Rubéola

Resumo

1. Definição e Fisiopatologia A Rubéola é uma doença infecciosa viral, exantemática e aguda, causada pelo Rubivirus. Na criança e no adulto, é tipicamente uma doença benigna e autolimitada. No entanto, sua principal importância em saúde pública reside no seu potencial teratogênico: quando uma gestante suscetível adquire a infecção primária, especialmente no primeiro trimestre, o vírus pode atravessar a placenta e causar a Síndrome da Rubéola Congênita (SRC), uma condição devastadora associada a

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Infecciosas e Exantemáticas > Viroses Exantemáticas e Relacionadas > Rubéola

Conduta Completa

1. Definição e Fisiopatologia A Rubéola é uma doença infecciosa viral, exantemática e aguda, causada pelo Rubivirus. Na criança e no adulto, é tipicamente uma doença benigna e autolimitada. No entanto, sua principal importância em saúde pública reside no seu potencial teratogênico: quando uma gestante suscetível adquire a infecção primária, especialmente no primeiro trimestre, o vírus pode atravessar a placenta e causar a Síndrome da Rubéola Congênita (SRC), uma condição devastadora associada a malformações graves e déficits permanentes. Graças à vacinação em massa com a vacina Tríplice Viral (SCR), o Brasil alcançou o certificado de eliminação da rubéola, mas a vigilância de casos suspeitos e a manutenção de altas coberturas vacinais são essenciais para prevenir a reintrodução do vírus. Fisiopatologia O vírus da rubéola entra pelo trato respiratório, replica-se nos linfonodos locais e causa uma viremia, disseminando-se para a pele e outros tecidos. O período de contágio se estende de 7 dias antes até 7 dias após o início do exantema. Em gestantes, a viremia permite a infecção da placenta e do feto, onde o vírus tem efeito citopático direto e inibe a mitose celular, interferindo drasticamente na organogênese. 2. Avaliação Clínica e Diagnóstico O diagnóstico da rubéola pós-natal é clínico, mas a confirmação laboratorial é obrigatória para fins de vigilância epidemiológica. Manifestações Clínicas da Rubéola Pós-Natal: Pródromo (1-5 dias): Geralmente discreto, com febre baixa, mal-estar, cefaleia e sintomas catarrais leves. Linfadenopatia: É o sinal mais característico. O aumento dos gânglios é doloroso e tipicamente acomete as cadeias retroauricular, occipital e cervical posterior. Surge antes do exantema e pode persistir por semanas. Exantema: Maculopapular, róseo e tênue. Inicia-se na face e progride rapidamente em direção cefalocaudal, espalhando-se para o tronco e membros em 24 horas. Diferente do sarampo, as lesões tendem a não confluir e desaparecem em cerca de 3 dias, sem deixar descamação significativa. Artralgia/Artrite: Comum em adolescentes e mulheres adultas, afetando pequenas articulações (mãos, punhos, joelhos). Diagnóstico Laboratorial: Sorologia: É o método mais utilizado. A detecção de anticorpos IgM específicos para rubéola confirma uma infecção aguda ou recente. A soroconversão ou um aumento de quatro vezes nos títulos de IgG em amostras pareadas também confirma o diagnóstico. RT-PCR: Pode detectar o RNA viral em amostras de swab de nasofaringe, urina ou sangue, sendo útil na fase aguda. 3. Síndrome da Rubéola Congênita (SRC) A SRC é a consequência mais grave da rubéola. O risco e a gravidade das malformações são máximos quando a infecção materna ocorre nas primeiras 12 semanas de gestação (>85% de risco). Manifestações Clássicas (Tríade de Gregg): 1. Cardiopatia: Persistência do Canal Arterial (PCA) é a mais comum, seguida por estenose da artéria pulmonar. 2. Defeitos Oculares: Catarata (geralmente bilateral), glaucoma congênito, retinopatia em "sal e pimenta". 3. Surdez Neurossensorial: É a sequela mais frequente e pode ser a única manifestação da SRC. Outras Manifestações: Microcefalia, retardo do desenvolvimento neuropsicomotor, púrpura trombocitopênica ("blueberry muffin baby"), hepatoesplenomegalia e pneumonia intersticial. 4. Manejo e Tratamento Manejo da Rubéola Pós-Natal: O tratamento é exclusivamente de suporte e sintomático. Repouso, hidratação e antitérmicos/analgésicos (Paracetamol, Dipirona) para o controle da febre e da artralgia. Isolamento: O paciente deve ser mantido em isolamento de contato e gotículas por 7 dias após o início do exantema, com especial atenção para evitar o contato com gestantes suscetíveis. Notificação: Todo caso suspeito deve ser notificado compulsoriamente e imediatamente (em até 24 horas) à vigilância epidemiológica. Manejo da Gestante Exposta: É uma emergência epidemiológica. A gestante deve ter sua sorologia (IgG e IgM) coletada imediatamente. Se suscetível (IgG negativo), o acompanhamento sorológico seriado e o aconselhamento sobre os riscos para o feto são mandatórios. Não há tratamento que previna a SRC após a infecção materna. Manejo da Criança com SRC: Requer uma abordagem multidisciplinar a longo prazo, envolvendo cardiologista, oftalmologista, otorrinolaringologista, neurologista e fisioterapeutas. Crianças com SRC podem excretar o vírus por até 1 ano, necessitando de precauções de contato. 5. Prevenção A prevenção é o pilar do controle da rubéola e da SRC. Vacinação: A vacina tríplice viral (SCR - Sarampo, Caxumba e Rubéola) é altamente eficaz e segura. O esquema vacinal no Brasil inclui duas doses, aos 12 e 15 meses. Vacinação de Mulheres em Idade Fértil: É a principal estratégia para a prevenção da SRC. Todas as mulheres devem ter seu estado vacinal verificado e atualizado antes de engravidar. Vigilância Epidemiológica: A notificação imediata de casos suspeitos permite a investigação rápida, o bloqueio de surtos e, crucialmente, a identificação e o manejo de gestantes expostas. Referências Bibliográficas 1. Ministério da Saúde (Brasil). (2022). Guia de Vigilância em Saúde (6ª ed.). (A principal referência nacional para notificação, investigação e manejo de casos e surtos). 2. American Academy of Pediatrics. Rubella. In: Red Book: 2024 Report of the Committee on Infectious Diseases (33rd ed.). (A principal diretriz clínica pediátrica norte-americana). 3. World Health Organization (WHO). (2020). Rubella vaccines: WHO position paper – June 2020. Weekly Epidemiological Record, 95(26), 289-304. (Posicionamento oficial da OMS sobre as estratégias de vacinação). 4. Lambert, N., et al. (2015). Rubella. The Lancet, 385(9984), 2297-2307. (Revisão abrangente e fundamental sobre a doença e a SRC). 5. Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). (2023). Calendários de Vacinação da SBP. 6. Dobson, S. R. (2021). Congenital Rubella Syndrome: Clinical Features and Diagnosis. UpToDate.

