Gripe (Influenza)
Resumo
Gripe (Influenza) em Pediatria: Resumo Rápido para Profissionais de Saúde
1. Definição e Contexto
Infecção viral aguda do trato respiratório (Influenza A e B), de alta transmissibilidade. Relevante por morbidade e mortalidade, especialmente em grupos de risco.
2. Fatores de Risco para Complicações/SRAG
Idades extremas: Crianças menores de 5 anos (especialmente < 2 anos).
Gestantes e puérperas.
Imunossupressão.
Comorbidades crônicas: pneumopatias (asma), cardiopatias, nefropatias, diabetes, doenças hematológicas, neurológicas.
Obesidade (IMC ≥ 40).
3. Avaliação Clínica e Diagnóstico
Manifestações Clínicas
Início súbito: febre alta, calafrios, mialgia, cefaleia, mal-estar geral.
Sintomas respiratórios: tosse seca, dor de garganta, coriza.
Em crianças: febre mais elevada, sintomas gastrointestinais (vômitos, diarreia) podem ocorrer.
Sinais de Alerta / Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG)
Dispneia ou desconforto respiratório.
Saturação de O₂ < 95% em ar ambiente.
Taquipneia (frequência respiratória aumentada para a idade).
Hipotensão ou piora clínica de doença de base.
Em crianças: batimento de asa de nariz, cianose, tiragem intercostal, desidratação, inapetência.
Diagnóstico
Clínico: Na maioria dos casos não complicados, exames não são necessários.
Confirmação (SRAG ou dúvida): RT-PCR para Influenza (swab de nasofaringe) é o padrão-ouro.
Imagem: Radiografia de tórax indicada em SRAG ou suspeita de complicação pulmonar (ex: pneumonia).
4. Manejo e Tratamento
A. Manejo Ambulatorial (Síndrome Gripal Não Complicada)
Suporte: Repouso, hidratação oral abundante.
Sintomáticos:
Dipirona: 20 mg/kg/dose VO a cada 6h (se febre ≥ 37.8°C ou dor).
Alternativa: Paracetamol: 15 mg/kg/dose VO a cada 6h.
Higiene nasal com solução salina isotônica.
Antibióticos NÃO indicados, exceto em suspeita de coinfecção bacteriana.
B. Terapia Antiviral (Oseltamivir)
Indicação:
TODOS os pacientes com SRAG.
Pacientes com Síndrome Gripal que pertençam aos grupos de risco para complicações.
Início: Preferencialmente nas primeiras 48 horas do início dos sintomas para máxima eficácia.
Duração: 5 dias.
Posologia (VO, a cada 12 horas):
Adultos e adolescentes (≥ 13 anos): Oseltamivir 75 mg.
Crianças (1 a 12 anos):
≤ 15 kg: 30 mg
> 15 kg a 23 kg: 45 mg
> 23 kg a 40 kg: 60 mg
> 40 kg: 75 mg
Lactentes (< 1 ano):
0 a 8 meses: 3 mg/kg/dose
9 a 11 meses: 3.5 mg/kg/dose
Efeitos Adversos (Oseltamivir): Náuseas/vômitos podem ser minimizados administrando com alimentos.
C. Manejo Hospitalar (SRAG)
Monitoramento: Contínuo de sinais vitais e oximetria de pulso.
Isolamento: Para gotículas.
Oxigenoterapia: Se SpO₂ < 95% em ar ambiente.
Exames: Hemograma, eletrólitos, função renal, PCR, lactato, painel viral (RT-PCR), radiografia de tórax.
5. Complicações
Mais comum: Pneumonia (viral primária ou bacteriana secundária, frequentemente por Streptococcus pneumoniae ou Staphylococcus aureus).
Outras: Otite média, sinusite, descompensação de doenças crônicas.
6. Prevenção
Vacinação anual contra Influenza: Recomendada para todas as pessoas a partir dos 6 meses de idade, especialmente grupos de risco.
Medidas não farmacológicas: Higienização frequente das mãos, uso de máscaras em ambientes fechados, etiqueta respiratória.
7. Sinais de Alerta para Retorno Imediato ao Pronto-Socorro (Orientações à Família)
Dificuldade para respirar ou respiração rápida e curta.
Dor ou pressão persistente no peito.
Confusão mental, sonolência excessiva ou dificuldade para despertar.
Lábios ou rosto com coloração azulada (cianose).
