Distúrbios Respiratórios do RN
Resumo
1. Definição e Contexto Clínico
Os distúrbios respiratórios do recém-nascido abrangem patologias diversas (SDR, TTRN, pneumonia, SAM, HPPN, apneia), são a principal causa de morbidade/mortalidade neonatal e respondem por até 40% das internações em UTI neonatal.
Fatores centrais: imaturidade pulmonar, dificuldade na transição para a vida extrauterina e complicações perinatais.
Epidemiologia:
10-15% dos RN apresentam desconforto respiratório
5-7% necessitam suporte ventilatório
Mortalidade: 2
Categoria
Neonatal > Patologias Neonatais Específicas > Distúrbios Respiratórios do RN
Conduta Completa
1. Definição e Contexto Clínico
Os distúrbios respiratórios do recém-nascido abrangem patologias diversas (SDR, TTRN, pneumonia, SAM, HPPN, apneia), são a principal causa de morbidade/mortalidade neonatal e respondem por até 40% das internações em UTI neonatal.
Fatores centrais: imaturidade pulmonar, dificuldade na transição para a vida extrauterina e complicações perinatais.
Epidemiologia:
10-15% dos RN apresentam desconforto respiratório
5-7% necessitam suporte ventilatório
Mortalidade: 2-5% geral, chegando a 20-40% em prematuros extremos
Fisiopatologia: Imaturidade respiratória, deficiência de surfactante, alterações ventilação-perfusão, dificuldades na adaptação circulatória.
Quadro clínico geral: taquipneia, retrações, gemido, cianose, apneia, insuficiência respiratória.
Diagnóstico: exame clínico minucioso, gasometria, radiografia de tórax e monitorização contínua.
Prognóstico: depende da gravidade, idade gestacional, resposta terapêutica e presença de complicações.
2. Principais Entidades Clínicas
2.1 Síndrome do Desconforto Respiratório (SDR)
Definição: Deficiência de surfactante, predominando em prematuros.
Fisiopatologia: Imaturidade dos pneumócitos tipo II → baixa produção de surfactante → atelectasia, hipoxemia, acidose, necessidade de ventilação.
Fatores de risco: Prematuridade (<37s), diabetes materno, cesariana eletiva, asfixia perinatal.
Clínica: Taquipneia >60 irpm, retrações, gemido, cianose central; piora nas 48-72h iniciais.
Diagnóstico:
Clínico: início precoce, piora rápida
Radiológico: padrão reticulogranular difuso, broncograma aéreo
Gasometria: hipoxemia (PaO2 <50), hipercapnia, acidose
Tratamento:
Suporte ventilatório com CPAP nasal precoce
Ventilação mecânica se necessário, estratégias protetoras
Surfactante exógeno precoce (<2h vida): 100-200 mg/kg via intratraqueal
Termorregulação, controle hídrico, prevenção infecções
2.2 Taquipneia Transitória do RN (TTRN)
Definição: Reabsorção lenta do líquido pulmonar fetal. Mais comum em nascimentos por cesariana.
Clínica: Taquipneia (60-120 irpm), retrações leves, cianose periférica, início nas primeiras horas, melhora espontânea em 24-72h.
Diagnóstico:
Clínico: desconforto leve, resolução rápida
RX: infiltrado perihilar, líquido em fissuras, hiperinsuflação discreta
Gasometria: hipoxemia leve, pH normal
Tratamento:
Oxigenioterapia apenas se necessário
Observação clínica
Alimentação conforme tolerância
Antibióticos apenas se suspeita de infecção
2.3 Pneumonia Neonatal
Classificação:
Precoce (<72h): transmissão vertical (GBS, E. coli, Listeria)
Tardia (>72h): infecção nosocomial/comunitária (Staph, Gram-, fungos)
Fatores de risco: prematuridade, ruptura prolongada de membranas, corioamnionite, procedimentos invasivos.
Clínica: desconforto respiratório, apneia, cianose, instabilidade térmica, letargia, choque séptico.
