Teníase

Resumo

1. Definição e Relevância Clínica Teníase: Infecção intestinal por verme adulto (Taenia solium - suíno; T. saginata - bovino). Adquirida por ingestão de carne crua ou malcozida contendo cisticercos. Cisticercose: Condição grave causada pela ingestão de ovos de T. solium. Larvas encistam em diversos tecidos, principalmente no Sistema Nervoso Central (SNC), causando Neurocisticercose (NCC). 2. Fatores de Risco Consumo de carne suína/bovina crua ou malcozida. Saneamento básico e higiene pessoal precários. Contato domiciliar com portador de T. solium. 3. Apresentação Clínica Teníase Intestinal: Maioria assintomática ou sintomas inespecíficos: dor abdominal, náuseas, alteração de apetite, perda de peso. Sinal patognomônico: Eliminação ativa ou passiva de proglotes nas fezes ou roupa íntima. Neurocisticercose (NCC): Crise convulsiva (manifestação mais comum). Cefaleia, vômitos, sinais de hipertensão intracraniana, déficits neurológicos focais. 4. Diagnóstico Teníase Intestinal: Exame Parasitológico de Fezes (EPF): Método de escolha. Pesquisa de proglotes ou ovos de Taenia sp.. Coleta de múltiplas amostras aumenta sensibilidade. Neurocisticercose (NCC): Neuroimagem (Tomografia Computadorizada ou Ressonância Magnética de crânio): Essencial para identificar cistos viáveis, em degeneração ou calcificados. Sorologia (sangue/LCR) pode auxiliar. Diagnóstico Diferencial: Outras parasitoses, DII. Para NCC: tumores do SNC, tuberculose, epilepsia de outras etiologias. 5. Manejo e Tratamento da Teníase Intestinal Objetivo: Eliminar o verme adulto e prevenir a cisticercose. Fármaco de Escolha: Praziquantel Dose: 5 a 10 mg/kg, Via Oral, em DOSE ÚNICA. Administrar durante uma refeição. Alternativa: Niclosamida (comprimido mastigável) < 2 anos: 500 mg (1 comp) em dose única. 2 a 8 anos: 1 g (2 comp) em dose única. > 8 anos: 2 g (4 comp) em dose única. Mastigar/triturar, preferencialmente em jejum. Conduta Adicional: Orientar o tratamento de todos os contatos domiciliares. 6. Manejo da Neurocisticercose (NCC) CRÍTICO: Todo paciente com suspeita ou confirmação de NCC deve ser encaminhado para avaliação especializada (infectologista e neurologista pediátrico) e, preferencialmente, hospitalização. Tratamento individualizado: anti-helmínticos (Albendazol ou Praziquantel), corticosteroides (para controlar edema inflamatório), anticonvulsivantes. 7. Complicações Principal e mais temida: Neurocisticercose (NCC), uma das maiores causas de epilepsia adquirida em áreas endêmicas. Raras: Obstrução intestinal, cisticercose ocular. 8. Seguimento e Sinais de Alerta Seguimento Teníase: Realizar EPF de controle 1 e 3 meses após o tratamento para confirmar erradicação. Sinais de Alerta para Retorno Imediato (Sugestivos de NCC ou complicação grave): Neurológicos: Primeira crise convulsiva, cefaleia de forte intensidade/súbita, vômitos "em jato", alterações visuais, alteração do nível de consciência ou sonolência excessiva. Abdominais Graves: Dor abdominal súbita/intensa, sinais de obstrução intestinal (vômitos persistentes, parada de eliminação de gases e fezes). Reação adversa grave ao medicamento (urticária, angioedema, dificuldade respiratória). 9. Prevenção Educação em Saúde: Cozinhar completamente as carnes suína e bovina. Higiene Pessoal: Lavar as mãos rigorosamente com água e sabão. Saneamento Básico: Disposição adequada das fezes humanas. Consumo de água tratada e alimentos bem lavados.

