Mastoidite
Resumo
Mastoidite Aguda Pediátrica: Resumo Rápido para Profissionais de Saúde
1. Definição e Urgência
Infecção bacteriana supurativa das células aéreas da mastoide, complicação comum da Otite Média Aguda (OMA). Mais comum em crianças < 2 anos. Emergência médica que exige hospitalização imediata.
2. Etiologia e Fatores de Risco
Agentes: Streptococcus pneumoniae, Streptococcus pyogenes, Staphylococcus aureus (incluindo MRSA), Haemophilus influenzae.
Fatores de Risco: Idade < 2 anos, OMA recorrente/mal tratada, imunossupressão.
3. Avaliação Clínica e Diagnóstico
Manifestações Clínicas
Geralmente dias a semanas após OMA:
Febre, otalgia persistente e latejante, irritabilidade.
Sinais inflamatórios retroauriculares: Eritema, edema, dor à palpação, calor.
Deslocamento do pavilhão auricular para frente e para baixo (proptose).
Otorreia purulenta.
Estreitamento do conduto auditivo externo.
Sinais de Alarme (Gravidade/Complicações)
Neurológicos: Paralisia de nervo facial, vertigem, ataxia.
Intracranianos: Cefaleia intensa, rigidez de nuca, alteração do estado mental.
Sinais de sepse/toxemia.
Diagnóstico Diferencial
Otite externa, linfadenite retroauricular, cisto sebáceo infectado.
4. Exames Complementares
Laboratoriais
Hemograma, PCR (inespecíficos, mas úteis para monitoramento).
Cultura da secreção da orelha média (miringotomia, se indicada) é fundamental.
Hemoculturas (antes do ATB).
Imagem
Tomografia Computadorizada (TC) de ossos temporais com contraste: Exame de escolha.
Indicações: Suspeita de complicações, ausência de melhora clínica em 48 horas de ATB IV, dúvida diagnóstica.
Achados: Opacificação das células aéreas, perda da definição das trabéculas ósseas (coalescência), erosão óssea, coleções fluidas (abscessos).
5. Manejo e Tratamento (Integrado)
Condutas Iniciais (Hospitalização Mandatória)
Acesso venoso, monitoramento de sinais vitais.
Avaliação especializada: Solicitar parecer da Otorrinolaringologia.
Coleta de exames (Hemograma, PCR, Hemoculturas) antes do ATB.
TC de ossos temporais se houver indicação.
Tratamento Clínico (Antibioticoterapia IV)
Início empírico imediato, amplo espectro.
Primeira linha (Pediatria):
Ceftriaxona 100 mg/kg/dia IV (máx. 4g/dia), a cada 12 ou 24h.
Associar em casos graves, falha terapêutica ou suspeita de MRSA/S. pneumoniae resistente:
Vancomicina 60 mg/kg/dia IV, dividida a cada 6h. (Monitorar níveis séricos e função renal).
Considerar Metronidazol/Clindamicina para anaeróbios em complicações ou mastoidite crônica.
Analgesia/Antipirético: Dipirona 20 mg/kg/dose IV, a cada 6h, se dor/febre.
Duração IV: Manter até melhora clínica evidente (geralmente 7-10 dias).
Tratamento Cirúrgico
Indicações:
Mastoidite coalescente com abscesso (subperiosteal ou intracraniano).
Ausência de melhora clínica ou febre persistente após 48-72 horas de ATB IV adequado.
Paralisia do nervo facial ou outras complicações.
Procedimentos:
Miringotomia com inserção de tubo de ventilação (drenagem da orelha média).
Mastoidectomia (desbridamento do osso mastoide).
Transição para Terapia Oral (Após melhora clínica)
Amoxicilina + Clavulanato (suspensão oral 90 mg/kg/dia de amoxicilina, a cada 12h).
Duração total do tratamento (IV + VO): 4 semanas.
6. Monitoramento da Terapia
Clínico: Reavaliação diária (otoscopia, região retroauricular, estado geral, sinais neurológicos).
Laboratorial: Repetir Hemograma e PCR a cada 48-72h.
7. Complicações (Sinais de Alerta)
Extracranianas: Abscesso subperiosteal (mais comum), abscesso de Bezold, paralisia do nervo facial, labirintite.
Intracranianas: Meningite, abscesso epidural/subdural/cerebral, trombose do seio venoso lateral.
8. Orientações de Alta e Sinais de Alerta para a Família
Antibiótico oral: Administrar exatamente como prescrito, por todo o período.
Cuidados com o ouvido: Manter seco (algodão com vaselina no banho), evitar natação.
Retorno imediato ao PS se:
Retorno da febre, aumento da dor/vermelhidão/inchaço retroauricular.
