Pneumotórax
Resumo
1. Definição e Fisiopatologia
O Pneumotórax é definido pela presença de ar no espaço pleural, o que causa a perda da pressão negativa fisiológica e leva ao colapso parcial ou completo do pulmão. Em pediatria, é uma condição que exige raciocínio rápido e manejo preciso, pois pode variar de um achado incidental a uma emergência com risco de vida iminente.
Classificação Etiológica
Pneumotórax Espontâneo Primário (PEP): Ocorre sem uma doença pulmonar subjacente conhecida, geralmente pela ruptura
Categoria
Doenças Respiratórias > Complicações e Urgências > Pneumotórax
Conduta Completa
1. Definição e Fisiopatologia
O Pneumotórax é definido pela presença de ar no espaço pleural, o que causa a perda da pressão negativa fisiológica e leva ao colapso parcial ou completo do pulmão. Em pediatria, é uma condição que exige raciocínio rápido e manejo preciso, pois pode variar de um achado incidental a uma emergência com risco de vida iminente.
Classificação Etiológica
Pneumotórax Espontâneo Primário (PEP): Ocorre sem uma doença pulmonar subjacente conhecida, geralmente pela ruptura de pequenas bolhas subpleurais (blebs). É mais comum em adolescentes altos e magros.
Pneumotórax Espontâneo Secundário (PES): Ocorre como complicação de uma doença pulmonar preexistente, como asma, fibrose cística ou pneumonia necrosante.
Pneumotórax Traumático: Resulta de trauma torácico, seja fechado (contusão) ou penetrante. Inclui os casos iatrogênicos, causados por procedimentos médicos como acesso venoso central, ventilação mecânica (barotrauma) ou reanimação.
2. Avaliação Clínica e Diagnóstico
A apresentação clínica e a estabilidade do paciente ditam a urgência do manejo.
Apresentação Clínica
Pneumotórax Simples: O paciente tipicamente apresenta dor torácica pleurítica de início súbito e dispneia de intensidade variável. Ao exame físico, os achados clássicos no hemitórax afetado são:
Diminuição da expansibilidade torácica.
Hipertimpanismo à percussão.
Murmúrio vesicular diminuído ou abolido.
Pneumotórax Hipertensivo: A Emergência Absoluta
Este é um diagnóstico clínico que não deve esperar por confirmação radiológica. Ocorre quando o ar entra no espaço pleural mas não consegue sair (mecanismo de válvula), causando um aumento progressivo da pressão intratorácica.
O quadro é de insuficiência respiratória aguda grave associada a choque obstrutivo:
Dispneia extrema e cianose.
Desvio da traqueia para o lado contralateral.
Turgência de jugulares.
Hipotensão e taquicardia, progredindo para bradicardia e parada cardiorrespiratória.
Diagnóstico por Imagem (para pacientes estáveis)
Radiografia de Tórax: É o método padrão para confirmar o pneumotórax em pacientes estáveis. O achado principal é a visualização da linha da pleura visceral, separada da parede torácica por uma área de hipertransparência (ar), sem trama vascular pulmonar.
Ultrassom Pulmonar (POCUS): É uma ferramenta rápida e altamente sensível à beira-leito. Os sinais ultrassonográficos de pneumotórax incluem a ausência do deslizamento pleural ("lung sliding") e a presença do "ponto pulmonar" ("lung point").
3. Manejo e Tratamento
O tratamento é escalonado conforme a estabilidade clínica e o tamanho do pneumotórax.
Manejo do Pneumotórax Hipertensivo
Conduta: Descompressão torácica imediata por agulha, antes de qualquer exame de imagem.
Técnica: Inserção de um cateter sobre agulha de grosso calibre (Jelco® 14G ou 16G) no 2º espaço intercostal, na linha hemiclavicular, ou no 4º-5º espaço intercostal, na linha axilar anterior. A saída de um silvo de ar confirma o diagnóstico e alivia a pressão imediatamente. Este é um procedimento temporário, que deve ser seguido pela drenagem torácica definitiva.
Manejo do Pneumotórax Pequeno (< 2-3 cm) e Assintomático/Oligossintomático
Conduta: Tratamento conservador.
Medidas: Hospitalização para observação, repouso e, crucialmente, oxigenoterapia de alto fluxo (10 L/min com máscara não reinalante). O oxigênio a 100% aumenta o gradiente de pressão do nitrogênio entre os capilares pleurais e o espaço pleural, acelerando a reabsorção do ar em até quatro vezes.
Manejo do Pneumotórax Grande (> 2-3 cm) ou Sintomático
Conduta: Drenagem pleural. O objetivo é remover o ar e permitir a reexpansão pulmonar. As opções são:
1. Aspiração Simples com Cateter: Menos invasiva que um dreno torácico. Um cateter de pequeno calibre é inserido no espaço pleural e o ar é aspirado manualmente com uma seringa. É uma boa opção para o primeiro episódio de pneumotórax espontâneo primário em pacientes estáveis.