Diagnóstico:
Clínico: sinais sistêmicos e respiratórios
RX: infiltrados/consolidações, derrame pleural
Laboratório: leucocitose/leucopenia, PCR/procalcitonina elevados, culturas
Tratamento:
Antibióticos:
Precoce: ampicilina + gentamicina
Tardia: vancomicina + cefepime
Ajustar conforme cultura
Suporte respiratório, hemodinâmico, nutricional, monitorização intensiva
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2.4 Síndrome de Aspiração de Mecônio (SAM)
Fisiopatologia: Sofrimento fetal → aspiração de mecônio → obstrução/inflamação, inativação do surfactante, hipertensão pulmonar.
Clínica: desconforto respiratório grave, taquipneia, cianose, hiperinsuflação, risco de pneumotórax.
Diagnóstico: Líquido amniótico meconial, RX (hiperinsuflação, infiltrados), gasometria (hipoxemia, acidose).
Tratamento:
Aspiração traqueal apenas se indicado
Ventilação mecânica conforme necessidade
Surfactante exógeno
Óxido nítrico se HPPN
2.5 Hipertensão Pulmonar Persistente do RN (HPPN)
Fisiopatologia: Resistência vascular pulmonar elevada, shunt D→E, hipoxemia e acidose.
Causas: SDR, SAM, pneumonia, sepse, asfixia, idiopática.
Clínica: cianose, hipoxemia grave, instabilidade hemodinâmica.
Diagnóstico: Clínica, diferença de saturação pré/pós-ductal, ECO, gasometria.
Tratamento:
Medidas gerais: sedação, alcalinização (pH 7,45-7,55), inotrópicos
Óxido nítrico (5-20 ppm)
Sildenafil (oral) como alternativa
ECMO em casos refratários
2.6 Apneia da Prematuridade
Definição: Pausas >20s, bradicardia/dessaturação, geralmente em prematuros <37s.
Clínica: apneias centrais, obstrutivas ou mistas.
Tratamento:
Medidas gerais: posicionamento, estimulação, correção de causas precipitantes
Cafeína (ataque 20 mg/kg IV, manutenção 5-10 mg/kg/dia)
Teofilina (alternativa)
Doxapram (refratários)
Monitorização contínua
3. Suporte Ventilatório
CPAP nasal: primeira linha em SDR/TTRN/apneia, pressão 4-8 cmH2O, FiO2 conforme necessidade.
Ventilação mecânica: indicada na falha do CPAP, acidose, instabilidade, apneia grave. SIMV, PSV, HFOV, parâmetros protetores (volume corrente 4-6 mL/kg, PEEP adequada).
Desmame ventilatório: sempre gradual, conforme estabilidade clínica e gasométrica.
4. Monitorização e Complicações
Parâmetros clínicos: frequência/padrão respiratório, cor, perfusão, sinais de desconforto.
Gasometria: PaO2, PaCO2, pH, saturação, lactato.
Imagens: RX tórax, USG, TC, ECO se necessário.
Complicações: pneumotórax, displasia broncopulmonar, hemorragia, atelectasia, infecções nosocomiais.
5. Prognóstico e Seguimento
Fatores favoráveis: termo, peso adequado, tratamento oportuno, ausência de complicações.
Fatores de risco para pior prognóstico: prematuridade extrema, comorbidades, ventilação prolongada.
Sequelas possíveis: displasia broncopulmonar, hiperreatividade, infecções recorrentes, paralisia cerebral.
Seguimento: multidisciplinar (pneumo, neuro, fisio, fono, família).
6. Prevenção
Primária: corticoide antenatal, prevenção de prematuridade, controle do diabetes materno, uso racional de antibióticos.
Secundária: reanimação adequada, CPAP precoce, surfactante, termorregulação, protocolos de UTI neonatal.
7. Referências Bibliográficas
1. Ministério da Saúde. Atenção à Saúde do Recém-Nascido: Guia para os Profissionais de Saúde. Vol. 3. Brasília: MS; 2014.
2. Sociedade Brasileira de Pediatria. Reanimação Neonatal. Diretrizes 2022. Rio de Janeiro: SBP; 2022.
3. American Academy of Pediatrics. Respiratory Support in Preterm Infants at Birth. Pediatrics. 2014;133(1):171-174.
4. Sweet DG, et al. European Consensus Guidelines on the Management of Respiratory Distress Syndrome. Neonatology. 2019;115(4):432-450.
5. Sociedade Brasileira de Pediatria. Displasia Broncopulmonar. Documento Científico. Rio de Janeiro: SBP; 2020.
Tratamento
1. Orientações Gerais ao Prescritor
Distúrbios respiratórios em RN são geralmente urgências hospitalares.
