Doença Renal Crônica (DRC)
Resumo
1. Definição e Estadiamento
A Doença Renal Crônica (DRC) em pediatria é definida pela presença de anormalidades da estrutura ou função renal por um período superior a 3 meses, com implicações para a saúde. O diagnóstico é firmado pela presença de um dos seguintes critérios:
Marcadores de dano renal (um ou mais): Albuminúria, alterações no sedimento urinário, distúrbios tubulares, anormalidades histológicas ou estruturais.
Taxa de Filtração Glomerular (TFG) estimada < 60 mL/min/1,73m².
A DRC é
Categoria
Nefrologia e Urologia > Insuficiência Renal > Doença Renal Crônica (DRC)
Conduta Completa
1. Definição e Estadiamento
A Doença Renal Crônica (DRC) em pediatria é definida pela presença de anormalidades da estrutura ou função renal por um período superior a 3 meses, com implicações para a saúde. O diagnóstico é firmado pela presença de um dos seguintes critérios:
Marcadores de dano renal (um ou mais): Albuminúria, alterações no sedimento urinário, distúrbios tubulares, anormalidades histológicas ou estruturais.
Taxa de Filtração Glomerular (TFG) estimada < 60 mL/min/1,73m².
A DRC é uma condição progressiva e irreversível. O estadiamento, fundamental para o manejo, é feito pela classificação do KDIGO (Kidney Disease: Improving Global Outcomes), que combina a TFG (estágios G1 a G5) com o grau de albuminúria (estágios A1 a A3).
Estadiamento da DRC pela TFG (Estágios G)
| Estágio | TFGe (mL/min/1,73m²) | Descrição |
| :--- | :--- | :--- |
| G1 | ≥90 | Normal ou alta (com dano renal) |
| G2 | 60-89 | Levemente diminuída |
| G3a | 45-59 | Leve a moderadamente diminuída |
| G3b | 30-44 | Moderada a gravemente diminuída |
| G4 | 15-29 | Gravemente diminuída |
| G5 | <15 | Falência Renal (uremia) |
Estadiamento da DRC pela Albuminúria (Estágios A)
| Categoria | Relação Albumina/Creatinina (mg/g) | Descrição |
| :--- | :--- | :--- |
| A1 | <30 | Normal a levemente aumentada |
| A2 | 30-300 | Moderadamente aumentada |
| A3 | >300 | Gravemente aumentada |
2. Etiologia
As causas de DRC em pediatria são distintas das dos adultos, com predomínio das Anomalias Congênitas do Rim e Trato Urinário (CAKUT), responsáveis por 50-60% dos casos. Glomerulopatias hereditárias e adquiridas seguem como causas importantes.
3. Manifestações Clínicas e Complicações
A DRC é uma doença silenciosa em seus estágios iniciais. O déficit de crescimento é frequentemente a primeira e mais óbvia manifestação em crianças. Outros sinais incluem poliúria, nictúria, anorexia, fadiga e palidez.
Complicações Sistêmicas:
Distúrbio Mineral e Ósseo da DRC (DMO-DRC): Complicação precoce e universal. A falha renal em excretar fósforo e ativar a vitamina D leva à hiperfosfatemia, hipocalcemia e hiperparatireoidismo secundário, resultando em osteodistrofia renal. As metas terapêuticas, conforme as diretrizes, são manter os níveis de cálcio e fósforo na faixa da normalidade para a idade e o PTH intacto entre 2 a 9 vezes o limite superior da normalidade do ensaio para o estágio G5.
Anemia: Principalmente por deficiência de eritropoietina.
Acidose Metabólica: Comum em estágios avançados (G4-G5), contribui para o catabolismo muscular e o déficit de crescimento.
Hipertensão Arterial: Resulta da retenção de sódio e água e da hiperativação do sistema renina-angiotensina. É um dos principais fatores de risco para a progressão da DRC.
4. Avaliação Diagnóstica
Avaliação da Função Renal: A TFGe é calculada pela equação de Schwartz revisada (CKiD). A Cistatina C é um marcador alternativo útil.
Avaliação do Dano Renal: Quantificação da albuminúria pela Relação Albumina/Creatinina (RAC) em amostra isolada de urina.
Ultrassonografia Renal: Essencial para avaliar a morfologia e detectar CAKUT.
5. Manejo Conservador
O tratamento é multidisciplinar e visa retardar a progressão da doença, manejar as complicações e preparar o paciente para a terapia renal substitutiva.
Retardo da Progressão:
Controle da Pressão Arterial: A meta é uma PA < percentil 50. Os Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (IECA) ou os Bloqueadores do Receptor de Angiotensina II (BRA) são as drogas de primeira linha.
Controle da Proteinúria: É um objetivo central, alcançado com o uso de IECA/BRA e restrição de sódio.
