Adenoidite Aguda

Resumo

1. Definição e Contexto Inflamação/infecção do tecido linfoide da nasofaringe (adenoide). Extremamente comum em crianças < 10 anos. 2. Etiologia Viral (mais comum): Adenovírus, Rinovírus, VSR. Bacteriana (superinfecção): Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis, Streptococcus pyogenes. 3. Apresentação Clínica Início súbito: Obstrução nasal (principal), rinorreia (mucopurulenta), febre, roncos, sono agitado. Voz hiponasal, tosse noturna, halitose. Pode haver otalgia ou sinais de otite média. 4. Diagnóstico Clínico: Anamnese e exame físico. Exame Físico: Rinoscopia (mucosa edemaciada, secreção), oroscopia (secreção escorrendo na orofaringe), otoscopia (essencial para OMA/secretora). Exames Complementares: Não rotineiramente indicados para adenoidite aguda. Diagnóstico Diferencial CRÍTICO: Corpo Estranho Nasal: Rinorreia purulenta e fétida, UNILATERAL, de início súbito. Rinossinusite Bacteriana Aguda: Dor facial, tosse persistente >10 dias ou piora após melhora. IVAS Viral: Rinorreia clara, sintomas autolimitados. 5. Manejo e Tratamento 5.1. Medidas Gerais (Essenciais) Hidratação oral. Lavagem nasal com solução salina 0,9%: 5 a 20 mL em cada narina (conforme idade), 4 a 6 vezes/dia. Analgesia e Antitérmicos (se febre ≥37,8°C ou dor): Ibuprofeno: 5-10 mg/kg/dose, VO, a cada 6-8h. Dipirona: 20-25 mg/kg/dose, VO, a cada 6h. 5.2. Antibioticoterapia (Indicações e Prescrições) Indicações: Forte suspeita bacteriana (febre alta ≥39°C, secreção purulenta abundante, quadro arrastado >10 dias ou piora após melhora inicial). Primeira Linha: Amoxicilina: 50 mg/kg/dia, dividida em 2-3 tomadas (8/8h ou 12/12h), por 7 a 10 dias. Amoxicilina-Clavulanato: 50 mg/kg/dia (pela amoxicilina), dividida em 2 tomadas (12/12h), por 7 a 10 dias. (Escolha em falha prévia, uso recente ATB, creche). Alternativa (Alergia à Penicilina não anafilática): Cefuroxima (axetil): 30 mg/kg/dia, dividida em 2 tomadas (12/12h), por 10 dias. Alternativa (Alergia à Penicilina anafilática): Clindamicina: 30 mg/kg/dia, dividida em 3 tomadas (8/8h), por 10 dias. 5.3. Monitoramento Clínico Melhora esperada: Febre e estado geral em 48-72h pós-ATB. Reavaliação: Se não houver melhora em 48-72h, considerar troca de ATB ou investigação de complicações. 6. Complicações Otite Média Aguda (mais comum). Rinossinusite Bacteriana Aguda. Apneia Obstrutiva do Sono. 7. Sinais de Alarme e Critérios de Encaminhamento/Hospitalização Retorno imediato ou encaminhamento se: Desconforto respiratório: Tiragem, batimento de aletas, gemência, estridor. Apneia do sono testemunhada. Recusa alimentar completa ou desidratação. Prostração ou toxemia. Sinais de complicação supurativa: Edema/hiperemia periorbital (celulite), abaulamento retrofaríngeo. Falha da terapêutica oral ou impossibilidade de administração. Febre persistente >72h após início do ATB. Hipoxemia (SpO2 < 92% em ar ambiente). 8. Prevenção Calendário vacinal atualizado (Pneumocócica, Hib). Higiene das mãos, evitar tabagismo passivo. Manejo de rinite alérgica.

