Abscesso Dentário
Resumo
1. Definição e Contexto
Coleção localizada de pus associada a um dente, resultante de infecção bacteriana da polpa dentária (geralmente por cárie profunda ou trauma). Urgência pediátrica comum com risco de complicações sistêmicas.
2. Fatores de Risco
Cárie dentária (principal causa)
Higiene bucal inadequada
Dieta rica em açúcares
Traumatismo dentário
Falta de acesso a cuidados odontológicos
3. Apresentação Clínica
Locais: Dor intensa, pulsátil; edema facial (gengiva, bochecha); sensibilidade à palpação/percussão; fístula (pode aliviar dor); mobilidade dentária.
Sistêmicos: Febre (≥37,8°C); mal-estar, irritabilidade, prostração; recusa alimentar; linfadenopatia regional; trismo (dificuldade para abrir a boca).
SINAIS DE ALERTA (URGÊNCIA): Edema facial de rápida progressão, envolvimento periorbitário, dificuldade respiratória/disfagia/odinofagia, trismo severo, febre alta persistente, prostração intensa, vômitos persistentes.
4. Diagnóstico
Clínico: Anamnese (dor, edema, sintomas sistêmicos) e exame físico (dente causal, edema, flutuação, fístula).
Exames Complementares:
Radiografia periapical: Essencial para confirmar, avaliar extensão óssea.
TC de face/pescoço: Suspeita de complicações graves (celulite profunda, abscesso orbitário).
Diagnóstico Diferencial: Celulite facial, sinusite aguda, parotidite, linfadenite cervical, angioedema, osteomielite.
5. Manejo e Tratamento
O tratamento definitivo é ODONTOLÓGICO (drenagem, tratamento de canal ou extração). A antibioticoterapia é ADJUVANTE.
5.1. Tratamento Odontológico (Fundamental)
Drenagem: Via canal radicular ou incisão cirúrgica.
Tratamento endodôntico (pulpectomia).
Extração dentária: Dentes decíduos com rizólise avançada ou grande destruição.
5.2. Terapia Farmacológica
Antibioticoterapia: Indicada para disseminação da infecção (celulite, edema progressivo) ou comprometimento sistêmico (febre >37,8°C, trismo, linfadenopatia, imunocomprometidos).
Primeira Linha: Amoxicilina
Dose: 50 mg/kg/dia, VO, dividida em 8/8h, por 5-7 dias.
Ex: Criança 15kg: 250mg (5mL da suspensão 250mg/5mL) a cada 8h.
Alternativa (falha/resistência): Amoxicilina + Clavulanato
Dose: 50 mg/kg/dia (baseado na amoxicilina), VO, dividida em 12/12h, por 7 dias.
Ex: Criança 20kg: 500mg (6,25mL da suspensão 400mg+57mg/5mL) a cada 12h.
Alergia a Penicilinas: Clindamicina
Dose: 20-30 mg/kg/dia, VO, dividida em 6/6h ou 8/8h, por 7 dias.
Ex: Criança 18kg (25mg/kg/dia): 150mg (10mL da solução 75mg/5mL) a cada 8h.
Analgesia e Controle da Febre (se dor ou febre):
Ibuprofeno: 10 mg/kg/dose, a cada 6-8h (máx. 40 mg/kg/dia).
Paracetamol: 10-15 mg/kg/dose, a cada 4-6h (máx. 75 mg/kg/dia).
Dipirona: 20-25 mg/kg/dose, a cada 6h.
6. Critérios para Encaminhamento Hospitalar Urgente
Comprometimento de vias aéreas: Estridor, disfagia, odinofagia, dificuldade respiratória, trismo severo.
Edema facial de rápida progressão ou com envolvimento periorbitário.
Sinais de infecção de espaços profundos do pescoço (ex: Angina de Ludwig).
Sinais de sepse/toxemia: Taquicardia, hipotensão, alteração do nível de consciência, prostração intensa.
Desidratação ou incapacidade de manter hidratação/medicação VO.
Falha do tratamento ambulatorial após 48-72 horas.
Pacientes imunocomprometidos ou com comorbidades significativas.
7. Complicações Graves
Celulite facial/cervical
Angina de Ludwig (risco de obstrução de via aérea)
Trombose do seio cavernoso
Abscesso cerebral
Osteomielite
Sepse
8. Prevenção
Higiene bucal rigorosa, dieta balanceada, consultas odontológicas regulares e manejo precoce de cáries/traumatismos.