Febre que retorna após ter melhorado ou que persiste por mais de 3 dias.
Em crianças: recusa em aceitar líquidos, ausência de urina por mais de 8 horas, irritabilidade extrema ou ausência de lágrimas ao chorar.
NÃO medicar com ácido acetilsalicílico (AAS) pelo risco de Síndrome de Reye.
8. Critérios para Hospitalização
Presença de qualquer sinal de SRAG.
Desidratação significativa com incapacidade de ingestão oral.
Alteração do nível de consciência.
Descompensação de comorbidades de base.
Necessidade de oxigenoterapia para manter SpO₂ ≥ 95%.
Categoria
Doenças Respiratórias > Infecções Respiratórias > Gripe (Influenza)
Conduta Completa
1. Definição e Contexto Clínico
A Gripe ou Influenza é uma infecção viral aguda do trato respiratório, de elevada transmissibilidade e distribuição global, causada pelos vírus Influenza A e B.
Apresenta grande relevância clínica devido ao seu potencial para causar epidemias sazonais, surtos e pandemias, associando-se a taxas significativas de morbidade e mortalidade, especialmente em grupos de risco.
2. Fisiopatologia
Após a inalação de aerossóis contaminados, o vírus Influenza adere às células epiteliais do trato respiratório superior e inferior. A replicação viral leva à destruição celular, desencadeando uma resposta inflamatória intensa com liberação de citocinas. Essa cascata resulta nos sintomas sistêmicos característicos, como febre e mialgia, e no dano ao epitélio respiratório, que predispõe a complicações como a pneumonia.
3. Etiologia e Fatores de Risco
A etiologia é viral, primariamente pelos vírus Influenza A e Influenza B. Os fatores de risco para complicações e quadros graves incluem:
Idades extremas: crianças menores de 5 anos (especialmente menores de 2 anos) e adultos com 60 anos ou mais.
Gestação e puerpério: gestantes em qualquer idade gestacional e puérperas até duas semanas após o parto.
Imunossupressão: seja por medicação (quimioterapia, corticoides em altas doses) ou condição clínica (neoplasias, HIV/Aids).
Comorbidades crônicas: pneumopatias (incluindo asma), cardiopatias, nefropatias, hepatopatias, doenças hematológicas (como anemia falciforme), distúrbios metabólicos (como diabetes mellitus) e transtornos neurológicos.
Obesidade: especialmente indivíduos com Índice de Massa Corporal (IMC) ≥ 40.
4. Avaliação Clínica e Diagnóstico
Manifestações Clínicas
O quadro clínico é tipicamente de início súbito, marcado por febre alta, calafrios, mialgia intensa, cefaleia e mal-estar geral. Sintomas respiratórios como tosse seca, dor de garganta e coriza são frequentes. Em crianças, a febre pode ser mais elevada e sintomas gastrointestinais como vômitos e diarreia podem ocorrer.
Exame Físico
O exame físico pode ser inespecífico. Os achados mais comuns incluem hiperemia de conjuntivas e orofaringe. A ausculta pulmonar é geralmente normal em casos não complicados, mas a presença de estertores ou outros ruídos adventícios pode indicar pneumonia.
Avaliação de Gravidade
A avaliação de gravidade é crucial para definir o local de tratamento. A Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) é definida pela presença de Síndrome Gripal associada a sinais de gravidade:
Dispneia ou desconforto respiratório.
Saturação de O₂ < 95% em ar ambiente.
Taquipneia (frequência respiratória aumentada para a idade).
Hipotensão ou sinais de piora clínica de doença de base.
Em crianças, observar também batimento de asa de nariz, cianose, tiragem intercostal, desidratação e inapetência.
Diagnóstico Diferencial
O diagnóstico diferencial inclui outras infecções virais respiratórias, como as causadas por Vírus Sincicial Respiratório (VSR), Parainfluenza, Adenovírus, Rinovírus e Coronavírus (incluindo SARS-CoV-2). Quadros bacterianos como faringite estreptocócica e pneumonia bacteriana primária também devem ser considerados.
5. Exames Complementares
Laboratoriais
Na maioria dos casos de síndrome gripal não complicada, exames não são necessários. Em casos de SRAG ou dúvida diagnóstica, a investigação pode ser indicada. O teste de biologia molecular (RT-PCR) para Influenza a partir de swab de nasofaringe é o padrão-ouro para confirmação etiológica. Testes rápidos de antígeno possuem menor sensibilidade, mas podem ser úteis pela agilidade.
