é classificada com base no mecanismo imunológico subjacente, o que determina a apresentação clínica e a abordagem diagnósti
Categoria
Gastrointestinais e Alergias Alimentares > Distúrbios Funcionais e Alergias > Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV)
Conduta Completa
1. Definição e Fisiopatologia
A Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV) é uma reação adversa reprodutível, mediada por mecanismos imunológicos específicos, que ocorre após a ingestão de proteínas do leite de vaca (principalmente caseína e beta-lactoglobulina). É a alergia alimentar mais comum em lactentes e crianças pequenas, com uma prevalência estimada de 2-3%.
A APLV é classificada com base no mecanismo imunológico subjacente, o que determina a apresentação clínica e a abordagem diagnóstica:
APLV IgE-mediada: Reações de hipersensibilidade tipo I, imediatas (minutos a 2 horas após a ingestão). A exposição ao alérgeno causa a degranulação de mastócitos e basófilos, com liberação de histamina e outros mediadores.
APLV Não-IgE-mediada: Reações tardias (horas a dias após a ingestão), mediadas por células T. A inflamação é mais localizada no trato gastrointestinal.
APLV Mista: Envolve ambos os mecanismos, IgE e celular, como visto na dermatite atópica e na esofagite eosinofílica.
2. Manifestações Clínicas
O espectro clínico da APLV é amplo e depende do mecanismo imunológico.
Manifestações IgE-mediadas (Início Rápido):
Cutâneas: Urticária, angioedema (inchaço de lábios, pálpebras).
Respiratórias: Rinite, broncoespasmo, estridor.
Gastrointestinais: Vômitos em jato, cólicas intensas.
Sistêmicas: Anafilaxia, a forma mais grave, com risco de vida.
Manifestações Não-IgE-mediadas (Início Tardio):
Gastrointestinais (mais comuns):
Proctocolite Alérgica: Sangue e muco nas fezes em um lactente com bom estado geral.
Enteropatia Induzida por Proteína Alimentar: Diarreia crônica, má absorção, vômitos e déficit de crescimento.
FPIES (Síndrome da Enterocolite Induzida por Proteína Alimentar): Vômitos profusos e repetitivos, letargia e palidez, 1 a 4 horas após a ingestão, podendo levar à desidratação e ao choque.
Cutâneas: Dermatite atópica (pode ser mista).
3. Diagnóstico: Uma Abordagem Passo a Passo
O diagnóstico é baseado na história clínica detalhada, seguida por uma estratégia de exclusão e reexposição.
Passo 1: Suspeita Clínica: A história clínica é a ferramenta mais importante, correlacionando o surgimento dos sintomas com a ingestão de leite de vaca (pela criança ou pela mãe, no caso de aleitamento materno).
Passo 2: Testes Alérgicos (para suspeita de mecanismo IgE-mediado):
Prick Test (Teste Cutâneo de Leitura Imediata): Útil para confirmar a sensibilização.
Dosagem de IgE Específica para Proteínas do Leite: Um resultado positivo indica sensibilização, mas não necessariamente alergia clínica.
Passo 3: Dieta de Exclusão Diagnóstica (para todos os tipos):
Consiste na eliminação completa de todas as fontes de proteína do leite de vaca da dieta por um período de 2 a 4 semanas.
Em lactentes amamentados, a mãe deve realizar a dieta de exclusão.
Em lactentes em uso de fórmula, a fórmula de leite de vaca é substituída por uma fórmula extensamente hidrolisada.
A melhora dos sintomas durante este período reforça fortemente o diagnóstico.
Passo 4: Teste de Provocação Oral (TPO):
É o padrão-ouro para confirmar o diagnóstico.
Consiste na reintrodução controlada e supervisionada da proteína do leite de vaca após o período de exclusão. O reaparecimento dos sintomas confirma o diagnóstico de APLV.
* O TPO para reações IgE-mediadas deve ser realizado obrigatoriamente em ambiente hospitalar, com equipe e material para o tratamento de anafilaxia.
Tratamento
1. Orientações Gerais ao Prescritor
O diagnóstico de APLV é um processo que envolve a dieta de exclusão seguida pelo teste de provocação oral (TPO).
A prescrição de fórmulas especiais é o pilar do tratamento para lactentes não amamentados.
Todo paciente com APLV IgE-mediada grave deve ter um plano de ação para anafilaxia e prescrição de adrenalina autoinjetável.
2. Prescrição para a Fase Diagnóstica
Dieta de Exclusão (por 2 a 4 semanas):
Para Lactente em Aleitamento Materno Exclusivo:
1. Prescrever Dieta de Exclusão de Proteínas do Leite de Vaca e Derivados para a mãe.
2. Prescrever suplementação para a mãe: Carbonato de Cálcio 1000 mg/dia e Vitamina D 600 UI/dia.
3. Encaminhar a mãe para orientação com Nutricionista.
Para Lactente em Uso de Fórmula Infantil:
1. Suspender a fórmula infantil de partida.
2. Prescrever Fórmula com Proteína Extensamente Hidrolisada. Ex: Aptamil Pepti, Alfaré, Pregomin Pepti.
3. Modo de Preparo: Seguir as instruções da lata.
Teste de Provocação Oral (TPO) - Padrão-Ouro:
Após a melhora dos sintomas com a dieta de exclusão.
1. Agendar Teste de Provocação Oral com Proteína do Leite de Vaca em ambiente hospitalar/clínico supervisionado.
2. O protocolo de administração (doses e intervalos) deve seguir as diretrizes institucionais.
3. Manter o paciente em observação por pelo menos 2 a 4 horas após a última dose.
3. Prescrição para o Tratamento de Manutenção
Prescrição de Fórmula Especial (para lactentes não amamentados):
Primeira Linha:
1. Prescrever Fórmula com Proteína Extensamente Hidrolisada.
Segunda Linha (se APLV grave ou falha da FEH):
1. Prescrever Fórmula de Aminoácidos. Ex: Neocate LCP, Alfamino.
Prescrição de Orientações para a Família:
1. Fornecer uma lista detalhada de alimentos e ingredientes que contêm proteína do leite de vaca a serem evitados (caseína, caseinato, lactoalbumina, soro do leite, etc.).
2. Orientar sobre a leitura cuidadosa de todos os rótulos de alimentos industrializados.
3. Discutir estratégias para evitar a contaminação cruzada na cozinha.
4. Encaminhar para acompanhamento com Nutricionista Pediátrico.
4. Prescrição para o Manejo de Emergência (Anafilaxia)
Indicação:
Para todo paciente com história de reação IgE-mediada grave.
Prescrição:
1. Adrenalina (Epinefrina) Autoinjetável.
Se peso de 7,5 a 25 kg: Prescrever dispositivo de 0,15 mg.
Se peso > 25 kg: Prescrever dispositivo de 0,30 mg.
Orientação: Prescrever 2 dispositivos e treinar exaustivamente a família sobre como e quando utilizá-los.
2. Fornecer um Plano de Ação para Anafilaxia por escrito, detalhando os sinais de reconhecimento e os passos a serem seguidos.
3. Prescrever Anti-histamínico de 2ª geração (ex: Cetirizina) e Corticosteroide oral (ex: Prednisolona) para serem administrados após a adrenalina, a caminho do hospital.
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