Sempre avaliar desconforto, gasometria, RX, scores, evolução e gravidade.
O manejo deve ser escalonado: oxigenioterapia → CPAP → ventilação mecânica → adjuvantes conforme a gravidade.
Tratamento específico conforme diagnóstico: surfactante, antibióticos, vasodilatadores pulmonares, cafeína.
Monitorização contínua é mandatória.
2. Prescrições Práticas por Patologia
2.1 SDR (Síndrome do Desconforto Respiratório)
Suporte ventilatório:
Iniciar CPAP nasal precoce (4-8 cmH2O; FiO2 titulada)
Ventilação mecânica se necessário (SIMV/PSV/HFOV, volume 4-6 mL/kg)
Surfactante exógeno:
Indicação: SDR confirmada, FiO2 >30%, peso >500g
Administrar até 2h de vida, dose 100-200 mg/kg intratraqueal, repetir se necessário (máx. 2-3 doses, 6-12h intervalo)
Cuidados adjuvantes: termorregulação, hidratação, nutrição, prevenção infecção.
2.2 TTRN (Taquipneia Transitória do RN)
Oxigenioterapia: só se SatO2 <90%; usar a menor FiO2 possível.
Observação clínica: monitorizar sinais vitais e evolução.
Alimentação: iniciar assim que possível.
Antibióticos: não são rotina — só prescrever se suspeita de infecção.
2.3 Pneumonia Neonatal
Antibioticoterapia empírica inicial:
Precoce (<72h): ampicilina + gentamicina
Tardia (>72h): vancomicina + cefepime
Ajustar conforme cultura, duração: 7-14 dias (dependendo do caso)
Suporte respiratório: O2, CPAP ou ventilação conforme necessidade.
Fluidos e inotrópicos se instabilidade, nutrição parenteral/enteral.
2.4 SAM (Síndrome de Aspiração de Mecônio)
Aspiração traqueal: apenas se RN deprimido e mecônio espesso.
Suporte ventilatório: iniciar CPAP ou ventilação mecânica se necessário, sempre com parâmetros protetores.
Surfactante exógeno: pode ser indicado em casos graves.
Óxido nítrico inalatório: para HPPN associada.
Monitorização intensiva: sinais respiratórios e hemodinâmicos.
2.5 HPPN (Hipertensão Pulmonar Persistente)
Ventilação otimizada: PEEP adequada, evitar hipercapnia e acidose.
Óxido nítrico inalatório: 5-20 ppm (monitorar MetHb).
Sildenafil oral: 0,5-2 mg/kg 6/6h se refratário.
ECMO: em casos graves e refratários, quando disponível.
2.6 Apneia da Prematuridade
Cafeína: ataque 20 mg/kg IV, manutenção 5-10 mg/kg/dia.
Teofilina: ataque 5-6 mg/kg, manutenção 1-3 mg/kg 8/8h (níveis 5-15 μg/mL).
Estimulação tátil: sempre tentar antes de iniciar medicação.
Ventilação: se apneias graves ou recorrentes.
3. Suporte Ventilatório Geral
CPAP nasal:
Indicado para SDR leve/moderado, TTRN, apneia, pós-extubação
Parâmetros: 4-8 cmH2O, FiO2 21-60%, fluxo 5-8 L/min
Monitorar SatO2 (88-95%), conforto e lesões nasais
Ventilação mecânica:
Indicação: falha do CPAP, acidose, instabilidade, apneia grave
SIMV/PSV/HFOV; volume corrente 4-6 mL/kg, PEEP 4-6 cmH2O, FR 40-60 irpm
4. Monitorização Intensiva
Clínica: FC, FR, PA, SatO2, perfusão, padrão respiratório
Gasometria: pH, PaO2, PaCO2, HCO3, lactato
Imagens: RX, USG, TC conforme evolução
5. Cuidados Gerais de Enfermagem
Avaliar e registrar sinais de desconforto respiratório, padrão, scores e evolução.
Administração rigorosa de medicamentos (antibióticos, surfactante, cafeína, sedativos).
Manter segurança, conforto e posicionamento adequados.
Orientar família sobre quadro, evolução e prognóstico.
Acesso Interativo
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