Nova secreção purulenta pelo ouvido.
Cefaleia forte, vômitos, sonolência excessiva, confusão mental.
Tontura, perda de equilíbrio, fraqueza facial.
Retorno programado: Otorrinolaringologista em 7-10 dias.
9. Prevenção
Diagnóstico e tratamento oportunos da OMA, vacinação pneumocócica conjugada.
Categoria
Doenças Respiratórias > Complicações e Urgências > Mastoidite
Conduta Completa
1. Definição e Contexto Clínico
A mastoidite é uma infecção bacteriana supurativa das células aéreas do processo mastoide do osso temporal. É a complicação supurativa mais comum da otite média aguda (OMA), ocorrendo quando a infecção se estende da orelha média para o osso adjacente. Sua incidência é maior em crianças, especialmente em menores de dois anos, paralelamente à epidemiologia da OMA.
2. Fisiopatologia
A comunicação entre a orelha média e as células aéreas da mastoide permite que a inflamação da OMA se estenda para a mucosa da mastoide. A persistência da infecção, frequentemente por bloqueio da drenagem do antro mastóideo, leva ao acúmulo de exsudato purulento sob pressão. Este processo pode causar osteíte com destruição dos septos ósseos, resultando na coalescência das células aéreas (mastoidite coalescente), que pode progredir para complicações extracranianas e intracranianas.
3. Etiologia e Fatores de Risco
Os agentes etiológicos mais comuns espelham os da OMA, sendo os principais:
Streptococcus pneumoniae
Streptococcus pyogenes (Grupo A)
Staphylococcus aureus (incluindo cepas resistentes à meticilina - MRSA)
Haemophilus influenzae (não tipável)
Os fatores de risco incluem:
Idade inferior a dois anos
Otite média aguda recorrente ou inadequadamente tratada
Imunossupressão
Presença de colesteatoma
4. Avaliação Clínica e Diagnóstico
Manifestações Clínicas
O quadro clínico geralmente se desenvolve dias a semanas após um episódio de OMA. Os sinais e sintomas cardinais incluem:
Febre, otalgia persistente e latejante, e irritabilidade
Sinais inflamatórios retroauriculares: eritema, edema, dor à palpação e calor sobre o processo mastoide
Deslocamento do pavilhão auricular para frente e para baixo (proptose auricular)
Otorreia purulenta, que pode ser pulsátil
Estreitamento do conduto auditivo externo por edema da parede posterior
Exame Físico
A otoscopia revela achados consistentes com OMA, como abaulamento, hiperemia ou perfuração da membrana timpânica com drenagem de secreção purulenta. A palpação da região mastóidea evidencia sensibilidade acentuada e, por vezes, flutuação, indicativa de abscesso subperiosteal.
Avaliação de Gravidade
A gravidade é determinada pela presença de complicações. Sinais de alarme para doença grave incluem:
Sinais neurológicos focais (paralisia de nervo facial, vertigem, ataxia)
Cefaleia intensa, rigidez de nuca ou alteração do estado mental, sugerindo envolvimento intracraniano
Sinais de sepse ou toxemia
Diagnóstico Diferencial
Otite externa
Linfadenite retroauricular
Cisto sebáceo infectado
Tumores locais (ex: rabdomiossarcoma)
Histiocitose de células de Langerhans
5. Exames Complementares
Laboratoriais
Exames como hemograma completo e proteína C reativa (PCR) geralmente mostram leucocitose com desvio à esquerda e elevação dos marcadores inflamatórios, mas são inespecíficos. A cultura da secreção da orelha média (obtida por miringotomia, se necessário) é fundamental para guiar a antibioticoterapia.
Imagem
A Tomografia Computadorizada (TC) de ossos temporais com contraste é o exame de imagem de escolha. É indicada na suspeita de complicações, ausência de melhora clínica em 48 horas de antibioticoterapia intravenosa ou em casos de dúvida diagnóstica. Os achados incluem opacificação das células aéreas da mastoide, perda da definição das trabéculas ósseas (sinal de coalescência), erosão do córtex ósseo e coleções fluidas, como abscessos subperiosteais ou intracranianos.
6. Manejo e Tratamento
O tratamento baseia-se na antibioticoterapia intravenosa de amplo espectro e, em muitos casos, na intervenção cirúrgica para drenagem.
Tratamento Clínico
A hospitalização é mandatória para administração de antibióticos intravenosos. O esquema empírico inicial deve cobrir os patógenos mais prevalentes.
Primeira linha: Ceftriaxona é frequentemente utilizada pela sua boa penetração no sistema nervoso central.
