Febre Chikungunya

Resumo

1. Definição e Fisiopatologia A Febre Chikungunya é uma doença viral aguda, causada por um alfavírus (CHIKV), transmitida pela picada de mosquitos do gênero Aedes (A. aegypti e A. albopictus). Sua principal característica clínica, que a distingue de outras arboviroses, é a poliartralgia ou poliartrite intensa, simétrica e frequentemente incapacitante. Fisiopatologia O CHIKV possui um acentuado tropismo pelas articulações. Após a replicação inicial, a viremia leva o vírus para a membrana sinovia

Categoria

Infecciosas e Exantemáticas > Arboviroses > Febre Chikungunya

Conduta Completa

1. Definição e Fisiopatologia A Febre Chikungunya é uma doença viral aguda, causada por um alfavírus (CHIKV), transmitida pela picada de mosquitos do gênero Aedes (A. aegypti e A. albopictus). Sua principal característica clínica, que a distingue de outras arboviroses, é a poliartralgia ou poliartrite intensa, simétrica e frequentemente incapacitante. Fisiopatologia O CHIKV possui um acentuado tropismo pelas articulações. Após a replicação inicial, a viremia leva o vírus para a membrana sinovial das articulações, onde desencadeia uma resposta inflamatória exuberante. A persistência do vírus ou de seus componentes nas articulações é o mecanismo proposto para a cronificação da dor articular, que ocorre em 30 a 50% dos pacientes, tornando-se um problema de saúde pública de longo prazo. 2. Fases Clínicas e Diagnóstico A doença evolui em três fases: Fase Aguda (dura de 3 a 14 dias): Início Súbito: Febre alta (>39°C), calafrios, cefaleia e mal-estar intenso. Artralgia Incapacitante: É o sintoma cardinal. A dor é poliarticular, simétrica e tão intensa que pode imobilizar o paciente ("febre quebra-ossos"). Afeta principalmente as pequenas articulações (mãos, punhos, pés, tornozelos). Edema articular é um achado muito comum. Exantema: Um rash maculopapular pruriginoso surge em cerca de 50% dos casos, geralmente após o 3º dia. Fase Subaguda (até 3 meses): A febre e os sintomas sistêmicos desaparecem, mas a dor articular persiste ou recorre, muitas vezes com rigidez matinal significativa. Fase Crônica (após 3 meses): Caracterizada pela persistência dos sintomas articulares por meses ou anos, configurando um quadro de artrite inflamatória crônica que requer manejo reumatológico. Diagnóstico Clínico-Epidemiológico A suspeita é alta em um paciente com febre de início súbito e poliartralgia intensa em um contexto de transmissão local do vírus. Diagnóstico Diferencial (Dengue vs. Zika vs. Chikungunya) Chikungunya: A dor articular é incapacitante e o edema é proeminente. As alterações hematológicas (plaquetopenia) são discretas. Dengue: A dor no corpo é mais muscular (mialgia). A plaquetopenia é acentuada e há risco de sangramento e choque. A dor articular é menos intensa. Zika: Quadro mais brando, com febre baixa ou ausente, exantema pruriginoso precoce e conjuntivite não purulenta característica. Diagnóstico Laboratorial RT-PCR: Confirma a infecção na fase aguda (primeiros 5-7 dias). Sorologia (IgM e IgG): Positiva a partir do 5º-7º dia de doença. 3. Manejo e Tratamento Não há terapia antiviral específica. O tratamento é sintomático e de suporte, focado no controle da dor e na reabilitação. Manejo da Fase Aguda: Analgesia: É o pilar do tratamento. 1. Analgésicos Simples: Dipirona ou Paracetamol devem ser a primeira linha, prescritos de forma regrada. 2. Anti-inflamatórios Não Esteroides (AINEs): São muito eficazes para a dor inflamatória, mas só devem ser introduzidos após o 3º-5º dia ou após a exclusão de Dengue, pelo risco de sangramento. 3. Opioides (Tramadol, Codeína): Reservados para dor intensa e refratária. Medidas Não Farmacológicas: Repouso articular, aplicação de compressas frias. Hidratação: Incentivar a hidratação oral. Manejo da Fase Subaguda e Crônica: A dor pode persistir e o manejo se torna mais complexo. AINEs e Analgésicos: Podem ser mantidos. Corticosteroides: Cursos curtos de Prednisona em baixas doses podem ser usados para crises de dor refratária. Drogas Modificadoras do Curso da Doença (DMARDs): Em pacientes com artrite crônica persistente, o uso de medicamentos como Hidroxicloroquina ou Metotrexato pode ser necessário, devendo ser manejado por um reumatologista. Fisioterapia e Reabilitação: São fundamentais em todas as fases para prevenir a rigidez, fortalecer a musculatura e manter a função articular. 4. Prevenção A prevenção é a mesma para Dengue e Zika, focada no controle do vetor Aedes aegypti através da eliminação de criadouros de água parada e na proteção individual contra picadas de mosquito (uso de repelentes, roupas compridas, telas). Referências Bibliográficas Ministério da Saúde (Brasil). (2024). Chikungunya: Diagnóstico e Manejo Clínico. (A principal e mais atualizada referência nacional). World Health Organization (WHO). (2023). Chikungunya Fact Sheet. (Informações globais e recomendações da OMS). Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR). (2017). Recomendações sobre diagnóstico e tratamento da febre Chikungunya. Weaver, S. C., & Lecuit, M. (2015). Chikungunya virus and the global spread of a mosquito-borne disease. The New England Journal of Medicine, 372(13), 1231–1239. (Artigo de revisão clássico e fundamental do NEJM). Cunha, R. V., & Trinta, K. S. (2017). Chikungunya virus: clinical aspects and treatment - A Review. Memorias do Instituto Oswaldo Cruz, 112(8), 523–531. Rodriguez-Morales, A. J., et al. (2016). The arboviral burden of disease caused by co-circulation and co-infection of dengue, chikungunya and Zika in the Americas. Travel Medicine and Infectious Diseases, 14*(3), 177-179.

