Exantema Súbito (Roséola Infantil)
Resumo
1. Definição e Fisiopatologia
O Exantema Súbito, também conhecido como Roséola Infantil ou "Sexta Doença", é uma doença viral exantemática aguda, benigna e autolimitada, típica da primeira infância. É caracterizada por uma sequência clínica patognomônica de febre alta por alguns dias, seguida por seu desaparecimento súbito e o aparecimento de um exantema cutâneo característico.
Etiologia
A causa principal é o Herpesvírus Humano tipo 6 (HHV-6), especificamente a variante B. Menos frequentemente,
Categoria
Infecciosas e Exantemáticas > Viroses Exantemáticas e Relacionadas > Exantema Súbito (Roséola Infantil)
Conduta Completa
1. Definição e Fisiopatologia
O Exantema Súbito, também conhecido como Roséola Infantil ou "Sexta Doença", é uma doença viral exantemática aguda, benigna e autolimitada, típica da primeira infância. É caracterizada por uma sequência clínica patognomônica de febre alta por alguns dias, seguida por seu desaparecimento súbito e o aparecimento de um exantema cutâneo característico.
Etiologia
A causa principal é o Herpesvírus Humano tipo 6 (HHV-6), especificamente a variante B. Menos frequentemente, pode ser causado pelo Herpesvírus Humano tipo 7 (HHV-7), o que pode explicar raros segundos episódios da doença.
Epidemiologia: É uma doença de distribuição universal. Quase todas as crianças (cerca de 95%) já tiveram contato com o HHV-6 até os 2 anos de idade. O pico de incidência ocorre entre 6 e 18 meses, período em que os anticorpos maternos protetores já diminuíram.
Transmissão: Ocorre principalmente através de gotículas de saliva de contatos próximos, geralmente de adultos assintomáticos que eliminam o vírus periodicamente.
Fisiopatologia
O vírus tem tropismo por linfócitos e se replica, causando uma viremia que é responsável pela fase febril. A resposta imune do hospedeiro controla a replicação viral, levando à súbita defervescência. Acredita-se que o exantema que se segue não seja causado pela ação direta do vírus na pele, mas sim por uma reação imunológica. Após a infecção primária, o HHV-6 permanece latente no organismo por toda a vida.
2. Avaliação Clínica e Diagnóstico
O diagnóstico do exantema súbito é eminentemente clínico e retrospectivo, baseado na sua sequência clássica e inconfundível.
A Sequência Clínica Patognomônica:
1. Fase Febril (dura de 3 a 5 dias): A doença se inicia com o surgimento súbito de febre alta (geralmente 39°C a 40.5°C). O ponto clínico mais importante desta fase é a dissociação clínico-laboratorial: apesar da febre muito alta, a criança geralmente se mantém em bom estado geral, ativa e alerta quando afebril. Podem ocorrer sintomas inespecíficos como irritabilidade, edema palpebral e linfadenopatia cervical ou occipital discreta. Esta é a fase que mais gera ansiedade nos pais e leva à procura por atendimento médico, configurando um quadro de "febre sem sinais localizatórios".
2. Fase de Defervescência: A febre desaparece subitamente, em crise, no terceiro ou quarto dia. A melhora do estado geral da criança é notável.
3. Fase Exantemática (surge 12 a 24 horas após a febre cessar): Com a criança já afebril e sentindo-se bem, surge o exantema maculopapular róseo, com lesões pequenas (2-5 mm). Ele classicamente se inicia no tronco, espalhando-se para o pescoço e, de forma mais discreta, para a face e membros. O exantema não é pruriginoso, desaparece com a digitopressão e é fugaz, durando de algumas horas a 2 dias, sem deixar descamação.
Exames Complementares: Não são necessários para o diagnóstico. Em casos onde são coletados durante a fase febril, o hemograma pode mostrar uma leucopenia com linfocitose relativa, o que pode confundir o clínico.
Diagnóstico Diferencial: O principal desafio é durante a fase febril, onde a roséola entra no diagnóstico diferencial de Febre Sem Sinais Localizatórios (FSSL). Outras doenças exantemáticas como rubéola, sarampo e eritema infeccioso são diferenciadas pela evolução clínica distinta (o exantema ocorre durante a febre).
3. Complicações
A complicação mais comum é a convulsão febril, que ocorre em 5 a 15% dos casos, precipitada pela febre alta e sua rápida elevação. Geralmente são convulsões febris simples, benignas e sem sequelas. Complicações graves como encefalite ou hepatite são extremamente raras em crianças imunocompetentes.
4. Manejo e Tratamento
O tratamento é exclusivamente de suporte e sintomático.
Objetivo: O foco principal é o controle da febre para proporcionar conforto à criança e a manutenção da hidratação.
Medidas Gerais:
Uso de antitérmicos (Paracetamol, Dipirona ou Ibuprofeno) de forma regrada durante a fase febril.
Incentivar a ingestão de líquidos.
Manter a criança com roupas leves e em ambiente fresco.
Manejo da Convulsão Febril: Se ocorrer uma convulsão, orientar os pais a manter a calma, posicionar a criança de lado para proteger a via aérea e não colocar nada na boca. A maioria das crises cessa espontaneamente em menos de 5 minutos. Crises prolongadas exigem manejo médico de emergência com benzodiazepínicos.