Cobertura para S. aureus: Vancomicina ou Linezolida devem ser associadas em casos de alta suspeita de MRSA, doença grave ou falha terapêutica inicial.
Cobertura para anaeróbios: A associação com Metronidazol ou Clindamicina pode ser considerada na presença de complicações ou em mastoidite crônica.
A terapia intravenosa deve ser mantida até a melhora clínica evidente (geralmente 7-10 dias), seguida por um curso de antibióticos orais por mais 2 a 4 semanas, guiado por cultura e antibiograma.
Tratamento Cirúrgico
A intervenção cirúrgica é indicada na presença de:
Mastoidite coalescente com formação de abscesso (subperiosteal ou intracraniano)
Ausência de melhora clínica ou febre persistente após 48-72 horas de antibioticoterapia adequada
Paralisia do nervo facial ou outras complicações intratemporais/intracranianas
Os procedimentos incluem a miringotomia com inserção de tubo de ventilação para drenagem da orelha média e a mastoidectomia para desbridamento do tecido infectado e necrótico do osso mastoide.
7. Complicações
As complicações resultam da disseminação da infecção para estruturas adjacentes e podem ser graves.
Extracranianas: Abscesso subperiosteal (mais comum), abscesso de Bezold (dissecação para o pescoço), paralisia do nervo facial, labirintite e petrosite.
Intracranianas: Meningite, abscesso epidural ou subdural, abscesso cerebral (temporal ou cerebelar) e trombose do seio venoso lateral.
8. Prognóstico e Seguimento
Com diagnóstico e tratamento precoces e adequados, o prognóstico é geralmente favorável, com recuperação completa. A presença de complicações intracranianas aumenta significativamente a morbidade e a mortalidade. O seguimento ambulatorial após a alta é essencial para monitorar a resolução completa da infecção e a recuperação auditiva.
9. Prevenção
A prevenção da mastoidite passa pelo diagnóstico e tratamento corretos e oportunos da otite média aguda. A vacinação pneumocócica conjugada também desempenha um papel importante na redução da incidência de OMA e, consequentemente, de suas complicações.
Referências
1. WALD, E. R. Acute mastoiditis in children: Clinical features and diagnosis. UpToDate, 2023.
2. MIERZWIŃSKI, J. et al. Therapeutic approach to pediatric acute mastoiditis – an update. Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, v. 85, n. 6, p. 724-732, 2019.
3. PINTO, N. D. T. et al. Mastoidite aguda em crianças. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, v. 6, n. 9, p. 2859-2868, 2024.
4. SMITH, J. A.; DANNER, C. J. Complications of acute otitis media. In: Cummings Otolaryngology: Head & Neck Surgery. 7. ed. Philadelphia: Elsevier, 2021.
5. SIH, T. M. Complicações da Otite Média. In: MONTEIRO, L.; SUBTIL, J. (Eds.). Otorrinolaringologia Pediátrica. Queluz-Massamá: Círculo Médico, 2016. p. 64-70.
6. KENNEDY, K. L.; LIN, J. W. Mastoidectomy. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2023.
7. BALSAMO, C. et al. Acute mastoiditis in an Italian pediatric tertiary medical center: a 15-year retrospective study. Italian Journal of Pediatrics, v. 44, n. 1, p. 71, 2018.
Tratamento
1. Orientações Gerais ao Prescritor
A mastoidite aguda é uma emergência médica que exige hospitalização imediata e início precoce de antibioticoterapia intravenosa de amplo espectro. A meta terapêutica principal é a erradicação da infecção, a prevenção de complicações e a drenagem de coleções purulentas. A avaliação por um otorrinolaringologista é fundamental e deve ser solicitada assim que o diagnóstico for suspeitado.
2. Prescrição para Avaliação Inicial / Admissão
Dieta: Dieta geral ou branda, conforme aceitação.
Acesso venoso: Obter acesso venoso periférico calibroso.
Monitoramento: Sinais vitais a cada 4 horas, com vigilância para febre, taquicardia e alterações neurológicas. Avaliação clínica seriada da região retroauricular.
Exames laboratoriais: Coletar hemograma completo, PCR, ureia, creatinina e hemoculturas (2 amostras de locais distintos) antes de iniciar o antibiótico.
Imagem: Solicitar Tomografia Computadorizada de ossos temporais com contraste com urgência se houver sinais de complicação ou para confirmação diagnóstica.
Avaliação especializada: Solicitar parecer da Otorrinolaringologia.
3. Esquemas Terapêuticos
Tratamento Hospitalar (Primeira Linha)
Prescrição (Pediatria):
1. Ceftriaxona 100 mg/kg/dia, por via intravenosa, dividida a cada 12 ou 24 horas (dose máxima de 4g/dia). Diluir e infundir em 30 minutos.