Categoria
Infecciosas e Exantemáticas > Odontogênicas e ORL > Abscesso Dentário
Conduta Completa
1. Definição e Contexto
O abscesso dentário (ou dentoalveolar) é uma coleção localizada de pus associada a um dente, resultante de uma infecção bacteriana aguda ou crônica. A infecção se origina na polpa dentária (tecido neurovascular interno), geralmente necrosada devido a cáries profundas não tratadas, traumatismos ou procedimentos odontológicos prévios. Em pediatria, é uma das urgências odontológicas mais comuns, podendo evoluir para complicações locais e sistêmicas graves se não manejado adequadamente.
2. Fisiopatologia
O processo inicia-se com a invasão bacteriana da polpa dentária, levando à pulpite e, subsequentemente, à necrose pulpar. As bactérias e seus subprodutos se disseminam pelo sistema de canais radiculares até a região periapical (ponta da raiz do dente), desencadeando uma resposta inflamatória aguda. Essa reação resulta na formação de exsudato purulento. A pressão gerada pelo acúmulo de pus causa a reabsorção do osso alveolar adjacente, buscando uma via de drenagem. O abscesso pode permanecer localizado ou disseminar-se para tecidos moles adjacentes, causando celulite facial, ou para espaços fasciais profundos.
3. Fatores de Risco
Os principais fatores de risco na população pediátrica incluem:
Cárie dentária: É a causa predominante.
Higiene bucal inadequada: Fator primário para o desenvolvimento de cáries.
Dieta rica em carboidratos fermentáveis (açúcares): Aumenta a atividade bacteriana cariogênica.
Traumatismo dentário: Fraturas ou luxações podem expor a polpa a bactérias.
Anomalias do desenvolvimento dentário.
Falta de acesso a cuidados odontológicos regulares.
4. Apresentação Clínica
A apresentação clínica varia conforme a idade do paciente e a gravidade da infecção.
4.1 Sinais e Sintomas Locais
Dor dentária: Geralmente intensa, pulsátil e bem localizada. Pode piorar com a mastigação ou estímulos térmicos.
Edema facial: Inchaço na gengiva, bochecha ou região submandibular.
Sensibilidade à palpação e percussão do dente afetado.
Presença de fístula: Ponto de drenagem de pus na gengiva, que pode aliviar a dor aguda.
Mobilidade dentária.
Gosto ruim na boca.
Halitose.
4.2 Sinais e Sintomas Sistêmicos
Febre: Geralmente definida como temperatura axilar ≥37,8°C.
Mal-estar geral, prostração, irritabilidade.
Recusa alimentar, especialmente em lactentes e pré-escolares.
Linfadenopatia regional (submandibular ou cervical).
Trismo: Dificuldade para abrir a boca, indicando possível envolvimento dos músculos mastigatórios.
5. Diagnóstico
O diagnóstico é primariamente clínico, baseado na anamnese e no exame físico.
5.1 Anamnese e Exame Físico
A avaliação deve focar na história da dor, início e progressão do edema, e presença de sintomas sistêmicos. O exame intraoral busca identificar o dente causal (presença de cárie extensa, restauração fraturada, alteração de cor) e sinais inflamatórios como edema, rubor e pontos de flutuação ou fístula. A palpação extraoral avalia a extensão do edema, a presença de linfonodos reacionais e a temperatura local.
5.2 Exames Complementares
Radiografia periapical: Essencial para confirmar o diagnóstico, mostrando alargamento do espaço do ligamento periodontal, reabsorção óssea periapical e a relação da infecção com estruturas adjacentes.
Tomografia computadorizada (TC) de face e pescoço: Indicada na suspeita de complicações graves, como celulite com envolvimento de espaços fasciais profundos (ex: angina de Ludwig) ou abscesso orbitário.
Hemograma completo e Proteína C Reativa (PCR): Úteis em casos com manifestações sistêmicas importantes para avaliar a magnitude da resposta inflamatória e infecciosa.
5.3 Diagnóstico Diferencial
O edema facial em crianças possui um vasto diagnóstico diferencial. A tabela abaixo resume as principais hipóteses.
| Condição | Características Principais | Exames Sugeridos |
|---|---|---|
| Abscesso Dentário | Associado a dente cariado/traumatizado, dor localizada, edema facial quente e eritematoso. | Radiografia periapical |
| Celulite Facial | Edema difuso, mal delimitado, sem ponto de flutuação claro. Frequentemente secundária a infecção dentária. | Clínico, TC se suspeita de complicação |
| Sinusite Aguda | Dor facial, cefaleia, congestão nasal, secreção purulenta. Edema pode ser periorbitário. | Clínico, TC de seios paranasais se refratário |
| Parotidite | Edema na região da glândula parótida, dor à mastigação, pode haver febre. | Clínico, sorologias (caxumba), ultrassonografia |
| Linfadenite Cervical | Linfonodo aumentado, doloroso e móvel (inicialmente). Pode evoluir com flutuação. | Clínico, ultrassonografia cervical |
| Angioedema | Edema súbito, não inflamatório, sem dor significativa, pode ser associado a urticária. | Clínico, história de exposição a alérgenos |
| Osteomielite | Infecção óssea, dor intensa, febre, edema. Pode ser complicação de abscesso dentário. | Radiografias, TC/RM, cintilografia óssea |
6. Manejo e Tratamento
O manejo do abscesso dentário em pediatria requer uma abordagem dupla: tratamento odontológico definitivo para remover a fonte da infecção e terapia de suporte (incluindo antibióticos, quando indicado) para controlar a infecção e os sintomas.
