Parotidite (Caxumba)

Resumo

CAXUMBA (PAROTIDITE INFECCIOSA) - RESUMO RÁPIDO PEDIATRIA 1. Definição e Etiologia Doença viral aguda sistêmica, causada por Rubulavirus (Paramyxoviridae). Caracterizada por tumefação dolorosa das glândulas salivares, principalmente parótidas. Geralmente autolimitada, mas com risco de complicações. 2. Transmissão e Prevenção Transmissão: Gotículas respiratórias, contato direto com saliva. Prevenção: Vacina Tríplice Viral (SCR). 1ª dose: 12 meses. 2ª dose: 15 meses (como parte da tetra viral). Isolamento: 5 dias após o início da tumefação parotídea. 3. Quadro Clínico Essencial Período de incubação: 12-25 dias. Pródromo (3-4 dias): Febre baixa, mialgia, cefaleia, mal-estar. Manifestação clássica (70-80% sintomáticos): Parotidite: Dor e edema na região parotídea (uni ou bilateral), obliterando o ângulo da mandíbula. Dor exacerbada por mastigação e alimentos ácidos. Exame Físico: Tumefação firme e dolorosa à palpação da parótida(s). Orifício do ducto de Stensen edemaciado/hiperemiado. 4. Sinais de Alerta / Gravidade (Avaliação Hospitalar Imediata) Sinais Neurológicos: Cefaleia intensa, vômitos persistentes, rigidez de nuca, sonolência, convulsões (sugestivo de meningoencefalite/encefalite). Dor abdominal intensa: Em faixa, irradiada para o dorso, com náuseas/vômitos (sugestivo de pancreatite). Orquite severa: Dor e edema testicular intensos. Surdez súbita. Sinais de desidratação grave. 5. Diagnóstico Diferencial (Tumefação Parotídea) Parotidite bacteriana supurativa. Sialolitíase. Outras infecções virais (Influenza, EBV, Coxsackie). Linfadenopatia cervical. 6. Diagnóstico Laboratorial Predominantemente clínico. Indicado em casos atípicos/surtos: Sorologia: IgM (infecção aguda). RT-PCR: Saliva, esfregaço oral (primeiros dias da doença). Amilase sérica: Frequentemente elevada, mas inespecífica. 7. Manejo e Tratamento (Exclusivamente de Suporte) NÃO há terapia antiviral específica. Antibióticos são CONTRAINDICADOS. Objetivo: Alívio sintomático, hidratação, nutrição. Repouso relativo. Dieta: Líquida/pastosa, morna/fria, NÃO ÁCIDA. Hidratação adequada. Compressas: Mornas ou frias na região parotídea para alívio. 7.1. Tratamento Sintomático (Pediátrico - Escolher UMA opção) Paracetamol: 15 mg/kg/dose VO, a cada 6 horas (máx. 750 mg/dose). Ibuprofeno: 10 mg/kg/dose VO, a cada 6-8 horas (máx. 400 mg/dose). Dipirona: 20 mg/kg/dose VO, a cada 6 horas (máx. 1 g/dose). 7.2. Manejo da Orquite (se presente) Repouso absoluto no leito. Sustentação da bolsa escrotal (suspensório ou toalha). Crioterapia local intermitente. Analgesia otimizada (ex: Ibuprofeno 400-600 mg a cada 6h, regrado). 8. Complicações Importantes (Mais comuns pós-púberes) Orquite: 20-50% homens pós-púberes (geralmente unilateral, atrofia testicular possível, infertilidade rara). Meningite asséptica: Mais comum do SNC, geralmente benigna. Encefalite: Rara, grave, com sequelas. Pancreatite: Dor abdominal superior, náuseas, vômitos. Ooforite, Mastite. Surdez neurossensorial (geralmente unilateral, permanente). 9. Critérios para Hospitalização Sinais de complicação neurológica (meningoencefalite). Pancreatite com intolerância à via oral. Desidratação grave. Orquite hiperálgica (dor refratária à analgesia oral). Incerteza diagnóstica em paciente grave. 10. Orientações de Alta / Para a Família Doença viral autolimitada, tratamento para conforto. Contágio: Transmitida pela saliva. Manter isolamento por 5 dias após início do inchaço. Cuidados em casa: Dieta pastosa/líquida (evitar ácidos), hidratação, analgésicos/antitérmicos conforme prescrito. RETORNAR IMEDIATAMENTE ao PS se: Dor de cabeça muito forte, vômitos em jato, sonolência, confusão, convulsões. Dor forte na "boca do estômago" irradiando para as costas, com vômitos incessantes. Dor testicular muito intensa, grande inchaço/vermelhidão. Sinais de desidratação (boca seca, pouca urina, fraqueza extrema). * Perda súbita da audição.

