Malformações Congênitas do RN
Resumo
1. Definição e Contexto Clínico
As malformações congênitas incluem uma variedade de anomalias estruturais e funcionais formadas durante o desenvolvimento embrionário/fetal, sendo importante causa de mortalidade neonatal e infantil. Afetam 2–4% dos nascidos vivos, respondendo por cerca de 20% das mortes neonatais. A fisiopatologia é multifatorial: genética, ambiental (teratógenos), doenças maternas, deficiências nutricionais e interações gene-ambiente nos períodos críticos da organogênese.
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Neonatal > Malformações Neonatais > Malformações Congênitas do RN
Conduta Completa
1. Definição e Contexto Clínico
As malformações congênitas incluem uma variedade de anomalias estruturais e funcionais formadas durante o desenvolvimento embrionário/fetal, sendo importante causa de mortalidade neonatal e infantil. Afetam 2–4% dos nascidos vivos, respondendo por cerca de 20% das mortes neonatais. A fisiopatologia é multifatorial: genética, ambiental (teratógenos), doenças maternas, deficiências nutricionais e interações gene-ambiente nos períodos críticos da organogênese.
Classificação:
Isoladas (60–70%) – acometem um único sistema, prognóstico geralmente melhor
Múltiplas (30–40%) – envolvem mais de um sistema, geralmente associadas a síndromes/sequências/associações
Sistemas mais acometidos:
Cardiovascular (25–30%), SNC (10–15%), musculoesquelético (10–15%), gastrointestinal (4–6%), genitourinário (3–5%).
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2. Fatores de Risco
Idade materna avançada
Consanguinidade
Exposição a teratógenos (fármacos, álcool, infecções)
Doenças maternas crônicas (diabetes, epilepsia)
Deficiências nutricionais (ácido fólico)
História familiar de malformações
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3. Diagnóstico
Pré-Natal
Ultrassonografia morfológica (18–22 semanas): detecta 50–70% das malformações.
Ecocardiografia fetal: essencial para cardiopatias complexas.
Ressonância magnética fetal: detalhamento anatômico, sobretudo SNC.
Testes genéticos: cariótipo, array CGH, painéis multigênicos em casos suspeitos.
Pós-Natal
Exame clínico detalhado: avaliação sistemática de dismorfias, anomalias, antropometria.
Imagens: radiografias, ultrassom, TC/RM conforme órgão acometido.
Avaliação genética: cariótipo, estudos moleculares se indicado.
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4. Condutas Imediatas e Manejo Inicial
Identificar e priorizar lesões com risco imediato de vida: obstruções digestivas, malformações cardíacas críticas, hérnia diafragmática, hidrocefalia com hipertensão intracraniana.
Estabilização clínica: vias aéreas, ventilação, acesso venoso, suporte hemodinâmico e metabólico.
Encaminhamento precoce para centro terciário se necessário.
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5. Tratamento Específico por Sistema
Cirúrgico
Urgência: obstruções, perfurações, cardiopatias críticas, hérnias diafragmáticas, hidrocefalia aguda.
Eletiva: correção de fenda palatina, hipospádia, defeitos musculoesqueléticos.
Perioperatório: monitorização anestésica, cuidados intensivos, prevenção de complicações infecciosas e metabólicas.
Clínico
Suporte respiratório e hemodinâmico: oxigenoterapia, suporte ventilatório se necessário.
Suporte nutricional: iniciar aleitamento materno, fórmulas especiais se indicado, sonda enteral em casos de má-formação oral/digestiva.
Prevenção e tratamento de infecções: antibioticoterapia se infecção suspeita/comprovada.
Medicação sintomática: cardiotônicos, diuréticos, anticonvulsivantes, conforme indicação específica.
Reabilitação e Seguimento
Fisioterapia e terapia ocupacional: iniciar precocemente para estímulo motor e funcional.
Avaliação multiprofissional: acompanhamento por genética, cirurgia, especialidades clínicas, nutrição, fonoaudiologia, psicologia.
Planejamento de reabilitação e inclusão social/educacional.
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6. Prevenção
Primária
Suplementação de ácido fólico (400 mcg/dia) pré-concepção e 1º trimestre.
Controle de doenças maternas crônicas e medicamentos em uso.
Vacinação materna e orientação para evitar teratógenos.
Secundária
Pré-natal adequado: rastreamento ultrassonográfico, diagnóstico precoce.
Testes genéticos e aconselhamento familiar.
Terciária
Diagnóstico e intervenção precoce: minimizar sequelas, reabilitação funcional.
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7. Complicações e Cuidados Contínuos
Cirúrgicas: sangramento, infecção, deiscência, fístulas, reoperações.
Clínicas: insuficiência orgânica, infecções, distúrbios metabólicos, problemas alimentares e de crescimento.
Psicossociais: impacto familiar, necessidade de apoio emocional e de recursos sociais.
Funcionais: limitações motoras, cognitivas, sensoriais e de inclusão escolar/social.
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8. Prognóstico e Qualidade de Vida
Melhor quando malformação é isolada, corrigível e diagnosticada precocemente.
Pior prognóstico: múltiplas malformações, síndromes genéticas graves, atraso diagnóstico/intervenção, presença de comorbidades e recursos limitados.
Foco contínuo: funcionalidade, autonomia, inclusão e suporte familiar.
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9. Aconselhamento Genético
Fundamental para orientar risco de recorrência, planejamento reprodutivo e tomada de decisão familiar.
Avaliar história familiar, realizar testes genéticos quando possível e garantir suporte informativo e psicológico.
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10. Referências Bibliográficas
1. Ministério da Saúde. Atenção à Saúde do Recém-Nascido: Guia para os Profissionais de Saúde. Volume 4. Brasília: MS; 2014.