6.1 Tratamento Odontológico (Fundamental)
O tratamento farmacológico isolado é insuficiente. A remoção da causa é mandatória e deve ser realizada por um cirurgião-dentista. As opções incluem:
Drenagem: Realizada via canal radicular (acesso endodôntico) ou por incisão cirúrgica se houver ponto de flutuação.
Tratamento endodôntico (pulpectomia): Remoção da polpa necrosada e desinfecção dos canais.
Extração dentária: Indicada para dentes decíduos com rizólise avançada, grande destruição coronária ou quando o tratamento endodôntico não é viável.
6.2 Terapia Farmacológica
6.2.1 Antibioticoterapia
A antibioticoterapia é adjuvante e está indicada na presença de sinais de disseminação da infecção ou comprometimento sistêmico.
Indicações:
Celulite facial ou edema difuso e progressivo.
Sintomas sistêmicos (febre >37,8°C, mal-estar).
Trismo.
Linfadenopatia regional.
Pacientes imunocomprometidos.
Primeira Linha: Amoxicilina. Dose: 50 mg/kg/dia, dividida em 8/8h, por 5 a 7 dias.
Alternativas (suspeita de resistência ou falha terapêutica): Amoxicilina + Clavulanato. Dose: 50 mg/kg/dia (baseado na amoxicilina), dividida em 12/12h, por 7 dias.
Alergia a Penicilinas: Clindamicina. Dose: 20-30 mg/kg/dia, dividida em 6/6h ou 8/8h, por 7 dias.
6.2.2 Analgesia e Controle da Febre
Ibuprofeno: 10 mg/kg/dose, a cada 6-8h (dose máxima: 40 mg/kg/dia).
Paracetamol (Acetaminofeno): 10-15 mg/kg/dose, a cada 4-6h (dose máxima: 75 mg/kg/dia).
6.3 Critérios de Internação Hospitalar
O encaminhamento para serviço de emergência e a internação hospitalar são necessários em situações de maior gravidade:
Sinais de comprometimento de vias aéreas: estridor, disfagia, odinofagia, dificuldade respiratória ou trismo severo.
Edema facial de rápida progressão ou com envolvimento periorbitário.
Sinais de infecção de espaços profundos do pescoço (ex: angina de Ludwig).
Sinais de sepse ou toxemia: taquicardia, hipotensão, alteração do nível de consciência, prostração intensa.
Desidratação ou incapacidade de manter a hidratação e medicação por via oral.
Falha do tratamento ambulatorial após 48-72 horas.
Pacientes imunocomprometidos ou com comorbidades significativas.
7. Complicações
A falha no tratamento adequado pode levar a complicações graves e potencialmente fatais:
Celulite facial ou cervical: Disseminação da infecção pelos tecidos moles.
Angina de Ludwig: Celulite grave envolvendo os espaços submandibular, sublingual e submentoniano, com risco de obstrução de via aérea.
Trombose do seio cavernoso: Disseminação da infecção via sistema venoso facial, causando proptose, oftalmoplegia e risco de dano neurológico.
Abscesso cerebral.
Osteomielite da mandíbula ou maxila.
Sepse.
8. Prognóstico e Seguimento
Com diagnóstico precoce e tratamento odontológico adequado, o prognóstico é excelente. O seguimento deve ser realizado pelo cirurgião-dentista para garantir a resolução completa da infecção e a reabilitação do dente. O pediatra deve orientar o retorno para reavaliação em 24-48 horas após o início do tratamento para verificar a melhora clínica, especialmente em casos manejados ambulatorialmente com antibióticos.
9. Prevenção
A prevenção é a medida mais eficaz e baseia-se em:
Higiene bucal rigorosa: Escovação dental com dentifrício fluoretado pelo menos duas vezes ao dia e uso de fio dental.
Dieta balanceada: Limitar a frequência de ingestão de alimentos e bebidas açucaradas.
Consultas odontológicas regulares: A partir da erupção do primeiro dente, para monitoramento, profilaxia e aplicação de flúor.
Manejo precoce de cáries e traumatismos dentários.
