Infecção do Trato Urinário (ITU)

Resumo

1. Definição e Contexto ITU é a presença e multiplicação de microrganismos no trato urinário, confirmada por urocultura (critérios por método de coleta). Na infância é frequente e, se manejada tardiamente, pode resultar em cicatriz renal, hipertensão e DRC. 2. Epidemiologia & Fatores de Risco Sexuais/etários — masculino < 6 m (fimose/anomalias); feminina após 1 a (uretra curta). Anatômicos — RVU, válvula de uretra posterior, hidronefrose, uropatia obstrutiva. Funcionais — disfunção miccional

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Nefrologia e Urologia > Infecções do Trato Urinário > Infecção do Trato Urinário (ITU)

Conduta Completa

1. Definição e Contexto ITU é a presença e multiplicação de microrganismos no trato urinário, confirmada por urocultura (critérios por método de coleta). Na infância é frequente e, se manejada tardiamente, pode resultar em cicatriz renal, hipertensão e DRC. 2. Epidemiologia & Fatores de Risco Sexuais/etários — masculino < 6 m (fimose/anomalias); feminina após 1 a (uretra curta). Anatômicos — RVU, válvula de uretra posterior, hidronefrose, uropatia obstrutiva. Funcionais — disfunção miccional, constipação crônica, estase urinária. Comportamentais — higiene inadequada, retenção voluntária, atividade sexual precoce, roupas sintéticas. Sistêmicos — prematuridade, imunossupressão, diabetes. 3. Classificação Clínica Cistite (ITU baixa): disúria / polaciúria, sem febre alta. Pielonefrite (ITU alta): febre ≥ 38,5 °C + dor lombar/flanco ± toxemia. Complicada: uropatia obstrutiva, RVU grau III‑V, nefrolitíase, imunodeficiência, falha terapêutica inicial ou bacteremia. Bacteriúria assintomática: tratar apenas gestantes ou pré‑procedimento urológico. 4. Fisiopatologia (resumo) Via ascendente; E. coli uropatogênica predomina (adesinas P, fímbrias 1). Falha de barreiras (RVU, esvaziamento incompleto, pH) aumenta risco. 5. Apresentação Clínica Neonatos: febre/hipotermia, icterícia, sepse. 1‑24 m: febre sem foco, irritabilidade, vômitos. 2‑5 a: disúria, polaciúria, enurese secundária. > 5 a/adolescentes: quadro clássico de cistite ou pielonefrite. 6. Diagnóstico Coleta de urina: PSP (qualquer crescimento), cateterismo (≥ 10⁴ UFC/mL), jato médio (≥ 10⁵ UFC/mL). EAS: piúria > 5‑10 leucócitos/campo ou nitrito + reforçam suspeita. Exames complementares: hemograma, PCR/procalcitonina, hemocultura em < 3 m ou toxemia. Imagem: USG renal até 4 semanas após primeira ITU febril < 2 a, ou se complicação. UCM se USG alterada, ITU febril recorrente ou RVU suspeito. DMSA 4‑6 m após pielonefrite para cicatriz renal. Repetir USG + considerar nova UCM se houver ITU febril recorrente mesmo com imagem inicial normal. 7. Manejo Clínico Indicações de internação (absolutas): < 2 m, toxemia/sepsis, vômitos persistentes, uropatia obstrutiva, falha VO, imunodeficiência. Ambulatório (≥ 6 m, estáveis): Iniciar antibiótico VO por 7‑10 dias conforme gravidade (ver Documento de Prescrições). Reavaliar em 48‑72 h; coletar urocultura de controle se febre persiste ou piora clínica. Hospitalar: iniciar EV 2‑4 dias → trocar para VO quando afebril ≥ 24 h e tolerando dieta; duração total 10‑14 dias. Suporte: hidratação adequada, antitérmico (paracetamol/ibuprofeno), tratar constipação. 8. Profilaxia Antimicrobiana (selecionada) Indicar, após avaliação nefropediátrica, em: RVU grau III‑V ou pós‑cirurgia parcial. ≥ 2 ITU febris em 6 m ou ≥ 3 cistites em 12 m. Anomalias urológicas complexas. Esquemas noturnos: nitrofurantoína 1‑2 mg/kg ou SMX‑TMP 2 mg/kg (componente TMP). 9. Seguimento Consulta 7‑14 dias pós‑tratamento; reforçar higiene, hidratação e ritmo miccional. Nefro/urologo se: cicatriz renal, RVU, ITU complicada ou recorrente. 10. Referências Sociedade Brasileira de Pediatria (2024); AAP (2024); EAU Paediatric Guidelines (2024); Ministério da Saúde (2025); UpToDate (2025).

Tratamento

1. Antibióticoterapia Ambulatorial (VO) Cistite (≥ 2 anos) Nitrofurantoína 5‑7 mg/kg/dia VO 6/6 h – 5‑7 dias Alternativa: SMX‑TMP 8‑10 mg/kg/dia (TMP) VO 12/12 h – 5‑7 dias Pielonefrite leve / ITU febril (> 6 m) Cefalexina 75 mg/kg/dia VO 8/8 h – 10 dias Alternativa: Cefixima 8 mg/kg/dia VO 12/12 h – 10 dias Observações Evitar SMX‑TMP se resistência local > 20 % Alergia a β‑lactâmicos: SMX‑TMP (sensível) ou fosfomicina (≥ 12 a) 2. Antibióticoterapia Hospitalar (EV) Esquema de primeira linha (pielonefrite febril / < 6 m / toxemia) Ceftriaxona 50‑75 mg/kg/d EV 1×/dia Ou Cefotaxima 150‑200 mg/kg/d EV fracionada 6/6 h (segura em RN) ITU complicada / risco Pseudomonas Piperacilina‑Tazobactam 300‑400 mg/kg/d EV 6/6 h Multirresistência Meropenem 60‑120 mg/kg/d EV 8/8 h Gentamicina (adjuvante ou quando necessário) RN a termo: 4‑5 mg/kg/d EV, dose única diária RN pré‑termo ou < 7 dias: 4‑5 mg/kg EV, intervalo 24–36–48 h conforme idade gestacional/pós‑natal e função renal Ajustar intervalo se creatinina elevada; monitorar níveis se uso > 48 h. Transição EV → VO Afebril ≥ 24 h, tolerando dieta, diurese adequada. Ceftriaxona → Cefalexina 75 mg/kg/d 8/8 h (até completar 10‑14 d) Cefotaxima → Cefixima 8 mg/kg/d 12/12 h 3. Profilaxia Antibiótica Noturna (casos selecionados) Nitrofurantoína 1‑2 mg/kg VO (máx. 100 mg) ou SMX‑TMP 2 mg/kg (TMP) VO Reavaliar necessidade a cada 6 meses. 4. Suporte e Orientações Hidratação oral: 100 mL/kg/d (primeiros 10 kg) + 50 mL/kg (próx. 10 kg) + 20 mL/kg (> 20 kg) Antitérmicos / analgésicos: Paracetamol 10‑15 mg/kg VO 6/6 h ou Ibuprofeno 5‑10 mg/kg VO 8/8 h (≥ 6 m) Constipação: PEG 0,4‑0,8 g/kg/d Quando retornar: febre > 48 h, dor lombar intensa, vômitos, oligúria ou sinais de toxicidade do antibiótico. 5. Ajustes Especiais Insuficiência renal (TFG < 50): reduzir aminoglicosídeo 50 %; nitrofurantoína contraindicada se TFG < 30. Adolescente grávida: preferir cefalosporinas; evitar quinolonas.

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