Enterobíase

Resumo

1. Definição e Contexto Causa: Helmintíase intestinal por Enterobius vermicularis. Transmissão: Fecal-oral, ingestão de ovos infectantes. Epidemiologia: Extremamente comum em crianças, especialmente em idade escolar e pré-escolar. Exclusiva de humanos. Impacto: Geralmente benigna, mas causa prurido anal intenso e distúrbios do sono. 2. Apresentação Clínica Essencial Sintoma Cardinal: Prurido anal noturno, levando a escoriações e infecções secundárias. Outros: Alterações do sono (irritabilidade, insônia), vulvovaginite em meninas (migração de vermes). Assintomática: Maioria das infecções. 3. Diagnóstico Clínico: Baseado no prurido anal noturno. Confirmação Laboratorial (Método de Escolha): Método de Graham (Fita adesiva): Aplicar fita transparente na região perianal pela manhã (antes de evacuar/banho). Examinar ao microscópio. Recomendação: Coletar por 3 a 5 dias consecutivos para aumentar sensibilidade. Inspeção Visual: Vermes adultos (brancos, filiformes, 8-13 mm) podem ser vistos na região perianal à noite ou nas fezes. Exame de Fezes: Baixa sensibilidade, não recomendado. 4. Diagnóstico Diferencial Dermatite de contato ou atópica Candidíase perianal Escabiose Fissura anal 5. Manejo e Tratamento (Integrado) Princípios Fundamentais: Tratamento Familiar: MANDATÓRIO tratar TODOS os membros da família e contactantes domiciliares simultaneamente, mesmo assintomáticos. Repetir a Dose: A dose do anti-helmíntico deve ser repetida em 14 dias para eliminar vermes eclodidos de ovos não afetados pela primeira dose. Tratamento Farmacológico (Dose Única, Repetir em 14 dias): Albendazol: Crianças > 2 anos: 400 mg, VO. Crianças de 1 a 2 anos: 200 mg, VO. Apresentações: Suspensão 40 mg/mL; Comprimidos 200/400 mg. Mebendazol: Crianças > 1 ano: 100 mg, VO. Apresentações: Suspensão 20 mg/mL; Comprimidos 100 mg. Pamoato de Pirantel: Crianças > 6 meses: 11 mg/kg, VO (dose máxima de 1 g). Apresentação: Suspensão 250 mg/5mL. Exemplo (15 kg): 11 mg/kg 15 kg = 165 mg = 3,3 mL da suspensão. Medidas de Higiene e Controle Ambiental (Cruciais): Higiene Pessoal: Manter unhas curtas e limpas. Lavagem rigorosa das mãos (após banheiro, antes de comer). Evitar roer unhas. Banhos matinais (chuveiro): Para remover ovos da região perianal. Vestuário: Trocar e lavar diariamente roupas íntimas e pijamas. Roupas de Cama: Lavar em água quente (≥60°C) no primeiro dia de tratamento. Não sacudir. Ambiente: Limpar e aspirar o quarto, especialmente próximo à cama. Alívio Sintomático: Para prurido intenso: Anti-histamínicos sedativos (ex: hidroxizina) por curto período. Pomadas de óxido de zinco. 6. Complicações (Raras) Infecção bacteriana secundária da pele perianal. Vulvovaginite, salpingite em meninas. Apendicite (controversa). 7. Prognóstico e Seguimento Prognóstico: Excelente com tratamento adequado. Reinfecção: Altas taxas, especialmente em ambientes coletivos, se medidas de higiene e tratamento dos contatos não forem seguidos. Seguimento: Apenas se sintomas persistirem após o tratamento completo (duas doses). 8. Sinais de Alerta para Retorno Orientar a família a retornar se a criança apresentar: Persistência do prurido anal intenso após a segunda dose. Sinais de infecção de pele na região anal (vermelhidão, calor, dor, secreção). Dor abdominal forte ou persistente. Prurido ou corrimento vaginal que não melhora. Reinfecções muito frequentes apesar das orientações.

