Varicela (Catapora)
Resumo
1. Definição e Fisiopatologia
A Catapora, ou Varicela, é uma doença infecciosa aguda, exantemática e extremamente contagiosa, causada pela infecção primária com o Vírus Varicela-Zóster (VVZ), um membro da família Herpesviridae. Após a infecção primária (catapora), o vírus estabelece latência nos gânglios nervosos sensoriais e pode reativar anos mais tarde, causando o Herpes-Zóster.
Fisiopatologia:
O VVZ entra no organismo pelo trato respiratório, onde se replica inicialmente. Segue-se uma virem
Categoria
Infecciosas e Exantemáticas > Viroses Exantemáticas e Relacionadas > Varicela (Catapora)
Conduta Completa
1. Definição e Fisiopatologia
A Catapora, ou Varicela, é uma doença infecciosa aguda, exantemática e extremamente contagiosa, causada pela infecção primária com o Vírus Varicela-Zóster (VVZ), um membro da família Herpesviridae. Após a infecção primária (catapora), o vírus estabelece latência nos gânglios nervosos sensoriais e pode reativar anos mais tarde, causando o Herpes-Zóster.
Fisiopatologia:
O VVZ entra no organismo pelo trato respiratório, onde se replica inicialmente. Segue-se uma viremia primária com disseminação para o sistema reticuloendotelial (fígado, baço). Uma segunda e mais intensa viremia leva o vírus para a pele, resultando no exantema vesicular característico. A doença confere imunidade duradoura.
2. Transmissão e Epidemiologia
A catapora é uma das doenças mais contagiosas, com taxas de ataque secundário em contatos domiciliares suscetíveis superiores a 90%.
Transmissão: Ocorre por via aérea (aerossóis e gotículas respiratórias) e por contato direto com o líquido das lesões vesiculares.
Período de Contágio: Inicia-se 1 a 2 dias antes do aparecimento do exantema e dura até que todas as lesões tenham evoluído para a fase de crosta (geralmente 5 a 7 dias após o início do rash).
Epidemiologia: Com a vacinação universal, o perfil epidemiológico mudou, com redução drástica da incidência e da gravidade. No entanto, a doença ainda ocorre em indivíduos não vacinados, com pico de incidência na infância (2-8 anos).
3. Manifestações Clínicas
O quadro clínico é altamente característico.
Período Prodrômico (1-2 dias): Geralmente discreto em crianças, com febre baixa, cefaleia e mal-estar.
Período Exantemático: É a marca da doença.
Exantema: Inicia-se como máculas eritematosas que rapidamente evoluem para pápulas, depois para vesículas sobre base eritematosa ("gota de orvalho em pétala de rosa"), e finalmente para pústulas e crostas.
Polimorfismo Regional ("Céu Estrelado"): A característica mais patognomônica é a presença simultânea de lesões em diferentes estágios de evolução na mesma área do corpo.
Distribuição: O rash é centrípeto, iniciando-se no tronco e na face e espalhando-se de forma menos intensa para os membros. O acometimento de mucosas (oral, genital) e do couro cabeludo é comum.
Prurido: É intenso e representa o principal sintoma, sendo a causa da maioria das complicações por infecção secundária.
4. Diagnóstico
O diagnóstico da catapora é eminentemente clínico na maioria dos casos, baseado na aparência e evolução característica do exantema.
Confirmação Laboratorial: É reservada para casos atípicos, graves, em pacientes imunocomprometidos ou para fins de vigilância epidemiológica. O método de escolha é a PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) do líquido vesicular, que possui alta sensibilidade e especificidade.
5. Tratamento
O manejo depende do perfil do paciente.
Manejo da Criança Saudável (Baixo Risco):
O tratamento é exclusivamente de suporte e sintomático.
Controle da Febre: Utilizar Paracetamol ou Dipirona. O uso de Ácido Acetilsalicílico (AAS) é formalmente contraindicado pelo risco de desenvolvimento da Síndrome de Reye, uma encefalopatia e hepatopatia agudas graves.
Controle do Prurido: É o pilar do tratamento. Inclui anti-histamínicos orais, banhos com permanganato de potássio ou aveia coloidal, e loções calmantes (como a de calamina). Manter as unhas da criança curtas e limpas é fundamental.
Higiene: Banhos diários com água e sabonete para prevenir infecção secundária.
Manejo de Pacientes de Alto Risco (Terapia Antiviral com Aciclovir):
O aciclovir não é recomendado de rotina para crianças saudáveis, mas está indicado para indivíduos com maior risco de desenvolver doença grave. O tratamento deve ser iniciado idealmente nas primeiras 24-72 horas do início do exantema.
Indicações para Tratamento com Aciclovir:
Adolescentes (≥ 13 anos) e adultos.
Pacientes imunocomprometidos (a via de escolha é a endovenosa).
Crianças com doenças crônicas cutâneas ou pulmonares.
Pacientes em uso crônico de salicilatos ou cursos de corticosteroides.
Desenvolvimento de complicações graves (pneumonia, encefalite).
6. Complicações
Infecção Bacteriana Secundária da Pele: É a complicação mais comum, causada por Streptococcus pyogenes ou Staphylococcus aureus devido às lesões de coçadura. Pode evoluir para celulite, abscessos ou, raramente, fasciíte necrosante.
Complicações Neurológicas: A ataxia cerebelar aguda é a complicação neurológica mais comum em crianças, geralmente benigna e autolimitada. A encefalite é mais rara, porém mais grave.
Pneumonia por Varicela: Rara em crianças saudáveis, mas é a complicação mais grave em adultos, gestantes e imunocomprometidos.