Categoria

Infecciosas e Exantemáticas > Parasitoses e micologias > Teníase

Conduta Completa

1. Definição e Contexto A teníase é uma infecção intestinal causada pela forma adulta (verme) de cestoides do gênero Taenia. As espécies de maior importância pediátrica são a Taenia solium (hospedeiro intermediário: suíno) e a Taenia saginata (hospedeiro intermediário: bovino). O ser humano é o único hospedeiro definitivo. A infecção ocorre pela ingestão de carne suína ou bovina crua ou malcozida contendo a forma larval do parasita (cisticerco). Embora a teníase intestinal geralmente curse com sintomatologia leve, sua principal relevância clínica reside no risco de desenvolvimento de cisticercose, uma condição grave causada pela ingestão acidental de ovos de T. solium. 2. Fisiopatologia Após a ingestão da carne contaminada, o cisticerco se aloja no intestino delgado, onde o escólex (cabeça do verme) se fixa à mucosa. O verme cresce, formando um corpo segmentado por proglotes, podendo atingir metros de comprimento. As proglotes grávidas, repletas de ovos, se desprendem e são eliminadas nas fezes, contaminando o ambiente. A cisticercose ocorre quando há ingestão de ovos de T. solium (via fecal-oral, alimentos ou água contaminados). Os ovos eclodem no intestino, liberando oncosferas que penetram na parede intestinal, caem na circulação e se encistam em diversos tecidos, como músculos, olhos e, mais criticamente, no sistema nervoso central (SNC), causando a neurocisticercose (NCC). 3. Fatores de Risco Os principais fatores de risco na população pediátrica incluem: Consumo de carne suína ou bovina crua ou malcozida. Condições precárias de saneamento básico e higiene pessoal. Contato domiciliar com um portador de Taenia solium. Residência ou viagem para áreas endêmicas. Criação de suínos sem controle sanitário adequado. 4. Apresentação Clínica A maioria das crianças com teníase intestinal é assintomática ou apresenta sintomas vagos e inespecíficos. Quando presentes, os sinais e sintomas mais comuns são: Dor abdominal difusa ou em cólica. Náuseas e alteração do apetite (hiporexia ou fome excessiva). Perda de peso ou dificuldade de ganho ponderal. Eliminação ativa (T. saginata) ou passiva (T. solium) de proglotes nas fezes ou roupa íntima, um sinal patognomônico. Distúrbios digestivos como diarreia ou constipação. A neurocisticercose tem uma apresentação clínica mais grave e variável, dependendo da localização e número de cistos no SNC. A manifestação mais comum é a crise convulsiva de início recente. Outros sintomas incluem cefaleia, vômitos, sinais de hipertensão intracraniana e déficits neurológicos focais. 5. Diagnóstico 5.1. Anamnese e Exame Físico A suspeita diagnóstica é levantada pela história epidemiológica (fatores de risco) e pela queixa de eliminação de proglotes. O exame físico geralmente é inespecífico, podendo revelar dor à palpação abdominal ou baixo peso para a idade. 5.2. Exames Complementares Exame Parasitológico de Fezes (EPF): É o método de escolha para o diagnóstico da teníase intestinal. A pesquisa de proglotes ou ovos de Taenia sp. confirma o diagnóstico. A coleta de múltiplas amostras em dias alternados aumenta a sensibilidade, pois a eliminação é intermitente. Método da Fita Gomada: Pode ser útil para detectar ovos na região perianal, especialmente em casos de T. saginata. Neuroimagem (Neurocisticercose): A Tomografia Computadorizada (TC) ou a Ressonância Magnética (RM) de crânio são essenciais para o diagnóstico da NCC, revelando cistos viáveis, em degeneração (coloidais), calcificados ou hidrocefalia. Sorologia: Testes sorológicos no sangue ou no líquido cefalorraquidiano (LCR), como o ELISA, podem auxiliar no diagnóstico da cisticercose, mas devem ser interpretados em conjunto com os achados clínicos e de imagem. 5.3. Diagnóstico Diferencial O diagnóstico diferencial para os sintomas gastrointestinais inclui outras parasitoses (giardíase, ascaridíase), doença inflamatória intestinal e dor abdominal funcional. Para a neurocisticercose, o diferencial inclui tumores do SNC, tuberculose, abscessos cerebrais e epilepsia de outras etiologias. 6. Manejo e Tratamento O tratamento da teníase intestinal visa eliminar o verme adulto e prevenir a cisticercose na comunidade. Praziquantel: É o fármaco de primeira escolha. A dose recomendada é de 5 a 10 mg/kg, por via oral, em dose única. Niclosamida: É uma alternativa eficaz. As doses variam conforme a idade e o peso. É fundamental orientar o tratamento de todos os contatos domiciliares para interromper o ciclo de transmissão. O manejo da neurocisticercose é complexo e deve ser individualizado, preferencialmente em ambiente hospitalar, com suporte de infectologista e neurologista pediátrico. O tratamento pode incluir o uso de anti-helmínticos (Albendazol ou Praziquantel), corticosteroides (para controlar o edema inflamatório), e anticonvulsivantes. 7. Complicações A principal e mais temida complicação da infecção por T. solium é a neurocisticercose (NCC), uma das principais causas de epilepsia adquirida em áreas endêmicas. Outras complicações, embora raras, incluem: Obstrução intestinal ou apendicite pela migração de proglotes. Cisticercose ocular, podendo levar à perda de visão. Cisticercose muscular ou subcutânea, geralmente assintomática. 8. Prognóstico e Seguimento O prognóstico para a teníase intestinal é excelente após o tratamento adequado. Para a neurocisticercose, o prognóstico é variável e depende da localização, número de lesões e da resposta inflamatória do hospedeiro. O seguimento da teníase intestinal inclui a realização de um EPF de controle 1 e 3 meses após o tratamento para confirmar a erradicação do parasita. Pacientes com NCC necessitam de acompanhamento neurológico e de neuroimagem a longo prazo. 9. Prevenção As medidas preventivas são a chave para o controle do complexo teníase-cisticercose e devem ser fortemente orientadas na consulta pediátrica: Educação em Saúde: Orientar sobre o ciclo da doença. Cozimento Adequado: Cozinhar completamente as carnes suína e bovina a temperaturas seguras. O congelamento da carne também pode inativar os cisticercos. Higiene Pessoal: Lavar as mãos rigorosamente com água e sabão após usar o banheiro, antes de preparar alimentos e antes das refeições. Saneamento Básico: Disposição adequada das fezes humanas para evitar a contaminação do solo e da água. Consumo de Água e Alimentos Seguros: Beber água tratada e lavar bem frutas e verduras antes do consumo. Inspeção Sanitária: Consumir carnes provenientes de estabelecimentos com fiscalização sanitária. 10. Referências 1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Guia de Vigilância em Saúde. 5. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2021. 2. DEL BRUTTO, O. H. et al. Revised diagnostic criteria for neurocysticercosis. Journal of the Neurological Sciences, v. 372, p. 202-210, 2017. 3. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (SBP). Departamento Científico de Gastroenterologia. Parasitoses Intestinais. Junho, 2023. Disponível em: sbp.com.br. 4. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Taeniasis/cysticercosis. Genebra: WHO, 2023. 5. WHITE, A. C. Jr. Neurocysticercosis: Updates on epidemiology, pathogenesis, diagnosis, and management. Annual Review of Medicine, v. 69, p. 117-128, 2018.