Categoria

Infecciosas e Exantemáticas > Parasitoses e micologias > Enterobíase

Conduta Completa

1. Definição e Contexto A enterobíase, também conhecida como oxiuríase, é uma helmintíase intestinal causada pelo nematódeo Enterobius vermicularis. Trata-se de uma das parasitoses mais comuns em todo o mundo, com alta prevalência em crianças, especialmente na faixa etária escolar. A infecção é exclusiva de humanos e sua transmissão ocorre pela via fecal-oral, através da ingestão de ovos infectantes presentes em mãos, alimentos ou objetos contaminados. Apesar de geralmente ser uma condição benigna, pode causar prurido anal intenso e perturbações do sono, impactando a qualidade de vida da criança e de seus familiares. 2. Fisiopatologia O ciclo de vida do Enterobius vermicularis é monoxênico (ocorre em um único hospedeiro). Após a ingestão dos ovos, as larvas eclodem no intestino delgado e migram para o ceco, onde se tornam vermes adultos. Após a cópula, os machos são eliminados nas fezes. As fêmeas grávidas migram do ceco para a região perianal, principalmente durante a noite, para depositar seus ovos. Uma única fêmea pode depositar milhares de ovos, que se tornam infectantes em poucas horas. O prurido intenso é causado por uma resposta inflamatória à presença dos vermes e ovos na pele perianal. A autoinfecção é extremamente comum, ocorrendo quando a criança coça a região anal e leva os ovos à boca. 3. Fatores de Risco Os principais fatores de risco para a enterobíase estão associados à alta transmissibilidade dos ovos em ambientes coletivos e à higiene pessoal. Faixa etária: Prevalência máxima em crianças em idade escolar e pré-escolar. Ambientes coletivos: Frequência em creches, escolas e outras instituições com grande número de crianças. Aglomeração domiciliar: Viver em residências com muitas pessoas facilita a transmissão intrafamiliar. Higiene inadequada: Lavagem de mãos ineficiente, unhas compridas e o hábito de roer unhas (onicofagia). 4. Apresentação Clínica A maioria das infecções é assintomática. Quando presentes, os sinais e sintomas mais comuns são: Prurido anal: É o sintoma cardinal, tipicamente mais intenso à noite, podendo levar a escoriações e infecções bacterianas secundárias. Alterações do sono: Irritabilidade, insônia, agitação noturna e pesadelos devido ao prurido. Sintomas inespecíficos: Dor abdominal, náuseas e perda de apetite podem ocorrer, mas são menos comuns. Vulvovaginite: Em meninas, a migração de vermes para a região genital pode causar prurido vulvar e corrimento vaginal. 5. Diagnóstico O diagnóstico é primariamente clínico, baseado na sintomatologia característica de prurido anal noturno. A confirmação laboratorial é feita pela identificação dos ovos ou, ocasionalmente, dos vermes adultos. Método de Graham (Fita adesiva): É o método de escolha. Consiste em aplicar uma fita adesiva transparente na região perianal pela manhã, antes de a criança evacuar ou tomar banho. A fita é então colada em uma lâmina de vidro e examinada ao microscópio para visualização dos ovos. Recomenda-se a coleta por 3 a 5 dias consecutivos para aumentar a sensibilidade. Inspeção visual: Ocasionalmente, os vermes adultos (pequenos, brancos e filiformes, com 8 a 13 mm) podem ser visualizados na região perianal, principalmente 2 a 3 horas após a criança adormecer, ou nas fezes. Exame parasitológico de fezes: Possui baixa sensibilidade para o diagnóstico de enterobíase, pois os ovos não são habitualmente eliminados nas fezes. Diagnóstico Diferencial Dermatite de contato ou atópica Candidíase perianal Fissura anal Hemorroidas (raro em crianças) Escabiose Abuso sexual 6. Manejo e Tratamento O tratamento visa eliminar a infecção, aliviar os sintomas e