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Conduta Completa

1. Definição e Contexto Clínico A parotidite infecciosa, ou caxumba, é uma doença viral aguda e sistêmica, causada por um RNA vírus do gênero Rubulavirus, família Paramyxoviridae. Caracteriza-se classicamente pela tumefação dolorosa das glândulas salivares, principalmente as parótidas. Apesar de ser geralmente autolimitada e de baixa letalidade, pode cursar com complicações importantes, especialmente em adolescentes e adultos. 2. Fisiopatologia O vírus da caxumba é transmitido por gotículas respiratórias ou contato direto com saliva infectada. A replicação inicial ocorre na mucosa do trato respiratório superior e nos linfonodos regionais. Subsequentemente, ocorre uma viremia que dissemina o vírus para múltiplos tecidos, com um tropismo particular por glândulas (salivares, pâncreas, testículos, ovários) e pelo sistema nervoso central. A tumefação parotídea resulta da resposta inflamatória local à replicação viral. 3. Etiologia e Fatores de Risco O agente etiológico é o vírus da caxumba, um Paramyxovirus. O ser humano é o único hospedeiro conhecido. Os principais fatores de risco para a infecção e para a ocorrência de surtos incluem: Ausência de imunização ou esquema vacinal incompleto. Imunodeficiência primária ou secundária. Contato próximo com indivíduos infectados, especialmente em ambientes confinados como escolas, universidades e quartéis. Falha vacinal primária ou secundária (diminuição da imunidade com o tempo), que pode levar a surtos mesmo em populações com alta cobertura vacinal. 4. Avaliação Clínica e Diagnóstico Manifestações Clínicas O período de incubação varia de 12 a 25 dias. O quadro clínico inicia-se com um pródromo de febre baixa, mialgia, cefaleia e mal-estar, que dura de 3 a 4 dias. A manifestação clássica é a parotidite, que ocorre em 70-80% dos casos sintomáticos, caracterizada por dor e edema na região parotídea, uni ou bilateral, que oblitera o ângulo da mandíbula. A dor é exacerbada pela mastigação e por estímulos salivares (ex: alimentos cítricos). Cerca de um terço das infecções pode ser subclínico ou apresentar apenas sintomas respiratórios inespecíficos. Exame Físico O achado principal é a tumefação firme e dolorosa à palpação de uma ou ambas as glândulas parótidas. O edema pode causar o deslocamento do lóbulo da orelha para cima e para fora. O orifício do ducto de Stensen pode se apresentar edemaciado e hiperemiado. É fundamental avaliar a presença de outras manifestações, como rigidez de nuca (meningismo), dor abdominal em faixa (pancreatite) e dor ou edema testicular (orquite). Avaliação de Gravidade A maioria dos casos é leve e manejada ambulatorialmente. Sinais de alarme indicam gravidade e necessidade de avaliação hospitalar: Sinais neurológicos: cefaleia intensa, vômitos persistentes, rigidez de nuca, sonolência, convulsões (sugestivos de meningoencefalite). Dor abdominal intensa: especialmente em faixa e irradiada para o dorso, com náuseas e vômitos (sugestiva de pancreatite). Orquite severa: dor e edema testicular intensos. Surdez súbita. Diagnóstico Diferencial O diagnóstico diferencial de tumefação parotídea inclui: Parotidite supurativa bacteriana Cálculos em ductos salivares (sialolitíase) Outras infecções virais (Influenza, Parainfluenza, Epstein-Barr, Coxsackievírus) Linfadenopatia cervical Tumores de glândula salivar Doenças autoimunes (Síndrome de Sjögren) 5. Exames Complementares Laboratoriais O diagnóstico é predominantemente clínico. A confirmação laboratorial é indicada em casos atípicos, surtos ou por razões de vigilância