Categoria

Infecciosas e Exantemáticas > Odontogênicas e ORL > Adenoidite Aguda

Conduta Completa

1. Definição e Contexto A adenoidite aguda é a inflamação/infecção do tecido linfoide localizado na nasofaringe (adenoide ou tonsila faríngea). É uma condição extremamente comum na faixa etária pediátrica, especialmente em crianças menores de 10 anos, período em que a adenoide atinge seu maior tamanho fisiológico. O quadro agudo se manifesta com início súbito de obstrução nasal, rinorreia purulenta, febre e roncos. A hipertrofia adenoideana crônica, por sua vez, é uma das principais causas de obstrução nasal persistente em crianças, podendo levar a respiração oral de suplência, alterações no desenvolvimento craniofacial ("fácies adenoidiana"), distúrbios do sono como a apneia obstrutiva, e infecções de repetição, como otites médias e rinossinusites. 2. Fisiopatologia A adenoide faz parte do Anel Linfático de Waldeyer, uma estrutura de defesa imunológica contra patógenos inalados e ingeridos. A exposição a vírus, bactérias e alérgenos pode levar a uma inflamação aguda (adenoidite) ou a um aumento crônico do tecido (hipertrofia). A localização anatômica da adenoide na nasofaringe, próxima ao óstio da tuba auditiva e às coanas, explica por que sua inflamação ou hipertrofia causa obstrução nasal e predispõe a quadros de otite média secretora e rinossinusite. 3. Etiologia A etiologia da adenoidite aguda é predominantemente infecciosa, podendo ser viral ou bacteriana. Agentes Virais: São os mais comuns, incluindo Adenovírus, Rinovírus, e Vírus Sincicial Respiratório (VSR). Agentes Bacterianos: Frequentemente ocorrem como uma superinfecção bacteriana após um quadro viral. Os principais patógenos são: Streptococcus pneumoniae Haemophilus influenzae (não tipável) Moraxella catarrhalis Streptococcus pyogenes (Grupo A) 4. Fatores de Risco Idade: Pico de incidência entre 3 e 7 anos. Frequência a creches e escolas: Maior exposição a agentes infecciosos. Rinite alérgica: A inflamação crônica da mucosa nasal pode predispor à hipertrofia e infecção adenoideana. Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE): O refluxo de conteúdo gástrico pode causar irritação e inflamação crônica na nasofaringe. Exposição à fumaça de cigarro (tabagismo passivo). 5. Apresentação Clínica O quadro clínico da adenoidite aguda é de início súbito e inclui: Obstrução nasal: Principal sintoma, levando a respiração oral. Rinorreia: Inicialmente clara, pode se tornar mucopurulenta (amarelada/esverdeada). Febre: Geralmente presente. Roncos e sono agitado: Devido à obstrução da via aérea superior. Voz hiponasal (rinolalia clausa): Voz "fanhosa" pela falta de ressonância nasal. Tosse: Frequentemente noturna, por gotejamento pós-nasal. Halitose: Mau hálito pode estar presente. Otalgia ou sinais de otite média aguda: Pela disfunção da tuba auditiva. 6. Diagnóstico 6.1. Critérios Clínicos O diagnóstico é primariamente clínico, baseado na anamnese e no exame físico com os sinais e sintomas característicos de início agudo. 6.2. Exame Físico Rinoscopia anterior: Pode revelar mucosa nasal edemaciada e presença de secreção purulenta no assoalho nasal ou em meato médio. Oroscopia: Visualização de secreção purulenta escorrendo pela parede posterior da orofaringe. As tonsilas palatinas (amígdalas) podem estar hiperemiadas ou hipertrofiadas concomitantemente. Otoscopia: Essencial para avaliar a presença de otite média aguda ou secretora associada. Palpação cervical: Pode revelar linfadenopatia cervical reacional. 6.3. Exames Complementares Exames de imagem não são rotineiramente indicados para o diagnóstico de adenoidite aguda. A nasofibroscopia flexível é o padrão-ouro para visualizar diretamente a adenoide e a nasofaringe, mas seu uso é mais comum em quadros crônicos ou recorrentes, sendo de difícil execução na criança pequena com quadro agudo. A radiografia de cavum é um método menos preciso e em desuso. 