prevenir a reinfecção e a transmissão. É fundamental o tratamento simultâneo de todos os membros da família, mesmo os assintomáticos, para quebrar o ciclo de transmissão. Tratamento Farmacológico Os fármacos de escolha são os anti-helmínticos benzimidazólicos e o pamoato de pirantel. A dose deve ser repetida em 2 semanas para eliminar os vermes que eclodiram dos ovos após o tratamento inicial, já que os medicamentos não são eficazes contra os ovos. | Fármaco | Dose Pediátrica | Apresentações Comuns | Observações | |---|---|---|---| | Albendazol | Crianças > 2 anos: 400 mg, VO, dose única. Crianças de 1 a 2 anos: 200 mg, VO, dose única. | Suspensão 40 mg/mL; Comprimidos mastigáveis 200 mg e 400 mg. | Repetir a dose em 2 semanas. | | Mebendazol | Crianças > 1 ano: 100 mg, VO, dose única. | Suspensão 20 mg/mL; Comprimidos 100 mg. | Repetir a dose em 2 semanas. | | Pamoato de Pirantel | 11 mg/kg (dose máxima de 1 g), VO, dose única. | Suspensão 50 mg/mL. | Repetir a dose em 2 semanas. | Medidas de Higiene e Controle Ambiental As medidas não farmacológicas são cruciais para o sucesso do tratamento e prevenção de recidivas. Higiene pessoal: Manter as unhas curtas e limpas, evitar roer unhas e orientar a lavagem rigorosa das mãos após usar o banheiro e antes de se alimentar. Banho: Banhos matinais (de chuveiro) para remover os ovos depositados na região perianal durante a noite. Vestuário: Trocar e lavar diariamente roupas íntimas e pijamas. Roupas de cama: Lavar as roupas de cama e toalhas da pessoa infectada em água quente (≥60°C) no primeiro dia de tratamento. Ambiente: Evitar sacudir as roupas de cama para não dispersar os ovos no ar. Limpar e aspirar o quarto, especialmente próximo à cama. 7. Complicações As complicações são raras e geralmente associadas a infestações maciças ou à migração ectópica dos vermes. Infecção bacteriana secundária da pele perianal devido a escoriações. Vulvovaginite, salpingite ou endometrite em meninas. Apendicite (relação causal controversa, mas vermes podem ser encontrados no apêndice). Infecção do trato urinário. 8. Prognóstico e Seguimento O prognóstico é excelente com o tratamento adequado. No entanto, as taxas de reinfecção são altas, especialmente em crianças que frequentam ambientes coletivos, se as medidas de higiene e o tratamento dos contatos não forem rigorosamente seguidos. O seguimento clínico é indicado apenas se os sintomas persistirem após o tratamento completo (duas doses). 9. Prevenção A prevenção baseia-se nas mesmas medidas de higiene e controle ambiental recomendadas durante o tratamento. A educação em saúde para crianças e cuidadores sobre a importância da lavagem das mãos e da higiene pessoal é a principal estratégia para reduzir a transmissão em casa e na comunidade. 10. Referências 1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 8. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. 2. NEVES, D. P. Parasitologia Humana. 13. ed. São Paulo: Atheneu, 2016. 3. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (SBP). Parasitoses intestinais. Departamento Científico de Gastroenterologia, 2023. 4. REY, L. Parasitologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 5. TELLESSAÚDERS-UFRGS. Como tratar parasitoses intestinais em crianças? Porto Alegre: TelessaúdeRS-UFRGS, 2024. 6. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (SBP). Documento Científico: Parasitoses intestinais. Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial, 2020. 7. CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC). Parasites - Enterobiasis (also known as Pinworm Infection). Atlanta: CDC, 2023. 8. SOCIEDADE PORTUGUESA DE PEDIATRIA. Protocolo de parasitoses intestinais. Acta Pediatr Port, 2012;43(1):35-41.

