Rinofaringite Aguda (Resfriado Comum)
Resumo
1. Definição e Fisiopatologia
A Rinofaringite Aguda, ou Resfriado Comum, é uma infecção viral autolimitada do trato respiratório superior, que acomete primariamente a mucosa do nariz e da faringe. É a doença infecciosa aguda mais frequente em seres humanos e a principal causa de consultas pediátricas e absenteísmo escolar.
A fisiopatologia é direta: um dos mais de 200 vírus causadores infecta as células epiteliais do trato respiratório superior. A replicação viral desencadeia uma resposta infla
Categoria
Doenças Respiratórias > Infecções Respiratórias > Rinofaringite Aguda (Resfriado Comum)
Conduta Completa
1. Definição e Fisiopatologia
A Rinofaringite Aguda, ou Resfriado Comum, é uma infecção viral autolimitada do trato respiratório superior, que acomete primariamente a mucosa do nariz e da faringe. É a doença infecciosa aguda mais frequente em seres humanos e a principal causa de consultas pediátricas e absenteísmo escolar.
A fisiopatologia é direta: um dos mais de 200 vírus causadores infecta as células epiteliais do trato respiratório superior. A replicação viral desencadeia uma resposta inflamatória local, resultando em vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular e hipersecreção de muco, que se traduzem clinicamente nos sintomas clássicos de coriza e obstrução nasal.
2. Etiologia
A etiologia é exclusivamente viral.
Agente Principal: Rinovírus é responsável por 30-50% de todos os casos.
Outros Vírus Comuns: Coronavírus (não-SARS-CoV-2), Vírus Sincicial Respiratório (VSR), Parainfluenza, Adenovírus e Metapneumovírus humano. A multiplicidade de agentes e sorotipos explica a ocorrência de múltiplos episódios ao longo da vida.
3. Avaliação Clínica e Diagnóstico
O diagnóstico do resfriado comum é eminentemente clínico. Exames complementares não são necessários.
História e Manifestações Clínicas: O quadro é caracterizado por uma evolução previsível.
Início (1-3 dias): Início gradual com dor de garganta ou prurido nasal, seguido por espirros e coriza aquosa e hialina.
Pico dos Sintomas (2-4 dias): A obstrução nasal e a rinorreia tornam-se os sintomas predominantes. A secreção nasal pode se tornar mais espessa e amarelada/esverdeada, o que representa a evolução natural da resposta inflamatória e não significa, isoladamente, infecção bacteriana. A tosse, geralmente seca e irritativa, surge devido ao gotejamento pós-nasal. Febre, quando presente, é geralmente baixa (<38.5°C).
Resolução (7-10 dias): Os sintomas regridem gradualmente. Uma tosse residual pode persistir por 2 a 3 semanas.
Exame Físico: Geralmente pouco informativo, mostrando mucosa nasal edemaciada e hiperemiada, e secreção na orofaringe. A ausculta pulmonar é normal.
4. Diagnóstico Diferencial
É crucial diferenciar o resfriado comum de outras condições para evitar tratamentos inadequados.
Rinite Alérgica: Caracterizada por prurido nasal intenso, espirros em salva e coriza aquosa clara. Geralmente não há febre ou mal-estar sistêmico e os sintomas são desencadeados por alérgenos.
Sinusite Bacteriana Aguda: Suspeitar se os sintomas nasais persistem por mais de 10 dias sem melhora, ou se há uma piora "dupla" (melhora inicial seguida por piora), ou se o quadro se inicia com febre alta e secreção purulenta por pelo menos 3 dias consecutivos.
Faringoamigdalite Estreptocócica: Apresenta febre alta, dor de garganta intensa, ausência de tosse e coriza, e pode ter exsudato amigdaliano e petéquias no palato.
Influenza (Gripe): Caracterizada por início súbito de febre alta, mialgia intensa, cefaleia e prostração, com sintomas respiratórios menos proeminentes no início.
5. Tratamento: A Base é o Suporte
O tratamento da rinofaringite viral é inteiramente sintomático e de suporte. Não há terapia curativa, e antibióticos são ineficazes e inadequados.
Medidas Gerais
Hidratação: Incentivar a ingestão de líquidos é fundamental para fluidificar as secreções.
Repouso Relativo: Conforme a disposição da criança.
Umidificação do Ambiente: Pode oferecer conforto, embora as evidências sobre sua eficácia sejam limitadas.
Desobstrução Nasal
É a medida terapêutica mais importante.
A lavagem nasal com Soro Fisiológico 0,9% ajuda a remover o muco, melhora a respiração, o sono e a alimentação. Deve ser realizada várias vezes ao dia, especialmente antes de mamar/comer e de dormir.
Manejo da Febre e Dor
Antitérmicos e analgésicos como Paracetamol ou Ibuprofeno (para > 6 meses) devem ser usados se a febre causar desconforto significativo ou se houver dor.
Terapias NÃO Recomendadas em Crianças Pequenas
Antitussígenos, Expectorantes e Mucolíticos: Não possuem eficácia comprovada e podem causar efeitos adversos. A tosse no resfriado é um mecanismo de defesa.
Anti-histamínicos: Não são eficazes para os sintomas do resfriado e podem causar sedação.
Descongestionantes Orais e Nasais: São contraindicados em crianças pequenas pelo risco de efeitos adversos cardiovasculares e neurológicos.
6. Complicações
As complicações são geralmente bacterianas e ocorrem por obstrução e estase de secreções.