Imagem
A radiografia de tórax é indicada em pacientes com sinais de gravidade ou suspeita de complicação pulmonar. Os achados podem variar desde um infiltrado intersticial difuso, característico da pneumonia viral primária, até consolidações lobares, sugestivas de pneumonia bacteriana secundária.
6. Manejo e Tratamento
O tratamento da síndrome gripal não complicada é focado em medidas de suporte, como repouso, hidratação e uso de antitérmicos e analgésicos. A terapia antiviral com inibidores da neuraminidase, como o fosfato de oseltamivir, está indicada para todos os pacientes com SRAG e para aqueles com síndrome gripal que pertençam aos grupos de risco para complicações. O tratamento deve ser iniciado preferencialmente nas primeiras 48 horas do início dos sintomas para máxima eficácia.
7. Complicações
A complicação mais comum é a pneumonia, que pode ser primária (causada pelo próprio vírus Influenza) ou secundária (infecção bacteriana sobreposta, frequentemente por Streptococcus pneumoniae ou Staphylococcus aureus). Outras complicações incluem otite média, sinusite, miosite (com elevação de CPK), descompensação de doenças crônicas de base e, mais raramente, miocardite, pericardite e encefalite.
8. Prognóstico e Seguimento
O prognóstico para indivíduos saudáveis com gripe não complicada é excelente, com recuperação completa em uma a duas semanas. Em pacientes com fatores de risco, a doença pode ter um curso mais grave e prolongado. O seguimento ambulatorial deve focar na orientação sobre sinais de alarme que motivem um retorno imediato ao serviço de saúde.
9. Prevenção
A principal medida de prevenção é a vacinação anual contra a Influenza, recomendada para todas as pessoas a partir dos 6 meses de idade, especialmente para os grupos de maior risco de complicações. Medidas não farmacológicas, como a higienização frequente das mãos, o uso de máscaras em ambientes fechados durante períodos de alta circulação viral e a etiqueta respiratória (cobrir a boca e o nariz ao tossir ou espirrar) são fundamentais para reduzir a transmissão.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Guia de manejo e tratamento de influenza 2023. Brasília: Ministério da Saúde, 2023.
BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo de tratamento de Influenza: 2017. Brasília: Ministério da Saúde, 2018.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (SBP). Departamentos Científicos de Imunizações, Infectologia, Alergia, Otorrinolaringologia e Pneumologia. Atualização no tratamento e prevenção da infecção pelo vírus Influenza – 2020. Rio de Janeiro: SBP, 2020.
UYEKi, T. M. et al. Clinical Practice Guidelines by the Infectious Diseases Society of America: 2018 Update on Diagnosis, Treatment, Chemoprophylaxis, and Institutional Outbreak Management of Seasonal Influenza. Clinical Infectious Diseases, v. 68, n. 6, p. e1-e47, 2019.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Clinical practice guidelines for influenza. Geneva: WHO, 2024.
Tratamento
1. Orientações Gerais ao Prescritor
O manejo da Gripe (Influenza) é primariamente de suporte, com foco em hidratação, repouso e controle sintomático. A terapia antiviral específica com Oseltamivir não é universal, sendo reservada para pacientes com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) ou aqueles com fatores de risco para complicações, devendo ser iniciada idealmente nas primeiras 48 horas. A educação da família sobre sinais de alerta é um pilar do manejo ambulatorial seguro. Antibióticos não devem ser prescritos, exceto em suspeita fundamentada de coinfecção bacteriana.
2. Prescrição para Avaliação Inicial / Admissão
Para pacientes com critérios de internação (SRAG), as medidas iniciais incluem:
1. Monitoramento contínuo de sinais vitais, incluindo oximetria de pulso.
2. Manter o paciente em isolamento para gotículas.
3. Acesso venoso periférico salinizado.
4. Coletar exames: hemograma completo, eletrólitos, função renal, PCR, lactato e, se disponível, painel viral respiratório (RT-PCR) de swab nasofaríngeo.
5. Radiografia de tórax em PA e perfil.
6. Iniciar oxigenoterapia suplementar se SpO₂ < 95% em ar ambiente.
3. Esquemas Terapêuticos
Manejo Ambulatorial – Síndrome Gripal Não Complicada
O foco é o alívio dos sintomas.