10. Referências
1. ANDRADE, E. D. et al. Terapêutica Medicamentosa em Odontologia. 3. ed. São Paulo: Artes Médicas, 2014.
2. BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de Recomendações para o Uso de Fluoretos no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.
3. GOMES, A. C. A.; NEVILLE, B. W.; DAMM, D. D.; ALLEN, C. M.; BOUQUOT, J. E. Patologia Oral e Maxilofacial. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2021.
4. PETERSON, L. J. et al. Cirurgia Oral e Maxilofacial Contemporânea. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
5. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Manual de Saúde Oral. Rio de Janeiro: SBP, 2019.
6. WANNMACHER, L.; FERREIRA, M. B. C. Farmacologia Clínica para Dentistas. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
Tratamento
1. Orientações Gerais ao Prescritor
O tratamento definitivo do abscesso dentário é odontológico (drenagem, tratamento de canal ou extração). A antibioticoterapia é um tratamento adjuvante e não substitui a intervenção do cirurgião-dentista.
A prescrição de antibióticos está indicada apenas na presença de sinais de disseminação da infecção (celulite, edema progressivo) ou comprometimento sistêmico (febre ≥37,8°C, prostração, linfadenopatia). Abscessos bem localizados e drenados podem não necessitar de antibioticoterapia sistêmica.
Sempre associe analgesia/antitérmicos para conforto do paciente.
Oriente a família a procurar um cirurgião-dentista com urgência.
2. Esquemas Terapêuticos Ambulatoriais
2.1 Antibioticoterapia (Prescrever por 5 a 7 dias)
Opção 1: Primeira Linha
Amoxicilina suspensão 250mg/5mL
Dose: 50 mg/kg/dia, dividida em 8/8 horas, via oral.
Exemplo para uma criança de 15 kg: 250 mg a cada 8 horas (5 mL da suspensão a cada 8 horas).
Dose máxima: 40-50 mg/kg/dia, não exceder 1g/dose.
Opção 2: Suspeita de Resistência ou Falha Terapêutica
Amoxicilina + Clavulanato suspensão 400mg+57mg/5mL
Dose: 50 mg/kg/dia (calculado pela amoxicilina), dividida em 12/12 horas, via oral.
Exemplo para uma criança de 20 kg: 500 mg a cada 12 horas (6,25 mL da suspensão a cada 12 horas).
Atenção: Utilizar apresentações com proporção 14:1 para permitir a posologia de 12/12h.
Opção 3: Alergia a Penicilinas
Clindamicina (solução oral 75mg/5mL ou cápsulas)
Dose: 20-30 mg/kg/dia, dividida em 6/6 ou 8/8 horas, via oral.
Exemplo para uma criança de 18 kg (dose de 25 mg/kg/dia): 150 mg a cada 8 horas (10 mL da suspensão a cada 8 horas).
Atenção: Administrar com bastante líquido para minimizar o risco de irritação esofágica.
2.2 Analgesia e Controle da Febre (Prescrever "se dor ou febre")
Opção 1
Ibuprofeno suspensão oral 100mg/mL
Dose: 10 mg/kg/dose (ou 1 gota/kg), a cada 6 a 8 horas.
Dose máxima: 40 mg/kg/dia.
Opção 2
Paracetamol (Acetaminofeno) solução oral 200mg/mL
Dose: 10-15 mg/kg/dose (ou 1 gota/kg), a cada 4 a 6 horas.
Dose máxima: 75 mg/kg/dia ou 4g/dia.
Opção 3
Dipirona solução oral 500mg/mL
Dose: 20-25 mg/kg/dose (ou 1 gota/kg), a cada 6 horas.
* Dose máxima: 500mg por dose para lactentes, 1g por dose para crianças maiores.
3. Critérios para Encaminhamento Hospitalar Urgente
Encaminhar imediatamente para um serviço de emergência hospitalar se a criança apresentar qualquer um dos seguintes sinais:
[ ] Edema facial de progressão rápida (aumentando em poucas horas).
[ ] Inchaço que se estende para o olho, causando dificuldade para abri-lo.
[ ] Dificuldade para respirar, engolir ou falar.
[ ] Trismo severo (incapacidade de abrir a boca).
[ ] Pescoço rígido ou dor à movimentação cervical.
[ ] Febre alta (>39°C) que não cede com antitérmicos.
[ ] Prostração intensa, sonolência excessiva ou irritabilidade inconsolável.
[ ] Vômitos persistentes que impeçam a hidratação ou o uso de medicação oral.
[ ] Ausência de melhora ou piora do quadro após 48 horas de antibiótico oral.
Acesso Interativo
Acesse o conteúdo completo e interativo em Abscesso Dentário