Aleitamento Materno

Resumo

1. Definição e Contexto Clínico O aleitamento materno é considerado padrão ouro da nutrição infantil, sendo recomendado de forma exclusiva até os 6 meses de vida e complementar até pelo menos 2 anos, conforme a OMS e a Sociedade Brasileira de Pediatria. Apesar das recomendações, a prevalência de aleitamento exclusivo até 6 meses no Brasil ainda é baixa, o que reforça a necessidade de estratégias efetivas de promoção e apoio. 2. Fisiologia da Lactação A lactação inicia ainda na gestação e se c

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Conduta Completa

1. Definição e Contexto Clínico O aleitamento materno é considerado padrão ouro da nutrição infantil, sendo recomendado de forma exclusiva até os 6 meses de vida e complementar até pelo menos 2 anos, conforme a OMS e a Sociedade Brasileira de Pediatria. Apesar das recomendações, a prevalência de aleitamento exclusivo até 6 meses no Brasil ainda é baixa, o que reforça a necessidade de estratégias efetivas de promoção e apoio. 2. Fisiologia da Lactação A lactação inicia ainda na gestação e se consolida nos primeiros dias pós-parto, sendo regulada principalmente pela prolactina (produção) e ocitocina (ejeção). O estímulo da sucção é essencial para manter a produção de leite, que funciona pelo princípio oferta-demanda. Fases do leite materno: Colostro (0-5 dias): Amarelado, rico em imunoglobulinas e fatores protetores, baixo volume. Leite de transição (5-15 dias): Aumento progressivo de volume, mudanças na composição. Leite maduro (>15 dias): Volume estável (700-900 mL/dia), composição adaptada ao crescimento do lactente. 3. Controle Hormonal A prolactina é liberada principalmente à noite e após a mamada, estimulando a produção do leite. Já a ocitocina é responsável pela ejeção do leite, sendo desencadeada pelo estímulo da sucção, contato visual, choro do bebê e vínculo afetivo. Reflexos do lactente: Busca: O bebê vira a cabeça em direção ao estímulo na bochecha. Sucção: Movimento ritmado para extrair o leite. Deglutição: Coordenação dos movimentos a partir de 34-36 semanas de gestação. O reflexo de ejeção pode ser percebido pela mãe por formigamento e saída de leite espontânea na outra mama durante a mamada. 4. Composição do Leite Materno O leite materno tem composição dinâmica e exclusiva, modulando sua fórmula conforme as necessidades do bebê. Colostro: Proteínas altas (2,3g/100mL), rico em imunidade, baixo volume, fundamental nas primeiras 48-72h. Leite maduro: Proteínas (1,1g/100mL), gorduras (3,8g/100mL), carboidratos (7g/100mL), energia (70 kcal/100mL), contém enzimas, hormônios e prebióticos. A concentração de gordura aumenta ao longo da mamada, garantindo saciedade. 5. Técnica de Amamentação Posicionamento O sucesso da amamentação depende do posicionamento confortável para mãe e bebê ("barriga com barriga", nariz livre, cabeça alinhada com o corpo). Principais posições: tradicional, invertida, deitada (lado a lado), cavalinho (bebê sentado, útil em refluxo). Pega A pega correta envolve boca bem aberta, lábios evertidos, queixo encostado na mama e mais aréola visível acima do que abaixo da boca. Erros comuns: bochechas encovadas, estalos, dor materna. Sucção A sucção deve ser ritmada, profunda e sem dor para a mãe. A duração varia, seguindo a livre demanda e sinais de saciedade do bebê. 6. Estabelecimento da Lactação A primeira hora pós-parto ("golden hour") é o melhor momento para início da amamentação: Contato pele-pele estimula os reflexos do bebê e a produção de colostro. Mamadas frequentes (8-12 vezes/24h), livre demanda, observação dos sinais precoces de fome (procura, movimentos de sucção) são fundamentais para o sucesso. 