1. Repouso e aumento da ingestão de líquidos.
2. Dipirona solução oral 500mg/mL. Prescrever na dose de 20 mg/kg/dose, por via oral, a cada 6 horas, se febre (temperatura axilar ≥ 37.8°C) ou dor.
Alternativa: Paracetamol solução oral 200mg/mL. Prescrever na dose de 15 mg/kg/dose, por via oral, a cada 6 horas.
3. Higiene nasal com solução salina isotônica, de forma frequente.
Manejo com Antiviral – Pacientes com Fatores de Risco ou SRAG
O tratamento deve ser mantido por 5 dias. [3, 4]
1. Fosfato de Oseltamivir. Prescrever por via oral, a cada 12 horas.
Adultos e adolescentes (≥ 13 anos):
Oseltamivir 75 mg, 1 cápsula, via oral, de 12 em 12 horas, por 5 dias. [2, 3]
Crianças (1 a 12 anos): [2, 4]
≤ 15 kg: Oseltamivir 30 mg, via oral, de 12 em 12 horas, por 5 dias.
> 15 kg a 23 kg: Oseltamivir 45 mg, via oral, de 12 em 12 horas, por 5 dias.
> 23 kg a 40 kg: Oseltamivir 60 mg, via oral, de 12 em 12 horas, por 5 dias.
> 40 kg: Oseltamivir 75 mg, via oral, de 12 em 12 horas, por 5 dias.
Lactentes (< 1 ano): [3, 7]
0 a 8 meses: Oseltamivir 3 mg/kg/dose, via oral, de 12 em 12 horas, por 5 dias.
9 a 11 meses: Oseltamivir 3.5 mg/kg/dose, via oral, de 12 em 12 horas, por 5 dias.
4. Monitoramento da Terapia
Clínico: Reavaliar diariamente em pacientes internados, com foco em padrão respiratório, nível de consciência, estado de hidratação e débito urinário.
Laboratorial: Em casos graves, monitorar gasometria arterial, eletrólitos, função renal e marcadores inflamatórios conforme a evolução clínica.
Metas: Melhora do desconforto respiratório, queda da necessidade de oxigênio, estabilidade hemodinâmica e ausência de febre.
5. Manejo de Efeitos Adversos/Complicações
Efeitos gastrointestinais do Oseltamivir (náuseas/vômitos): Administrar o medicamento junto com alimentos para melhorar a tolerância.
Suspeita de Pneumonia Bacteriana Secundária (ex: febre que retorna após melhora inicial, leucocitose com desvio à esquerda, nova consolidação na radiografia): Coletar culturas (hemocultura, cultura de escarro) e iniciar antibioticoterapia empírica de acordo com o protocolo institucional, geralmente cobrindo S. pneumoniae e S. aureus.
6. Orientações de Alta e para a Família
Fornecer por escrito:
1. Sobre a Doença:
A Gripe é uma infecção viral que causa febre, tosse e dores no corpo. A melhora costuma ocorrer em 5 a 7 dias, mas a tosse e o cansaço podem persistir por mais tempo.
2. Contágio e Isolamento:
A transmissão ocorre por gotículas de saliva. Recomenda-se repouso domiciliar e evitar contato próximo com outras pessoas (especialmente idosos e bebês) por pelo menos 24 horas após o desaparecimento da febre. Incentivar a lavagem das mãos.
3. Sinais de Alerta para Retorno Imediato ao Pronto-Socorro:
Dificuldade para respirar ou respiração rápida e curta.
Dor ou pressão persistente no peito.
Confusão mental, sonolência excessiva ou dificuldade para despertar.
Lábios ou rosto com coloração azulada (cianose).
Febre que retorna após ter melhorado ou que persiste por mais de 3 dias. [17]
Em crianças: recusa em aceitar líquidos, ausência de urina por mais de 8 horas, irritabilidade extrema ou ausência de lágrimas ao chorar.
4. Cuidados em Casa:
Oferecer líquidos (água, sucos, chás) com frequência para evitar desidratação.
Manter o ambiente arejado.
Não medicar com ácido acetilsalicílico (AAS) pelo risco de Síndrome de Reye.
7. Critérios para Hospitalização
Presença de qualquer sinal de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
Desidratação significativa com incapacidade de ingestão oral.
Alteração do nível de consciência.
Descompensação de comorbidades de base (ex: crise asmática grave, insuficiência cardíaca descompensada).
Necessidade de oxigenoterapia para manter SpO₂ ≥ 95%.
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