7. Prevenção
Vacinação: A prevenção primária com a vacina contra a varicela (vírus vivo atenuado) é altamente eficaz. No Brasil, o PNI (Programa Nacional de Imunizações) oferece duas doses: aos 15 meses (vacina varicela isolada) e aos 4 anos (como parte da vacina tetra viral).
Profilaxia Pós-Exposição: Para contatos suscetíveis (não vacinados e sem história da doença).
Vacinação Pós-Exposição: Indicada para crianças saudáveis > 9-12 meses. Se administrada em até 3-5 dias após o contato, pode prevenir ou atenuar a doença.
Imunoglobulina Humana Antivaricela-Zóster (VZIG): Indicada para contatos suscetíveis de alto risco para doença grave, como imunocomprometidos, gestantes, recém-nascidos de mães com varicela periparto e prematuros extremos. Deve ser administrada o mais breve possível (idealmente até 96 horas da exposição).
Referências Bibliográficas
American Academy of Pediatrics. Varicella-Zoster Virus Infections. In: Red Book: 2024 Report of the Committee on Infectious Diseases (33rd ed.). (A principal diretriz clínica pediátrica norte-americana).
Centers for Disease Control and Prevention (CDC). (2021). Varicella. In Epidemiology and Prevention of Vaccine-Preventable Diseases (The Pink Book), 14th ed. (Referência definitiva sobre epidemiologia, vacinação e profilaxia).
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). (2023). Calendários de Vacinação da SBP. (As diretrizes nacionais mais atuais sobre o esquema vacinal).
Ayoade, F., & Kumar, S. (2022). Varicella Zoster. In StatPearls. StatPearls Publishing. (Artigo de revisão atualizado e de acesso rápido).
Heininger, U., & Seward, J. F. (2006). Varicella. The Lancet, 368(9544), 1365–1376. (Revisão clássica e abrangente sobre a doença).
Ministério da Saúde (Brasil). (2019). Manual dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (5ª ed.). (Referência nacional para indicações de imunoglobulina - VZIG).
Tratamento
1. Orientações Gerais ao Prescritor
A catapora em crianças saudáveis é uma doença de manejo sintomático. O foco da prescrição é o alívio do prurido e da febre.
NÃO PRESCREVER ÁCIDO ACETILSALICÍLICO (AAS) pelo risco de Síndrome de Reye.
A terapia antiviral com Aciclovir é reservada para grupos de risco específicos.
A orientação sobre isolamento (respiratório e de contato) é fundamental para evitar a disseminação.
2. Prescrição para Tratamento de Suporte (Criança de Baixo Risco)
Controle da Febre e Dor
Dipirona solução oral 500mg/mL. Prescrever na dose de 20 mg/kg/dose, por via oral, a cada 6 horas, se febre (T > 37,8°C) ou dor.
ou Paracetamol solução oral 200mg/mL. Prescrever na dose de 15 mg/kg/dose, por via oral, a cada 6 horas, se necessário.
Controle do Prurido
Terapia Sistêmica:
Hidroxizina xarope 2mg/mL. Prescrever na dose de 0,5 a 1 mg/kg/dose, por via oral, a cada 6 a 8 horas, conforme a intensidade do prurido.
Terapia Tópica:
Loção de Calamina. Aplicar nas lesões 2 a 3 vezes ao dia para efeito calmante.
Cuidados com a Pele
Banhos diários com água morna e sabonete neutro. Pode-se adicionar uma solução de Permanganato de Potássio 1:40.000 na água do banho para efeito antisséptico.
Manter as unhas da criança curtas e limpas para evitar lesões de coçadura e infecção secundária.
3. Prescrição para Terapia Antiviral (Grupos de Risco Selecionados)
Indicação: Adolescentes (≥13 anos), pacientes com doenças pulmonares/cutâneas crônicas, ou terapia iniciada muito precocemente (<24h do exantema).
Prescrição Oral
Aciclovir suspensão oral 200mg/5mL ou comprimido 200mg/400mg.
Dose: Prescrever na dose de 20 mg/kg/dose (dose máxima de 800 mg/dose), por via oral, de 6 em 6 horas.
Duração: 5 a 7 dias.
Prescrição Endovenosa (Imunocomprometidos ou Complicações Graves)
Aciclovir solução injetável. Prescrever na dose de 10 mg/kg/dose, por via endovenosa, de 8 em 8 horas.
Garantir hidratação venosa adequada para prevenir nefrotoxicidade.
4. Prescrição para Infecção Bacteriana Secundária da Pele
Indicação: Lesões com sinais de infecção (pus, eritema extenso, calor, crostas melicéricas).
Prescrição
Cefalexina suspensão oral 250mg/5mL.
Dose: Prescrever na dose de 50 mg/kg/dia, por via oral, dividida de 6 em 6 horas.
Duração: 7 dias.
5. Prescrição para Profilaxia Pós-Exposição
Opção 1 (Até 3-5 dias da exposição): Vacinação
Indicação: Contato suscetível (sem vacina ou doença prévia), saudável, com idade ≥ 9 meses.
Prescrição:
Vacina contra Varicela, 0,5 mL, por via Subcutânea, em dose única.
Opção 2 (Até 10 dias da exposição): Imunoglobulina
Indicação: Contato suscetível de alto risco para doença grave (imunocomprometidos, gestantes, neonatos).
Prescrição:
Imunoglobulina Humana Antivaricela-Zóster (VZIG).
* Dose: Prescrever na dose de 125 UI para cada 10 kg de peso, por via Intramuscular (IM), em dose única (dose máxima de 625 UI).
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