7. Benefícios do Aleitamento Materno Para o bebê Nutrição ótima: Composição sempre adequada e facilmente digerível. Imunidade: Redução do risco de infecções respiratórias, diarreia, alergias, morte súbita, doenças crônicas (obesidade, diabetes, leucemias). Desenvolvimento neuropsicomotor: Maior QI, melhor vínculo, desenvolvimento maxilofacial e dentário. Para a mãe Recuperação pós-parto: Redução do sangramento e involução uterina mais rápida. Saúde a longo prazo: Menor risco de câncer de mama e ovário, diabetes tipo 2, osteoporose. Aspectos emocionais: Vínculo, autoestima, prevenção da depressão pós-parto. Sociais e econômicos Menor custo para a família e sistema de saúde. Praticidade: Leite sempre pronto, na temperatura adequada, livre de contaminação. 8. Problemas Comuns Fissuras mamilares Quase sempre relacionadas à pega inadequada. Prevenção e tratamento: ajuste da técnica, uso de lanolina, exposição ao ar e ao próprio leite. Ingurgitamento mamário Mamas dolorosas, endurecidas, dificultando a pega. Conduta: esvaziamento manual, compressas, mamadas frequentes, alternância de posições. Mastite Inflamação mamária, geralmente infecciosa (febre, dor, área endurecida). Conduta: manter amamentação, esvaziamento da mama, compressas, antibiótico (quando indicado). 9. Avaliação da Amamentação Avaliação clínica do binômio mãe-bebê é fundamental. Sinais de amamentação eficaz: Bebê: ganho de peso, eliminações adequadas (6-8 urinas/dia), fezes amareladas, bebê satisfeito após mamar. Mãe: mamas macias após a mamada, sem dor persistente. Instrumentos como o LATCH score e IBFAT auxiliam na avaliação da qualidade da amamentação. 10. Orientações e Suporte Livre demanda: sempre que o bebê quiser. Alternância das mamas a cada mamada. Apoio profissional: acompanhamento frequente, suporte emocional. Apoio familiar: informação, incentivo e ajuda prática (cuidar da casa, da alimentação da mãe etc). 11. Situações Especiais Prematuros Requerem maior apoio, muitas vezes necessitando de ordenha e oferta por copinho ou sonda até maturação da coordenação sucção-deglutição-respiração. Gemelares Produção se ajusta à demanda; amamentação pode ser simultânea (posições duplas) ou alternada, sempre com apoio e orientação. Retorno ao trabalho Organizar ordenha e armazenamento do leite (geladeira/congelador); planejar rotina de mamadas e pausas para amamentação garantidas por lei. 12. Contraindicações ao Aleitamento Maternas Absolutas: HIV, HTLV, uso de drogas ilícitas, certos quimioterápicos e radioterápicos. Temporárias: herpes no mamilo, varicela perinatal ativa, tuberculose bacilífera não tratada. Neonatais Raras: galactosemia clássica, doença do xarope de bordo, deficiência de lactase congênita (raríssimo). 13. Políticas Públicas e Promoção O Brasil possui uma das maiores redes de bancos de leite humano do mundo e iniciativas como Hospital Amigo da Criança, licença-maternidade, legislação de proteção à lactante e normas de comercialização de substitutos do leite materno. O apoio institucional, familiar e social é peça-chave para o sucesso. 14. Referências Bibliográficas 1. Ministério da Saúde. Saúde da Criança: Nutrição Infantil - Aleitamento Materno e Alimentação Complementar. Brasília: MS; 2009. 2. Sociedade Brasileira de Pediatria. Guia Prático de Aleitamento Materno. Rio de Janeiro: SBP; 2020. 3. World Health Organization. Breastfeeding recommendations. Geneva: WHO; 2023. 4. American Academy of Pediatrics. Breastfeeding and the use of human milk. Pediatrics. 2022;150(1)\:e2022057988. 5. Sociedade Brasileira de Pediatria. Manual de Orientação: Alimentação do Lactente ao Adolescente. Rio de Janeiro: SBP; 2018.

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