2. Sociedade Brasileira de Pediatria. Malformações Congênitas. Documento Científico. Rio de Janeiro: SBP; 2020.
3. Jones KL, et al. Smith's Recognizable Patterns of Human Malformation. 8th ed. Philadelphia: Elsevier; 2021.
4. Sociedade Brasileira de Genética Médica. Diretrizes para Aconselhamento Genético. São Paulo: SBGM; 2019.
5. WHO. Birth defects surveillance: a manual for programme managers. Geneva: WHO; 2020.
Tratamento
1. Orientações Gerais ao Prescritor
Malformações congênitas exigem abordagem multidisciplinar desde o nascimento: o foco deve ser garantir estabilização, diagnóstico preciso e início imediato das intervenções necessárias.
Acolhimento e apoio à família são parte do tratamento desde o primeiro contato.
A conduta sempre depende do tipo e gravidade da malformação, presença de outras anomalias e estabilidade clínica.
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2. Rotina Inicial para Todos os RN com Malformação
Avaliação e Estabilização Imediata
Exame físico detalhado para detecção de anomalias evidentes, dismorfias e risco vital imediato.
Monitorização contínua: SatO₂, FC, PA, temperatura, glicemia.
Jejum e acesso venoso periférico caso haja risco cirúrgico iminente ou obstrução digestiva.
Aquecimento ativo e prevenção de perda de calor.
Reposição volêmica conforme peso, estado clínico e perdas, com SF 0,9% + glicose 10% (ajustar conforme idade e quadro).
Exames iniciais obrigatórios: hemograma, eletrólitos, função renal/hepática, gasometria, coagulograma e exames de imagem dirigidos.
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3. Prescrição Específica Conforme Sistema
3.1. Cardiopatias Congênitas Críticas
Prostaglandina E1 (PGE1) se indicado: 0,01–0,05 mcg/kg/min IV contínuo, manter canal arterial pérvio até definição cirúrgica (uso sob monitoração rigorosa).
Controle restrito de O₂ (algumas cardiopatias dependem de hipóxia relativa).
Avaliação cirúrgica urgente e preparo para transferência se necessário.
Medicamentos de suporte: diuréticos, inotrópicos conforme insuficiência cardíaca.
Atenção à antibioticoprofilaxia e profilaxia de endocardite.
3.2. Malformações Gastrointestinais
Jejum absoluto.
Sonda orogástrica para descompressão.
Reposição volêmica agressiva se perdas digestivas.
Profilaxia antibiótica ampla: (Ampicilina + Gentamicina + Metronidazol, ajustar conforme protocolo local).
Avaliação cirúrgica imediata (ex: gastrosquise, atresia de esôfago, hérnia diafragmática).
Monitorização de eletrólitos, glicemia e sinais de perfuração/sepse.
Nutrição parenteral precoce caso dieta enteral não seja possível.
3.3. Defeitos Neurológicos (ex: mielomeningocele, hidrocefalia)
Cobertura estéril da lesão: compressa umedecida em SF.
Antibiótico profilático se exposição de SNC (ex: cefalosporina de 3ª geração).
Avaliação precoce pela neurocirurgia para programação cirúrgica.
Analgesia adequada: Dipirona 10–15 mg/kg/dose VO/IV 6/6h ou Paracetamol 10–15 mg/kg/dose VO/IV 6/6h.
Monitorização rigorosa para sinais de infecção, hidrocefalia progressiva ou déficits neurológicos.
3.4. Malformações Genitourinárias
Antibiótico profilático em defeitos do trato urinário alto (nitrofurantoína 1–2 mg/kg/dia VO ou cefalexina 25–50 mg/kg/dia VO em dose única noturna).
Cateterização vesical de alívio se obstrução urinária.
Monitorização de função renal e eletrólitos.
Encaminhamento à urologia/nefrologia pediátrica.
3.5. Malformações Musculoesqueléticas
Encaminhamento para ortopedia para definição de conduta (ex: correção cirúrgica, órteses, fisioterapia).
Fisioterapia motora precoce para evitar retrações e estimular desenvolvimento.
Controle da dor pós-operatória ou em deformidades dolorosas.
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4. Nutrição e Suporte Metabólico
Aleitamento materno: sempre que possível, adaptar técnica ou uso de sonda quando necessário.
Nutrição enteral precoce se viável; caso contrário, iniciar nutrição parenteral conforme necessidade.
Monitorização rigorosa de peso, balança hídrica e parâmetros metabólicos.
Suplementação de vitaminas e minerais conforme risco e demanda específica.
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5. Prevenção de Infecção
Profilaxia antibiótica em lesões abertas/cirurgias.
Cuidados rigorosos de curativo, trocas assépticas e higiene.
Vacinação conforme calendário, adaptando situações especiais.
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6. Seguimento Multidisciplinar e Apoio Familiar
Avaliação regular por equipe multiprofissional: cirurgia pediátrica, genética, neuro, cardio, nutrição, psicologia, serviço social.
Aconselhamento genético: especialmente em síndromes ou recorrências familiares.
Apoio psicológico e social à família – orientação sobre prognóstico, expectativas realistas e suporte no processo de adaptação.
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7. Documentação e Comunicação
Registrar minuciosamente: todas as condutas, evolução clínica, exames realizados, intervenções cirúrgicas e orientações familiares.
Planejar alta com encaminhamento para centros de referência e instruções claras para sinais de alerta e cuidados domiciliares.
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8. Resumo Prático
Não existe prescrição única: a conduta é sempre individualizada conforme a malformação e condição clínica do RN.
Monitorizar e reavaliar frequentemente: complicações são comuns e exigem ajuste rápido das intervenções.
Valorize o acolhimento e a comunicação efetiva com a família desde o início.
Acesso Interativo
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