Antibióticos e Antivirais: Não têm nenhum papel no tratamento do exantema súbito não complicado e são contraindicados.
5. Prognóstico e Prevenção
O prognóstico é excelente. É uma doença benigna que se resolve completamente sem deixar sequelas na esmagadora maioria dos casos. A infecção confere imunidade duradoura. Não existe vacina específica e, como a transmissão ocorre antes do diagnóstico, as medidas de prevenção são pouco eficazes.
Referências Bibliográficas
1. American Academy of Pediatrics. Human Herpesvirus 6 (including Roseola) and 7. In: Red Book: 2024 Report of the Committee on Infectious Diseases (33rd ed.). (A principal diretriz clínica pediátrica norte-americana).
2. Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). (2019). Exantemas na Infância. Documento Científico.
3. Zerr, D. M., Meier, A. S., Selke, S. S., et al. (2005). A population-based study of primary human herpesvirus 6 infection. The New England Journal of Medicine, 352(8), 768–776. (Estudo clássico sobre a epidemiologia da infecção primária por HHV-6).
4. Mullins, T. B., & Krishnamurthy, K. (2023). Roseola Infantum. In StatPearls. StatPearls Publishing. (Artigo de revisão atualizado e de acesso rápido).
5. Tesini, B. L., Epstein, L. G., & Caserta, M. T. (2014). Clinical impact of primary infection with roseoloviruses. Current Opinion in Virology, 9, 91-96.
6. Barone, S. R., & Friedman, A. D. (2020). Management of Fever in Infants and Young Children. Pediatrics in Review, 41(11), 587-589. (Contextualiza o manejo da febre sem foco, cenário inicial da roséola).
Tratamento
1. Orientações Gerais ao Prescritor
O diagnóstico da Roséola é clínico e retrospectivo. A principal função do médico é manejar a febre sem foco inicial, evitar exames desnecessários, não prescrever antibióticos e educar a família sobre a evolução benigna e esperada da doença.
A prescrição é focada no controle sintomático da febre e na orientação clara sobre os sinais de alerta.
2. Prescrição para Manejo Sintomático (Fase Febril)
Controle da Febre (prescrever de forma regrada):
Prescrição (Opção 1):
1. Dipirona solução oral 500mg/mL. Prescrever na dose de 20 mg/kg/dose, por via oral, a cada 6 horas, enquanto a febre persistir e causar desconforto.
Prescrição (Opção 2):
1. Ibuprofeno suspensão oral 100mg/mL (para > 6 meses). Prescrever na dose de 10 mg/kg/dose, por via oral, a cada 8 horas, enquanto a febre persistir.
Medidas de Suporte:
1. Orientar a oferta frequente de líquidos (leite materno, fórmula, água) para manter a hidratação.
2. Manter a criança com roupas leves e em ambiente fresco. Banhos mornos podem ajudar a baixar a temperatura.
3. Prescrição para o Manejo da Convulsão Febril Simples
Orientação para a Família (durante a crise):
1. Manter a calma. Colocar a criança deitada de lado em uma superfície segura.
2. NÃO colocar a mão ou qualquer objeto na boca da criança.
3. Abaixar a febre com o antitérmico prescrito (via retal, se disponível) assim que a crise cessar.
4. Procurar atendimento médico para avaliação após o primeiro episódio de convulsão.
Na Sala de Emergência (se crise > 5 minutos):
Prescrição:
1. Diazepam solução retal (Stesolid®) 5mg ou 10mg. Administrar o conteúdo de 1 bisnaga, via retal.
ou Midazolam solução. Administrar 0,2 a 0,5 mg/kg (dose máxima de 10 mg) por via intranasal ou bucal.
4. Prescrição de Orientações para a Família e Sinais de Alerta
Fornecer por escrito:
1. Sobre a Doença: "Seu filho(a) tem uma suspeita forte de uma doença viral comum e benigna chamada Exantema Súbito ou Roséola. É esperado que ele(a) tenha febre alta por 3 a 5 dias, mas mantendo um bom estado geral. Após a febre desaparecer subitamente, é esperado o surgimento de uma erupção cutânea rosada no tronco, que não coça e some em 1 ou 2 dias. Esta é a confirmação do diagnóstico."
2. Tratamento: "O tratamento é apenas para o conforto da criança. Continue administrando o antitérmico prescrito para a febre e oferecendo líquidos. Antibióticos não são necessários."
3. Contágio: "O contágio ocorre durante a fase da febre. Após o surgimento do exantema, a criança pode retornar à creche/escola, pois não está mais transmitindo o vírus."
4. Sinais de Alerta para Retorno Imediato:
Se a febre persistir por mais de 5 dias.
Se a criança parecer muito prostrada, sonolenta ou "caída", mesmo quando a febre baixa.
Se surgirem manchas roxas na pele ou sinais de sangramento.
Se a convulsão durar mais de 5 minutos ou se a criança não recuperar a consciência normalmente após a crise.
* Se a criança se recusar a aceitar líquidos e apresentar sinais de desidratação.
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