epidemiológica. Sorologia (IgM e IgG): A detecção de anticorpos IgM específicos confirma infecção aguda. A soroconversão ou aumento de quatro vezes nos títulos de IgG entre as fases aguda e convalescente também é diagnóstica. RT-PCR: Pode detectar o RNA viral em amostras de saliva, esfregaços da mucosa oral ou urina, sendo o método de escolha nos primeiros dias da doença. Amilase sérica: Frequentemente elevada devido ao acometimento das glândulas salivares ou pancreático, mas é inespecífica. Imagem Exames de imagem não são rotineiramente necessários. A ultrassonografia pode ser útil para diferenciar a parotidite de outras causas de tumefação cervical, como adenite ou abscessos. 6. Manejo e Tratamento Não há terapia antiviral específica para a caxumba. O tratamento é de suporte, focado no alívio dos sintomas. Repouso relativo durante a fase febril. Analgesia e antipiréticos: Paracetamol ou Ibuprofeno para controle da dor e febre. Hidratação adequada e dieta leve, evitando alimentos ácidos ou que exijam mastigação vigorosa. Aplicação de compressas mornas ou frias na região parotídea pode proporcionar alívio sintomático. Para orquite, recomenda-se repouso no leito, suspensório escrotal e analgesia escalonada. 7. Complicações As complicações são mais comuns em pacientes pós-púberes. Orquite: Inflamação testicular, geralmente unilateral, ocorre em 20-50% dos homens pós-púberes. Pode levar à atrofia testicular, mas a infertilidade é rara. Meningite asséptica: É a complicação mais comum do sistema nervoso central, geralmente com curso benigno e autolimitado. Encefalite: Rara, porém grave, podendo deixar sequelas neurológicas permanentes. Pancreatite: Causa dor abdominal superior, náuseas e vômitos. Ooforite e Mastite: Inflamação dos ovários e das mamas, respectivamente, pode ocorrer em mulheres pós-púberes. Surdez neurossensorial: Geralmente unilateral e pode ser permanente. 8. Prognóstico e Seguimento O prognóstico para a caxumba não complicada é excelente, com recuperação completa em cerca de duas semanas. A imunidade após a infecção natural é considerada duradoura. O seguimento é clínico e ambulatorial na maioria dos casos, com foco na identificação e manejo de possíveis complicações. 9. Prevenção A prevenção é a medida mais eficaz e se baseia na imunização ativa. A vacina utilizada é a tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola - SCR), que contém vírus vivos atenuados. O esquema vacinal padrão inclui duas doses: Primeira dose: aos 12 meses de idade. Segunda dose: aos 15 meses de idade (como parte da vacina tetra viral, que também inclui varicela). Indivíduos não vacinados ou com esquema incompleto devem ser atualizados. O isolamento respiratório e de contato por 5 dias após o início da parotidite é recomendado para limitar a transmissão. Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis. Guia de Vigilância em Saúde. 6. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2023. CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC). Mumps. In: Manual for the Surveillance of Vaccine-Preventable Diseases. Atlanta, GA: CDC, 2024. Disponível em: https://www.cdc.gov/vaccines/pubs/surv-manual/chpt09-mumps.html. HVIID, A.; RUBIN, S.; MÜHLENDAHL, K. Mumps. The Lancet, v. 371, n. 9616, p. 932-944, 2008. MAYO CLINIC. Mumps: Diagnosis & treatment. Rochester, MN: Mayo Foundation for Medical Education and Research, 2023. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (SBP). Caxumba: atualização. Rio de Janeiro: SBP, 2017. SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES (SBIm). Calendário de Vacinação SBIm – Criança. São Paulo: SBIm, 2024.