Tratamento

1. Orientações Gerais ao Prescritor O manejo da Chikungunya é sintomático e escalonado, com foco principal no controle da dor articular. NÃO PRESCREVER AINEs ou AAS na fase febril aguda até que o diagnóstico de Dengue seja descartado, devido ao risco de sangramento. A fisioterapia deve ser prescrita e iniciada o mais precocemente possível para prevenir a cronificação e a incapacidade. 2. Prescrição para a Fase Aguda (Primeiros 14 dias) Hidratação e Repouso: 1. Orientar hidratação oral vigorosa (cerca de 60-80 mL/kg/dia). 2. Prescrever repouso articular relativo durante os picos de dor. Analgesia (Esquema Escalonado): Passo 1 (Dor Leve a Moderada): 1. Dipirona solução oral 500mg/mL. Prescrever na dose de 20 mg/kg/dose, por via oral, a cada 6 horas, de forma regrada. 2. ou Paracetamol solução oral 200mg/mL. Prescrever na dose de 15 mg/kg/dose, por via oral, a cada 6 horas. Passo 2 (Se dor persistir - APÓS DESCARTAR DENGUE): 1. Ibuprofeno suspensão oral 100mg/mL. Prescrever na dose de 10 mg/kg/dose, por via oral, a cada 8 horas, com alimento. Passo 3 (Dor Intensa e Refratária): 1. Cloridrato de Tramadol 50mg. Prescrever 1 comprimido, por via oral, a cada 8 horas. (Uso em adolescentes/adultos). 3. Prescrição para a Fase Subaguda e Crônica (>15 dias) Manejo da Dor Inflamatória Persistente: 1. Manter AINEs (ex: Ibuprofeno ou Naproxeno 5-7 mg/kg/dose, VO, de 12/12h) por ciclos de 7 a 14 dias. 2. Se dor refratária, prescrever Prednisona 0,5 mg/kg/dia (dose máxima de 20-40 mg/dia), por via oral, por um curso curto de 5 a 7 dias, com desmame. Encaminhamento e Reabilitação (OBRIGATÓRIO): 1. Encaminhar para Fisioterapia Motora. Prescrever sessões para analgesia, manutenção da amplitude de movimento e fortalecimento muscular. 2. Se os sintomas articulares persistirem por mais de 3 meses, encaminhar para avaliação do Reumatologista para considerar o uso de drogas modificadoras do curso da doença (ex: Hidroxicloroquina, Metotrexato). 4. Orientações para a Família e Sinais de Alerta 1. Sobre a Doença: "A Chikungunya causa uma dor articular muito intensa que pode durar semanas ou meses. O tratamento visa controlar a dor e a inflamação para que a recuperação seja a melhor possível." 2. Repouso e Movimento: "Na fase aguda, o repouso da articulação dolorida é importante. Mas assim que a dor permitir, é fundamental começar a mover as articulações suavemente para evitar a rigidez. A fisioterapia é essencial." 3. Medicações: "Use os analgésicos e anti-inflamatórios nos horários prescritos para manter a dor sob controle. Não espere a dor ficar insuportável para medicar." 4. Sinais de Alerta para Retorno: Dor abdominal intensa, sangramentos ou tontura (para descartar Dengue). Piora súbita da dor articular ou incapacidade de se mover. * Sonolência excessiva, confusão mental ou convulsões (sinais neurológicos raros).

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