6.4. Diagnóstico Diferencial A tabela abaixo resume os principais diagnósticos diferenciais da adenoidite aguda. | Condição | Características Principais | Diferenças Chave da Adenoidite Aguda | |---|---|---| | Rinossinusite Bacteriana Aguda | Dor/pressão facial, tosse (diurna e noturna), rinorreia purulenta persistente >10 dias ou piora após melhora inicial. | A dor facial é mais proeminente. O diagnóstico de RBA tem critérios temporais específicos. As duas condições podem coexistir. | | Infecção de Vias Aéreas Superiores (IVAS) Viral | Rinorreia clara, tosse, febre baixa, sintomas autolimitados (melhora em 5-7 dias). | A rinorreia na adenoidite tende a ser purulenta e a obstrução nasal mais severa. A febre pode ser mais alta. | | Corpo Estranho Nasal | Rinorreia purulenta e fétida, unilateral, de início súbito. | A unilateralidade dos sintomas é o principal sinal de alerta. | | Rinite Alérgica | Prurido nasal, espirros em salva, rinorreia aquosa, obstrução nasal crônica ou sazonal. Ausência de febre. | Predomínio de sintomas alérgicos (prurido, espirros) e ausência de quadro infeccioso agudo (febre, secreção purulenta). | | Faringoamigdalite Estreptocócica | Dor de garganta intensa, exsudato amigdaliano, petéquias em palato, linfadenopatia cervical dolorosa. Rinorreia e tosse são incomuns. | O foco principal dos sintomas é a orofaringe (dor de garganta), com menor componente de obstrução e secreção nasal. | 7. Manejo e Tratamento 7.1. Medidas Gerais Hidratação oral: Fundamental para fluidificar secreções. Lavagem nasal com solução salina: Realizar lavagens de alto volume e baixa pressão (com seringa ou dispositivos específicos) várias vezes ao dia para remover secreções, melhorar a respiração e o conforto. Analgesia e antitérmicos: Ibuprofeno (5-10 mg/kg/dose, a cada 6-8h) ou Dipirona (20-25 mg/kg/dose, a cada 6h) se febre (temperatura axilar ≥37,8°C) ou dor. Paracetamol é uma alternativa. 7.2. Tratamento Farmacológico A antibioticoterapia está indicada nos casos com forte suspeita de etiologia bacteriana (quadro arrastado, febre alta, secreção purulenta abundante). Primeira Linha: Amoxicilina: 50 mg/kg/dia, dividida em 8/8h, por 7 a 10 dias. Amoxicilina-Clavulanato: 50 mg/kg/dia (cálculo pela amoxicilina), dividida em 12/12h, por 7 a 10 dias. É a escolha em casos de falha terapêutica prévia, uso recente de antibióticos (<30 dias) ou em crianças que frequentam creche. Alternativa (Alergia à Penicilina não anafilática): Cefuroxima (axetil): 30 mg/kg/dia, dividida em 12/12h. Cefpodoxima: 10 mg/kg/dia, dividida em 12/12h. Alternativa (Alergia à Penicilina anafilática): Clindamicina: 30 mg/kg/dia, dividida em 8/8h. Azitromicina ou Claritromicina: Podem ser consideradas, mas as taxas de resistência do S. pneumoniae são elevadas. 8. Complicações Otite Média Aguda (OMA): A complicação mais comum, devido à obstrução da tuba auditiva. Rinossinusite Bacteriana Aguda: Por obstrução da drenagem dos seios paranasais. Adenoidite Crônica: Quadros recorrentes podem levar à inflamação persistente. Apneia Obstrutiva do Sono: Em casos de grande hipertrofia, a obstrução aguda pode exacerbar ou desencadear pausas respiratórias durante o sono. 9. Sinais de Alarme e Critérios de Encaminhamento/Hospitalização A reavaliação é indicada se não houver melhora clínica em 48-72 horas após o início do antibiótico. O encaminhamento para um especialista (Otorrinolaringologista) ou hospitalização deve ser considerado na presença de: Sinais de desconforto respiratório: Tiragem subcostal, batimento de aletas nasais, gemência ou estridor. Apneia do sono testemunhada pelos pais. Recusa alimentar completa ou sinais de desidratação. Prostração ou toxemia. Sinais de complicação supurativa: Edema ou hiperemia periorbital (suspeita de celulite), abaulamento retrofaríngeo. Falha da terapêutica oral ou impossibilidade de administração da medicação. 10. Prevenção Calendário Vacinal: Manter o calendário vacinal atualizado, especialmente com as vacinas que protegem contra patógenos respiratórios, como a Pneumocócica conjugada e a vacina contra Haemophilus influenzae tipo b (presente na Pentavalente). Higiene das mãos e etiqueta da tosse. Evitar exposição ao tabagismo passivo. Manejo adequado de comorbidades, como a rinite alérgica. 11. Referências 1. BRASIL. Ministério da Saúde. Calendário Nacional de Vacinação. Brasília: Ministério da Saúde, 2025. 2. MANICA, D. et al. Obstrução Nasal no Recém-Nascido: Diagnóstico Diferencial. International Archives of Otorhinolaryngology, v. 13, n. 3, p. 340-345, 2009. 3. MERCK SHARP & DOHME. Distúrbios da adenoide. Manual MSD Versão para Profissionais de Saúde, 2023. 4. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Adenoide. Rio de Janeiro: SBP, [s.d.]. Disponível em: Acesso em: 10 nov. 2025. 5. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Calendário de Vacinação da SBP 2025/2026. Rio de Janeiro: SBP, 2025. 6. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Departamento de Infectologia. Recomendação para conduta de crianças e adolescentes com faringoamigdalites agudas. Jornal de Pediatria, v. 82, n. 2, p. 159-160, 2006. 7. TREAT, C. J.; PIGNATARI, S. S. N. Hipertrofia de tonsilas faríngea e palatinas. In: CAMPOS JÚNIOR, D.; BURNS, D. A. R.; LOPEZ, F. A. Tratado de Pediatria. 5. ed. Barueri: Manole, 2023.