2. Vancomicina 60 mg/kg/dia, por via intravenosa, dividida a cada 6 horas. Diluir para concentração máxima de 5 mg/mL e infundir em pelo menos 60 minutos. Associar em casos graves, falha terapêutica prévia, ou alta prevalência de S. pneumoniae resistente ou MRSA.
3. Dipirona solução injetável. Prescrever na dose de 20 mg/kg/dose (máximo de 1g), por via intravenosa, a cada 6 horas, se dor ou febre (temperatura axilar > 37.8°C).
Prescrição (Adulto):
1. Ceftriaxona 2g, por via intravenosa, a cada 12 ou 24 horas. Diluir e infundir em 30 minutos.
2. Vancomicina 15-20 mg/kg/dose, por via intravenosa, a cada 8-12 horas (ajustar pela função renal e monitoramento sérico). Diluir e infundir lentamente. Associar pelos mesmos critérios da pediatria.
3. Dipirona 1g, por via intravenosa, a cada 6 horas, se dor ou febre.
Transição para Terapia Oral (Após melhora clínica)
Prescrição (Pediatria):
1. Amoxicilina + Clavulanato suspensão oral 250mg+62,5mg/5mL ou 400mg+57mg/5mL. Prescrever na dose de 90 mg/kg/dia (componente amoxicilina), por via oral, dividida a cada 12 horas, para completar um total de 4 semanas de tratamento (IV + VO).
Prescrição (Adulto):
1. Amoxicilina + Clavulanato comprimidos 875mg+125mg. Prescrever 1 comprimido, por via oral, a cada 12 horas, para completar 4 semanas de tratamento.
4. Monitoramento da Terapia
Clínico: Reavaliação diária da otoscopia e da região retroauricular. Monitorar a curva de temperatura, o estado geral e a presença de sinais neurológicos. A ausência de melhora em 48-72 horas deve motivar a reavaliação por imagem e a consideração de intervenção cirúrgica.
Laboratorial: Repetir hemograma e PCR a cada 48-72 horas para avaliar a resposta inflamatória. Em uso de Vancomicina, monitorar os níveis séricos (vale) e a função renal.
5. Manejo de Efeitos Adversos/Complicações
Reação à infusão de Vancomicina (Síndrome do Homem Vermelho): Interromper a infusão, administrar anti-histamínico e reiniciar a infusão em uma velocidade mais lenta após a resolução dos sintomas.
Diarreia associada a antibióticos: Considerar a coleta de toxinas para Clostridioides difficile se a diarreia for severa ou persistente.
Surgimento de complicação (ex: paralisia facial, abscesso): Indicar imediatamente a abordagem cirúrgica (mastoidectomia) e ajustar o esquema antibiótico conforme a suspeita clínica e os resultados de culturas.
6. Orientações de Alta e para a Família
Fornecer por escrito:
1. Sobre a Doença:
A mastoidite é uma infecção bacteriana séria do osso localizado atrás da orelha, que se desenvolveu como uma complicação de uma infecção de ouvido. O tratamento foi iniciado no hospital com antibióticos na veia e precisará ser completado em casa com medicação oral por várias semanas.
2. Cuidados em Casa:
Administrar o antibiótico oral exatamente como prescrito, nos horários corretos e por todo o período recomendado, mesmo que a criança/paciente já pareça estar melhor.
Manter o ouvido seco. Evitar a entrada de água durante o banho (usar algodão com vaselina para proteger o canal auditivo). Natação é proibida até a liberação médica.
Oferecer analgésicos (Dipirona ou Paracetamol) conforme prescrição para controle da dor.
3. Sinais de Alerta para Retorno Imediato ao Pronto-Socorro:
Retorno da febre.
Aumento da dor, vermelhidão ou inchaço atrás da orelha.
Saída de nova secreção (pus) pelo ouvido.
Dor de cabeça forte, vômitos, sonolência excessiva ou confusão mental.
Tontura, perda de equilíbrio ou fraqueza em um lado do rosto (rosto torto).
4. Retorno Programado:
Agendar retorno com o Otorrinolaringologista em 7 a 10 dias após a alta para reavaliação.
7. Critérios para Hospitalização
Toda suspeita clínica de mastoidite aguda requer hospitalização para antibioticoterapia intravenosa e avaliação especializada.
Presença de sinais inflamatórios retroauriculares (dor, edema, eritema) associados a um quadro de otite média aguda.
Febre persistente e otalgia refratária ao tratamento ambulatorial para otite média.
Presença de qualquer complicação suspeita (neurológica ou extracraniana).
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