Tratamento

1. Orientações Gerais ao Prescritor A Rubéola pós-natal é uma doença viral benigna cujo tratamento é sintomático. Antibióticos não são indicados. A principal responsabilidade do médico é confirmar o diagnóstico, notificar imediatamente o caso à vigilância epidemiológica e instituir o isolamento. O manejo da gestante exposta e o diagnóstico da Síndrome da Rubéola Congênita (SRC) são os pontos de maior complexidade e gravidade. 2. Prescrição para Manejo da Rubéola Pós-Natal (Não Complicada) Medidas Gerais e Sintomáticas: 1. Repouso relativo, conforme o estado geral do paciente. 2. Incentivar a hidratação oral. 3. Dipirona solução oral 500mg/mL: Prescrever na dose de 20 mg/kg/dose, por via oral, a cada 6 horas, se febre (T > 37,8°C) ou artralgia. ou Ibuprofeno suspensão oral 100mg/mL: Prescrever na dose de 10 mg/kg/dose, por via oral, a cada 8 horas, especialmente se houver artralgia significativa (não usar em < 6 meses). Isolamento e Notificação: 1. Prescrever isolamento de contato e gotículas por 7 dias a partir do início do exantema. 2. Orientar a família a evitar estritamente o contato do paciente com gestantes. 3. Preencher a Ficha de Notificação Compulsória Imediata do SINAN para Rubéola e encaminhar à vigilância epidemiológica do município em até 24 horas. 3. Prescrição para Investigação e Manejo da Gestante Exposta Esta é uma emergência de saúde pública e requer manejo especializado. Prescrição de Investigação Imediata: 1. Solicitar Sorologia para Rubéola (IgG e IgM), em caráter de urgência. 2. Coletar a amostra o mais breve possível após a exposição. Conduta Baseada no Resultado Inicial: Se IgG reagente e IgM não reagente: Gestante imune. Tranquilizar e manter pré-natal de rotina. Se IgG e IgM não reagentes: Gestante suscetível. 1. Prescrever Isolamento rigoroso de qualquer caso suspeito. 2. Prescrever nova coleta de Sorologia para Rubéola (IgG e IgM) em 3 a 4 semanas. Se IgM reagente (com ou sem IgG reagente): Suspeita de infecção aguda. 1. Prescrever Teste de Avidez de IgG para Rubéola. 2. Encaminhar imediatamente para serviço de Medicina Fetal / Pré-natal de Alto Risco para aconselhamento e seguimento. 4. Prescrição de Alta e Orientações para a Família (Rubéola Pós-Natal) 1. Reforçar a importância de completar os 7 dias de isolamento, mesmo com a melhora dos sintomas. 2. Orientar sobre o caráter geralmente benigno da doença na criança. 3. Verificar e orientar a atualização do calendário vacinal de todos os contatos domiciliares, especialmente outras crianças e mulheres em idade fértil. 4. Fornecer lista de Sinais de Alerta para Retorno: Dor de cabeça intensa, vômitos persistentes, sonolência excessiva, convulsões (sinais de encefalite), ou surgimento de manchas roxas na pele (sinais de plaquetopenia).

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