Tratamento

1. Orientações Gerais ao Prescritor O diagnóstico da adenoidite aguda é clínico. A antibioticoterapia é reservada para casos com forte suspeita de etiologia bacteriana. A lavagem nasal com solução salina isotônica (0,9%) em grande volume é a medida mais importante do tratamento de suporte, devendo ser orientada e incentivada. A reavaliação clínica em 48-72 horas é crucial para verificar a resposta ao tratamento instituído. 2. Tratamento Ambulatorial (Casos Não Complicados) 2.1. Medidas de Suporte (Prescrição Obrigatória) 1. Lavagem Nasal: Solução Fisiológica 0,9%: Realizar lavagem nasal com 5 a 20 mL em cada narina (volume conforme a idade e aceitação da criança), com seringa sem agulha, de 4 a 6 vezes ao dia, ou sempre que houver obstrução. 2. Controle da Febre e Dor (Prescrever se necessário): Dipirona Gotas 500 mg/mL: Administrar 1 gota/kg/dose, via oral, a cada 6 horas, se temperatura axilar ≥ 37,8°C ou dor. OU Ibuprofeno Suspensão 100 mg/5mL: Administrar 0,5 mL/kg/dose (equivalente a 10 mg/kg/dose), via oral, a cada 6 a 8 horas, se temperatura axilar ≥ 37,8°C ou dor. 2.2. Antibioticoterapia (Primeira Linha) Indicações: Febre alta (≥39°C), secreção nasal purulenta abundante, quadro arrastado (>10 dias sem melhora) ou com piora após melhora inicial ("dupla piora"). Opção 1 (Preferencial): Amoxicilina Suspensão 250mg/5mL ou 500mg/5mL: Dose: 50 mg/kg/dia, dividida em 2 ou 3 tomadas (8/8h ou 12/12h). Duração: 7 a 10 dias. Opção 2 (Falha terapêutica, uso recente de ATB, creche): Amoxicilina + Clavulanato de Potássio Suspensão 400mg+57mg/5mL: Dose: 50 mg/kg/dia (calculado pela amoxicilina), dividida em 2 tomadas (12/12h). Duração: 7 a 10 dias. 2.3. Antibioticoterapia (Alternativa em Alergia) Alergia a Penicilina (Não anafilática / rash): Cefuroxima (axetil) Suspensão 250mg/5mL: Dose: 30 mg/kg/dia, dividida em 2 tomadas (12/12h). Duração: 10 dias. Alergia a Penicilina (Anafilática / urticária / anafilaxia): Clindamicina Solução 75mg/5mL: Dose: 30 mg/kg/dia, dividida em 3 tomadas (8/8h). Duração: 10 dias. 3. Monitoramento Clínico Melhora esperada: A febre e o estado geral devem apresentar melhora significativa em 48 a 72 horas após o início do antibiótico. Persistência dos sintomas: A obstrução nasal e a rinorreia podem demorar mais tempo para resolver completamente. Falha terapêutica: Ausência de melhora após 72 horas de antibioticoterapia adequada indica necessidade de reavaliação para troca do antimicrobiano ou investigação de complicações. 4. Sinais de Alarme para Retorno Imediato Orientar os pais a procurar atendimento de urgência se a criança apresentar: [ ] Dificuldade para respirar: Respiração rápida, afundamento das costelas (tiragem), chiado ou gemido. [ ] Piora importante do estado geral: Prostração, sonolência excessiva ou irritabilidade intensa. [ ] Recusa completa de líquidos ou alimentos. [ ] Sinais de desidratação: Boca seca, choro sem lágrimas, diminuição do volume de urina. [ ] Febre que persiste por mais de 72 horas após o início do antibiótico. [ ] Inchaço ou vermelhidão ao redor dos olhos. [ ] Dor de cabeça muito forte ou rigidez de nuca. 5. Critérios de Hospitalização Hipoxemia (SpO2 < 92% em ar ambiente). Desconforto respiratório moderado a grave. Desidratação ou incapacidade de manter hidratação oral. Aparência toxêmica ou sinais de sepse. Suspeita de complicação supurativa (ex: celulite orbitária, abscesso retrofaríngeo). Necessidade de antibioticoterapia endovenosa por falha ou impossibilidade da via oral.

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