Otite Média Aguda (OMA): É a complicação mais comum. Suspeitar se houver surgimento de otalgia ou irritabilidade intensa.
Sinusite Bacteriana Aguda: Suspeitar se os sintomas nasais se arrastam por mais de 10 dias.
Exacerbação de Doenças Crônicas: O resfriado é um gatilho comum para crises de asma.
7. Prevenção
A prevenção é focada em reduzir a transmissão viral.
Higiene das Mãos: É a medida mais eficaz. Lavagem frequente com água e sabão ou uso de álcool em gel.
Evitar Contato: Reduzir o contato próximo com pessoas doentes e evitar levar as mãos ao rosto.
Aleitamento Materno: Oferece proteção imunológica passiva nos primeiros meses de vida.
Referências Bibliográficas
1. Heikkinen, T., & Järvinen, A. (2003). The common cold. The Lancet, 361(9351), 51-59. (Um artigo de revisão clássico e fundamental sobre o tema).
2. Allan, G. M., & Arroll, B. (2014). Prevention and treatment of the common cold: making sense of the evidence. CMAJ, 186(3), 190-199. (Excelente revisão focada nas evidências para as diversas terapias).
3. American Academy of Pediatrics, Committee on Drugs. (2007). Use of codeine- and dextromethorphan-containing cough remedies in children. Pediatrics, 119(3), 633-634. (Posicionamento sobre o não uso de antitussígenos).
4. Fashner, J., Ericson, K., & Werner, S. (2012). Treatment of the common cold in children and adults. American Family Physician, 86(2), 153-159. (Guia prático para a atenção primária).
5. Kacmarek, R. M. (2013). The scientific basis for aerosol-generating procedures. Respiratory Care, 58(6), 1034-1042.
6. Singh, M., & Singh, M. (2013). Heated, humidified air for the common cold. Cochrane Database of Systematic Reviews*, (6). (Exemplo de revisão Cochrane avaliando uma terapia de suporte).
Tratamento
1. Orientações Gerais ao Prescritor
O Resfriado Comum é uma doença viral autolimitada. A prescrição deve focar em medidas de suporte e educação familiar, evitando a medicalização excessiva.
Antibióticos são ineficazes e não devem ser prescritos.
A lavagem nasal é a intervenção terapêutica mais importante.
A principal função do médico é orientar os pais sobre a evolução natural da doença e, crucialmente, sobre os sinais de alerta que indicam complicações ou outro diagnóstico.
2. Prescrição de Medidas de Suporte (Tratamento Principal)
Hidratação:
Orientar a família a oferecer líquidos (água, sucos, chás, leite) com frequência, em pequenos volumes, para manter a criança hidratada e as secreções fluidificadas.
Lavagem Nasal:
Prescrição:
1. Soro Fisiológico 0,9% solução nasal.
2. Modo de Usar: Instilar em ambas as narinas várias vezes ao dia, especialmente antes das mamadas/refeições e ao deitar. O volume pode variar de algumas gotas para lactentes até jatos de 5-10 mL com seringa para crianças maiores.
3. Realizar aspiração suave com aspirador nasal após a instilação, se houver muita secreção em lactentes.
Repouso:
Orientar repouso relativo, permitindo que a criança regule seu próprio nível de atividade. Evitar atividades extenuantes.
3. Prescrição de Medicações Sintomáticas
Antitérmicos e Analgésicos:
Indicação: Apenas se febre (T > 37,8°C) estiver causando desconforto significativo (irritabilidade, prostração) ou se houver dor (cefaleia, dor de garganta).
Prescrição (Opção 1):
1. Paracetamol solução oral 200mg/mL. Prescrever na dose de 15 mg/kg/dose, por via oral, a cada 6 horas, se necessário.
Prescrição (Opção 2, para > 6 meses):
1. Ibuprofeno solução oral 100mg/mL. Prescrever na dose de 10 mg/kg/dose, por via oral, a cada 8 horas, se necessário.
4. Medicações NÃO Recomendadas ou a Serem Evitadas
Antibióticos: NÃO PRESCREVER.
Corticosteroides: NÃO PRESCREVER. Não demonstraram benefício para o resfriado não complicado.
Antitussígenos / Expectorantes / Mucolíticos: EVITAR PRESCREVER. A tosse é um mecanismo de defesa. A eficácia desses agentes é duvidosa e o risco de efeitos adversos em crianças é relevante.
Anti-histamínicos: NÃO PRESCREVER. Não são eficazes para os sintomas do resfriado.
Descongestionantes (Orais ou Nasais): EVITAR PRESCREVER. O risco de efeitos adversos (taquicardia, agitação, efeito rebote) supera qualquer benefício potencial em crianças.
5. Prescrição de Orientações para a Família e Sinais de Alerta
Fornecer por escrito:
O resfriado é uma infecção viral que melhora sozinha em 7 a 10 dias. A tosse pode durar mais tempo.
O tratamento consiste em manter o nariz limpo com soro fisiológico, oferecer líquidos e controlar a febre/dor se houver desconforto.
Procurar reavaliação médica IMEDIATAMENTE se a criança apresentar qualquer um dos seguintes sinais de alerta:
Dificuldade para respirar (respiração rápida, afundamento das costelas).
Febre alta (≥ 39°C) que persiste por mais de 3 dias.
Recusa em aceitar líquidos.
Sonolência ou irritabilidade excessivas.
Surgimento de dor de ouvido intensa.
* Se os sintomas não começarem a melhorar após 7-10 dias ou se houver uma piora após uma melhora inicial.
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