Tratamento

1. Orientações Gerais ao Prescritor 1. Tratamento Familiar: É mandatório tratar simultaneamente todos os contactantes domiciliares (pais, irmãos, cuidadores), mesmo que assintomáticos, para interromper o ciclo de reinfecção. 2. Repetir a Dose: O tratamento consiste em uma dose única do anti-helmíntico, que deve ser obrigatoriamente repetida após 14 dias. Os fármacos atuais não eliminam os ovos, e a segunda dose visa erradicar os vermes que eclodiram nesse intervalo. 3. Reforçar Medidas de Higiene: O sucesso terapêutico depende da associação do tratamento farmacológico com medidas rigorosas de higiene pessoal e ambiental. Forneça orientações claras à família. 4. Sintomáticos: Para alívio do prurido intenso, especialmente noturno, pode-se considerar o uso de anti-histamínicos sedativos (ex: hidroxizina) por curto período, avaliando o risco-benefício. Pomadas de óxido de zinco podem criar uma barreira protetora na pele perianal. 2. Esquemas Terapêuticos Pediátricos Cenário: Tratamento Ambulatorial de Enterobíase não complicada --- Opção 1: Albendazol Para crianças > 2 anos: Albendazol suspensão 40 mg/mL. Dose: 10 mL (400 mg), via oral, em dose única. Repetir a mesma dose após 14 dias. Para crianças de 1 a 2 anos: Albendazol suspensão 40 mg/mL. Dose: 5 mL (200 mg), via oral, em dose única. Repetir a mesma dose após 14 dias. --- Opção 2: Mebendazol Para crianças > 1 ano: Mebendazol suspensão 20 mg/mL. Dose: 5 mL (100 mg), via oral, em dose única. Repetir a mesma dose após 14 dias. Alternativa: Mebendazol comprimido 100 mg, 1 comprimido, VO, dose única. Repetir em 14 dias. --- Opção 3: Pamoato de Pirantel Para crianças > 6 meses (conforme algumas referências): Pamoato de Pirantel suspensão 250 mg/5mL. Dose: 11 mg/kg (não exceder 1 g ou 20 mL), via oral, em dose única. Repetir a mesma dose após 14 dias. Exemplo de cálculo para uma criança de 15 kg: 11 mg/kg 15 kg = 165 mg (165 mg / 250 mg) 5 mL = 3,3 mL 3. Medidas de Higiene e Controle Ambiental (Orientar a Família) Checklist de Orientações para a Família: [ ] Tratar todos os moradores da casa no mesmo dia. [ ] Repetir o medicamento em todos após 2 semanas. [ ] Lavar as mãos rigorosamente com água e sabão após ir ao banheiro, antes de comer e ao chegar da rua. [ ] Manter as unhas de todos bem curtas e limpas. Evitar que a criança roa as unhas. [ ] Dar um banho de chuveiro na criança todas as manhãs para remover os ovos da região anal. [ ] Trocar diariamente as roupas íntimas e os pijamas. [ ] No primeiro dia de tratamento, lavar todas as roupas de cama, toalhas e pijamas com água quente. [ ] Não sacudir lençóis ou cobertores para não espalhar os ovos no ar. [ ] Manter a casa, especialmente o quarto da criança, bem limpa e, se possível, ensolarada. 4. Sinais de Alerta para Retorno Orientar a família a retornar ao serviço de saúde se a criança apresentar: [ ] Persistência do prurido anal intenso mesmo após a segunda dose do medicamento. [ ] Sinais de infecção de pele na região anal (vermelhidão intensa, calor, dor ou secreção purulenta). [ ] Dor abdominal forte ou persistente. [ ] Em meninas, prurido ou corrimento vaginal que não melhora. [ ] Reinfecções muito frequentes apesar de seguir todas as orientações.

Acesso Interativo

Acesse o conteúdo completo e interativo em Enterobíase