2. Drenagem Torácica com Dreno em Selo d'Água: É o tratamento definitivo. Indicado para pneumotórax secundário, traumático, recorrente, ou em qualquer paciente em ventilação mecânica.
Manejo de Recorrências e Fístulas Aéreas Persistentes
Pacientes com pneumotórax recorrente, fístula aérea persistente (borbulhamento no dreno por > 5-7 dias) ou profissões de risco (pilotos, mergulhadores) devem ser avaliados pela cirurgia torácica para tratamento definitivo, geralmente por videotoracoscopia (VATS) com abrasão pleural ou pleurodese para promover a aderência das pleuras e prevenir novos episódios.
4. Prognóstico
O prognóstico do pneumotórax espontâneo primário é excelente, mas a taxa de recorrência após um primeiro episódio é de cerca de 30%. No pneumotórax secundário, o prognóstico está atrelado à doença pulmonar de base.
Referências Bibliográficas
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Tratamento
1. Orientações Gerais ao Prescritor
O Pneumotórax Hipertensivo é um diagnóstico clínico que exige descompressão imediata por agulha, sem aguardar exames.
A escolha do tratamento (observação vs. drenagem) depende da estabilidade clínica, dos sintomas e do tamanho do pneumotórax.
A analgesia adequada é um componente essencial do tratamento.
2. Prescrição para Manejo de Emergência (Pneumotórax Hipertensivo)
Esta é uma sequência de ordens verbais e ações imediatas.
1. Chamar ajuda! Acionar time de resposta rápida/equipe de cirurgia.
2. Manter o paciente em oxigênio a 100%.
3. Realizar imediatamente a Toracocentese de Alívio com Agulha:
Prescrição verbal: "Preparar Jelco® 14G para punção no 2º espaço intercostal, linha hemiclavicular, no hemitórax [direito/esquerdo]".
4. Após a descompressão de alívio, preparar para o tratamento definitivo:
Prescrição: "Solicitar avaliação da Cirurgia Torácica/Pediátrica com urgência e preparar material para drenagem torácica".
3. Prescrição para Tratamento Conservador (Pneumotórax Pequeno e Estável)
1. Admitir em unidade de observação com monitorização contínua.
2. Oxigenoterapia de alto fluxo: Prescrever Oxigênio a 10 L/min via máscara não reinalante para acelerar a reabsorção do pneumotórax.
3. Analgesia:
Prescrição: Morfina 0,05 a 0,1 mg/kg, IV, a cada 4 horas, se dor; ou Dipirona 20-25 mg/kg/dose, IV, de 6/6h.
4. Manter em repouso no leito.
5. Solicitar Radiografia de Tórax de controle em 6 a 12 horas ou antes, se houver piora clínica.
4. Prescrição para Drenagem Torácica Definitiva
Indicação: Pneumotórax grande (>2-3 cm), sintomático, secundário, traumático ou em paciente em ventilação mecânica.
Prescrição Pré-Procedimento:
1. Manter em jejum (NPO).
2. Obter consentimento informado.
3. Solicitar avaliação da equipe cirúrgica.
4. Prescrever Analgesia e Sedação para o Procedimento:
Fentanil 1 a 2 mcg/kg, IV, 5 minutos antes do procedimento.
Midazolam 0,1 mg/kg, IV, 5 minutos antes do procedimento.
Realizar anestesia local com Lidocaína 1% sem vasoconstritor, infiltrando pele, subcutâneo e pleura parietal.
Prescrição Pós-Procedimento:
1. Manter dreno de tórax conectado a um sistema de drenagem em selo d'água.
2. Prescrever aspiração contínua e suave (-10 a -20 cmH₂O), se indicado.
3. Solicitar Radiografia de Tórax de controle imediatamente após o procedimento para verificar o posicionamento do dreno e a reexpansão pulmonar.
4. Manter analgesia venosa regrada nas primeiras 24 horas.
5. Monitorar e registrar a cada hora: Oscilação do selo d'água e presença de borbulhamento (escape aéreo).
Prescrição para Retirada do Dreno:
Critérios: Ausência de escape aéreo (borbulhamento) por pelo menos 24 horas e reexpansão pulmonar completa na radiografia.
1. Clampear o dreno de tórax por 4 a 6 horas (teste de clampeamento). Realizar nova radiografia após o clampeamento para confirmar ausência de recidiva.
2. Se estável, prescrever analgesia e proceder com a retirada do dreno.
3. Realizar curativo oclusivo no local da inserção.
4. Manter em observação e solicitar radiografia de controle em 4 a 6 horas após a retirada.
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