Tratamento

1. Orientações Gerais ao Prescritor O tratamento da teníase intestinal é indicado para todos os casos diagnosticados, mesmo que assintomáticos, para eliminar a fonte de ovos de Taenia e prevenir a cisticercose. A escolha do fármaco deve considerar a disponibilidade e a familiaridade do prescritor. O Praziquantel é geralmente a primeira linha. É crucial orientar a família sobre a importância de tratar todos os contatos domiciliares que compartilham os mesmos hábitos alimentares e sanitários. Reforçar as medidas de prevenção (higiene e cozimento de carnes) é parte essencial do tratamento. 2. Esquemas Terapêuticos para Teníase Intestinal (Não complicada) Opção 1: Praziquantel (Primeira Escolha) Fármaco: Praziquantel 600 mg (comprimido sulcado) ou 150 mg. Dose: 5 a 10 mg/kg, Via Oral, em DOSE ÚNICA. Administração: Administrar durante uma refeição com um pouco de líquido. Os comprimidos não devem ser mastigados devido ao sabor amargo, que pode induzir vômito. Exemplo de cálculo para uma criança de 20 kg (dose de 10 mg/kg): Dose total: 20 kg 10 mg/kg = 200 mg. Prescrição: Praziquantel 600 mg. Dar 1/3 do comprimido, via oral, em dose única. Opção 2: Niclosamida (Alternativa) Fármaco: Niclosamida 500 mg (comprimido mastigável). Dose por faixa de peso/idade: Crianças < 2 anos: 500 mg (1 comprimido) em dose única. Pode-se dividir em duas tomadas de 1/2 comprimido com intervalo de 1 hora. Crianças de 2 a 8 anos (ou 11-34 kg): 1 g (2 comprimidos) em dose única. Pode-se dividir em duas tomadas de 1 comprimido com intervalo de 1 hora. Crianças > 8 anos (ou >34 kg): 2 g (4 comprimidos) em dose única. Pode-se dividir em duas tomadas de 2 comprimidos com intervalo de 1 hora. Administração: Os comprimidos devem ser bem mastigados ou triturados e misturados com uma pequena quantidade de água antes de engolir. Administrar preferencialmente pela manhã, em jejum. 3. Monitoramento Pós-Tratamento Clínico: Observar a cessação da eliminação de proglotes e a melhora dos sintomas gastrointestinais. Laboratorial: Recomenda-se realizar Exame Parasitológico de Fezes (EPF) para controle de cura 1 e 3 meses após o término do tratamento. A persistência de ovos ou proglotes indica falha terapêutica e necessidade de retratamento. 4. Sinais de Alerta para Retorno Imediato Orientar os responsáveis a procurar atendimento médico de urgência se a criança apresentar: Sintomas Neurológicos: Primeira crise convulsiva. Cefaleia de forte intensidade, súbita ou progressiva. Vômitos "em jato" (sugestivo de hipertensão intracraniana). Alterações visuais (visão dupla, turvação visual). Alteração do nível de consciência ou sonolência excessiva. Sintomas Abdominais Graves: Dor abdominal súbita, intensa e que não melhora. Sinais de obstrução intestinal (vômitos persistentes, parada de eliminação de gases e fezes). Reação Adversa Grave ao Medicamento: Urticária, angioedema ou dificuldade respiratória. 5. Critérios de Encaminhamento ou Hospitalização Suspeita ou confirmação de Neurocisticercose: Todo paciente com sintomas neurológicos deve ser encaminhado para avaliação especializada e realização de neuroimagem. O tratamento da NCC deve ser, preferencialmente, em regime de internação hospitalar. Falha terapêutica documentada: Casos que permanecem positivos após um segundo ciclo de tratamento adequado. Complicações raras: Apendicite ou colangite por migração de proglotes. Intolerância ao tratamento oral com vômitos incoercíveis.

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