Manejo das Complicações:
DMO-DRC: O manejo envolve restrição de fósforo, uso de quelantes de fósforo e suplementação com Vitamina D Ativa (Calcitriol).
Anemia: O tratamento envolve a reposição de ferro e o uso de Agentes Estimuladores da Eritropoiese (ex: Eritropoietina).
Acidose Metabólica: Correção com Bicarbonato de Sódio oral.
Déficit de Crescimento: O uso de Hormônio do Crescimento (GH) recombinante é seguro e eficaz, mas deve ser considerado após a otimização do estado nutricional e o controle dos distúrbios metabólicos, sob indicação do especialista.
Terapia Renal Substitutiva (TRS): Quando a TFG cai para < 15 mL/min/1,73m² (DRC estágio G5), a TRS se torna necessária. As opções incluem diálise peritoneal, hemodiálise e, o tratamento de escolha, o transplante renal.
Referências Bibliográficas
Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO) CKD Work Group. KDIGO 2024 Clinical Practice Guideline for the Evaluation and Management of Chronic Kidney Disease. Kidney International. 2024.
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KDOQI Clinical Practice Guideline for Anemia in Chronic Kidney Disease: 2007 Update of Hemoglobin Target. American Journal of Kidney Diseases*. 2007;50(3):471-530.
Tratamento
1. Orientações Gerais ao Prescritor
O manejo da DRC é multidisciplinar e ambulatorial. As prescrições são crônicas e requerem ajustes frequentes com base no monitoramento clínico e laboratorial. As doses devem ser ajustadas para a função renal. A educação e o suporte à família são componentes essenciais do tratamento.
2. Controle da Progressão da DRC e Hipertensão
Primeira Linha (IECA ou BRA):
Enalapril comprimido.
Dose: Iniciar com 0,1 mg/kg/dia, por via oral, em dose única diária (dose máxima de 40 mg/dia). Titular a cada 2-4 semanas, conforme a pressão arterial e a proteinúria, até a dose máxima de 0,5 mg/kg/dia.
3. Tratamento da Anemia
Agentes Estimuladores da Eritropoiese:
Alfaepoetina solução injetável.
Dose Inicial: 50 a 100 UI/kg/dose, por via subcutânea, 2 a 3 vezes por semana. Titular a dose para manter a Hemoglobina alvo entre 10 e 12 g/dL.
Suplementação de Ferro:
Sulfato Ferroso. Prescrever na dose de 3 a 6 mg/kg/dia de ferro elementar, por via oral, dividida em 2 tomadas.
4. Controle do Distúrbio Mineral e Ósseo (DMO-DRC)
Quelantes de Fósforo (administrar com as refeições):
Carbonato de Cálcio comprimido 500mg. Prescrever 1 a 2 comprimidos, por via oral, 3 vezes ao dia, junto com as principais refeições.
Vitamina D Ativa:
Calcitriol cápsula 0,25mcg.
Dose: Iniciar com 0,25 mcg, por via oral, em dias alternados ou 3 vezes por semana (dose semanal inicial máxima de 0,75 mcg). A dose é titulada com base nos níveis de PTH, cálcio e fósforo.
5. Correção da Acidose Metabólica
Bicarbonato de Sódio cápsulas ou solução.
Dose: 1 a 3 mEq/kg/dia, por via oral, dividida em 3 tomadas.
Objetivo: Manter o Bicarbonato sérico ≥ 22 mEq/L.
6. Medicações para o Crescimento
Hormônio do Crescimento (GH) Recombinante:
Indicação: Apenas após o controle adequado dos distúrbios metabólicos e sob indicação do especialista.
Dose: 0,05 mg/kg/dia (0,35 mg/kg/semana) SC, em aplicação noturna.
7. Orientações Dietéticas
Restrição de sódio: 2-3 mEq/kg/dia (máx. 2g/dia).
Restrição de fósforo: Limitar laticínios, refrigerantes e alimentos processados em estágios avançados.
Proteínas: Manter 100-140% das necessidades para a idade.
8. Monitorização Laboratorial (Frequência por estágio)
Estágios G1-G2: A cada 6-12 meses.
Estágio G3: A cada 3-6 meses.
Estágios G4-G5: A cada 1-3 meses.
Exames obrigatórios: Função renal (TFGe), Eletrólitos, Metabolismo mineral (Ca, P, PTH, 25-OH-D), Hemograma completo, Perfil de ferro e Relação Proteína/Creatinina urinária.
9. Vacinação
Manter calendário básico completo.
Vacina contra Influenza (anual).
Vacina Pneumocócica (VPC13 + VPP23).
Vacina contra Hepatite B (verificar soroconversão, podem ser necessárias doses adicionais).
Vacinas de vírus vivos são contraindicadas em pacientes com imunossupressão significativa.
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