Tratamento

1. Orientações Gerais ao Prescritor O manejo da parotidite infecciosa (caxumba) é exclusivamente de suporte, pois não há terapia antiviral específica. A meta terapêutica é o controle da dor e da febre, além da manutenção de hidratação e nutrição adequadas. Antibióticos são contraindicados. A educação familiar sobre a evolução da doença, o período de contágio e, crucialmente, os sinais de alarme para complicações é o pilar do manejo ambulatorial seguro. 2. Prescrição para Avaliação Inicial / Admissão A grande maioria dos pacientes será manejada em domicílio. A avaliação inicial deve focar em descartar sinais de gravidade. 1. Local de Manejo: Domiciliar, com orientações claras para retorno. 2. Coletas de Exames: Não são rotineiramente necessárias para casos típicos. Considerar sorologia (IgM) ou RT-PCR de saliva em casos de surto ou dúvida diagnóstica. 3. Medidas Iniciais: Iniciar analgesia/antitérmico ainda no serviço de saúde, se sintomático. Oferecer líquidos para avaliar aceitação. 3. Esquemas Terapêuticos Manejo Ambulatorial (Criança) 1. Dieta: Líquida/pastosa, morna ou fria, não ácida, para conforto ao deglutir. 2. Hidratação: Incentivar a ingestão de líquidos (água, chás, sucos não cítricos). 3. Repouso: Relativo, conforme o estado geral da criança. 4. Isolamento: Afastamento da escola/creche por 5 dias após o início do inchaço das glândulas. 5. Controle da Dor e Febre (prescrever UMA das opções): Ibuprofeno suspensão oral 100mg/5mL. Prescrever na dose de 10 mg/kg/dose (máximo de 400 mg/dose), por via oral, a cada 6-8 horas, se febre (temperatura axilar > 37.8°C) ou dor. Dipirona solução oral 500mg/mL. Prescrever na dose de 20 mg/kg/dose (máximo de 1 g/dose), por via oral, a cada 6 horas, se febre ou dor. Paracetamol solução oral 200mg/mL. Prescrever na dose de 15 mg/kg/dose (máximo de 750 mg/dose), por via oral, a cada 6 horas, se febre ou dor. 6. Medidas não farmacológicas: Aplicação de compressas mornas ou frias na região parotídea pode aliviar a dor. Manejo Ambulatorial (Adulto) 1. Dieta, Hidratação, Repouso e Isolamento: Seguir as mesmas orientações da população pediátrica. 2. Controle da Dor e Febre (prescrever UMA das opções): Ibuprofeno comprimido 400 mg. Prescrever 1 comprimido, por via oral, a cada 6-8 horas, se febre ou dor. Dipirona comprimido 500 mg ou 1 g. Prescrever 1 comprimido, por via oral, a cada 6 horas, se febre ou dor. 3. Manejo da Orquite (se presente): Repouso absoluto no leito. Sustentação da bolsa escrotal (com suspensório escrotal ou toalha dobrada). Crioterapia local (bolsas de gelo aplicadas de forma intermitente). Analgesia otimizada: Manter Ibuprofeno 400-600 mg a cada 6 horas de forma regrada nas primeiras 48-72h. 4. Monitoramento da Terapia O monitoramento é clínico e realizado pela família. Clínico: Avaliar estado geral, aceitação de líquidos, padrão de diurese, nível de consciência e resolução da febre e do edema parotídeo (que pode levar de 7 a 10 dias). Frequência de reavaliação: Reavaliação médica presencial é necessária apenas se houver piora clínica ou surgimento de sinais de alarme. 5. Manejo de Efeitos Adversos/Complicações O manejo das complicações geralmente requer avaliação hospitalar. Vômitos persistentes ou dor abdominal intensa: Suspender medicações orais e encaminhar para o pronto-socorro para investigação de pancreatite e hidratação venosa. Cefaleia intensa, sonolência ou alteração de comportamento: Encaminhar imediatamente ao pronto-socorro para investigação de meningoencefalite. Dor testicular refratária: Avaliar no pronto-socorro para analgesia parenteral e descartar outras causas de escroto agudo. 6. Orientações de Alta e para a Família Fornecer por escrito: 1. Sobre a Doença: A caxumba é uma infecção viral que causa inchaço e dor nas glândulas de saliva. É autolimitada e o tratamento visa o conforto. 2. Contágio e Isolamento: A doença é transmitida pela saliva. O paciente deve ficar em casa, sem ir à escola ou trabalho, por 5 dias após o início do inchaço para não transmitir o vírus. Evitar contato próximo com gestantes e pessoas com imunidade baixa. 3. Sinais de Alerta para Retorno Imediato ao Pronto-Socorro: Sinais Neurológicos: Dor de cabeça muito forte que não melhora com analgésicos, vômitos em jato, sonolência excessiva, confusão mental ou convulsões. Sinais de Pancreatite: Dor forte na "boca do estômago" que irradia para as costas, acompanhada de vômitos que não cessam. Sinais de Orquite Grave (em homens): Dor muito intensa nos testículos, com grande inchaço e vermelhidão. Sinais de Desidratação: Boca seca, choro sem lágrimas, pouca urina, fraqueza extrema. Perda súbita da audição. 4. Cuidados em Casa: Oferecer alimentos pastosos e fáceis de engolir. Evitar sucos e alimentos ácidos (laranja, limão, abacaxi). Manter boa hidratação com água e outros líquidos. Administrar os medicamentos para dor e febre conforme prescrito. 7. Critérios para Hospitalização Presença de sinais de complicação neurológica (meningoencefalite). Sinais de pancreatite com intolerância à via oral. Desidratação grave. Orquite hiperálgica (dor refratária à analgesia oral). Incerteza diagnóstica em paciente com quadro clínico grave.

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