Teste da orelhinha

Resumo

A Triagem Auditiva Neonatal (TAN) é crucial para a detecção precoce de perdas auditivas congênitas, essencial para o desenvolvimento da fala e linguagem. A intervenção idealmente ocorre antes dos 6 meses de vida. --- 1. População-Alvo e Periodicidade Universal: Todos os recém-nascidos (RNs), com ou sem indicadores de risco. Teste: Preferencialmente entre 24 e 48 horas de vida (pré-alta). Reteste (se "Falha"): Agendar em até 15 dias após o primeiro teste. Nascimentos extra-hospitalares: Realizar no primeiro mês de vida. --- 2. Indicadores de Risco para Deficiência Auditiva (IRDA) A presença de IRDA exige protocolo de triagem e seguimento mais rigoroso. Principais IRDA: História Familiar: Surdez permanente na infância. Condições Perinatais: UTI neonatal > 5 dias (ventilação mecânica, exsanguineotransfusão). Anóxia perinatal grave (Apgar 0-4 no 1º min ou 0-6 no 5º min). Peso ao nascer < 1.500g. Prematuridade. Infecções Congênitas: STORCH (Sífilis, Toxoplasmose, Rubéola, Citomegalovírus, Herpes), Zika. Anomalias/Síndromes: Craniofaciais, síndromes associadas à perda auditiva. Exposições: Uso de medicamentos ototóxicos (mãe/RN). --- 3. Metodologia da Triagem Realizada por fonoaudiólogo ou médico habilitado. Emissões Otoacústicas Evocadas (EOA): Indicação: RNs sem IRDA. Avalia células ciliadas externas da cóclea. Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico Automático (PEATE-A ou BERA-A): Indicação: RNs com IRDA (obrigatório). Avalia via auditiva do nervo ao tronco encefálico. Essencial devido ao risco de Neuropatia Auditiva (onde EOA pode ser "Passa"). --- 4. Interpretação e Fluxograma de Ação Resultado: "Passa" ou "Falha". "Falha" não é diagnóstico de surdez. RN sem IRDA: Teste (EOA): Passa: Alta, seguir puericultura. Falha: Reteste com EOA em até 15 dias. Passa no reteste: Alta, seguir puericultura. Falha no reteste: Encaminhar para serviço de diagnóstico (Otorrino/Fono, PEATE diagnóstico). RN com IRDA: Teste (PEATE-A): Passa: Alta, seguir puericultura (risco de perdas tardias/progressivas). Falha: Encaminhar diretamente para serviço de diagnóstico completo. Objetivo: Diagnóstico definitivo e plano de intervenção estabelecidos antes dos 6 meses de idade. --- 5. Checklist Clínico e Orientações Essenciais Para o Pediatra: Maternidade (Pré-alta): Verificar TAN realizada e resultado ("Passa"/"Falha"). Avaliar IRDA: Se presente, confirmar PEATE-A. Se EOA, solicitar PEATE-A. Se "Falha", garantir agendamento do reteste (até 15 dias). Registrar na Caderneta da Criança. Puericultura (1º Mês): Confirmar TAN. Se não realizada, solicitar urgentemente. Se "Falha" no teste e reteste, verificar encaminhamento para diagnóstico. Reforçar marcos do desenvolvimento auditivo/linguagem com a família. Orientações para a Família (Pontos-chave): "Teste da Orelhinha" é rápido, seguro e indolor. "Falha" não significa surdez, pode ser líquido do parto. O reteste é crucial. Mesmo com "Passa", observar o desenvolvimento da criança. Estimular a audição e linguagem (conversar, cantar, ler). --- 6. Sinais de Alerta para o Desenvolvimento Auditivo (Retorno ao Pediatra) Mesmo com TAN "Passa", orientar a família a procurar o pediatra se a criança não apresentar: 0 a 3 meses: Não se assusta com sons altos, não se acalma com a voz familiar, não vira a cabeça para a voz. 4 a 6 meses: Não procura a origem do som, não responde a mudanças no tom de voz, não balbucia para chamar atenção. 7 a 12 meses: Não localiza sons, não responde a palavras simples ("não", "tchau"), não balbucia "mamama"/"papapa". Após 12 meses: Não fala as primeiras palavras, não aponta para objetos nomeados, parece ouvir umas coisas e outras não. --- 7. Critérios de Encaminhamento para Especialista Encaminhar para avaliação audiológica e otorrinolaringológica especializada sempre que: Houver falha no reteste da TAN. O RN apresentar IRDA e falhar no teste inicial com PEATE-A. Houver suspeita de déficit auditivo em qualquer idade, independentemente do resultado da TAN. A criança apresentar atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem.

Categoria

Puericultura > Triagens Neonatais > Teste da orelhinha

Conduta Completa

1. Definição e Justificativa A Triagem Auditiva Neonatal (TAN), popularmente conhecida como "Teste da Orelhinha", é um exame realizado em recém-nascidos com o objetivo de detectar precocemente perdas auditivas congênitas. A audição é fundamental para o desenvolvimento da fala, da linguagem e da aprendizagem. A detecção e intervenção precoces, idealmente antes dos seis meses de vida, são cruciais para mitigar os impactos negativos da deficiência auditiva no desenvolvimento infantil. A prevalência da perda auditiva congênita é estimada em 1 a 3 por 1.000 nascidos vivos em populações de baixo risco, e pode ser significativamente maior entre aqueles com fatores de risco. No Brasil, a Lei Federal nº 12.303/2010 tornou a realização do exame obrigatória e gratuita em todas as maternidades. 2. População-Alvo e Periodicidade A Triagem Auditiva Neonatal deve ser universal, ou seja, aplicada a todos os recém-nascidos, com ou sem indicadores de risco. Teste: Deve ser realizado preferencialmente antes da alta hospitalar, entre 24 e 48 horas de vida. Reteste (se houver falha): Deve ser agendado em até 15 dias após o primeiro teste. Nascimentos extra-hospitalares: O teste deve ser realizado no primeiro mês de vida. 3. Indicadores de Risco para Deficiência Auditiva (IRDA) A presença de um ou mais indicadores de risco (IRDA) exige um protocolo de triagem e seguimento mais rigoroso. | Categoria | Indicadores de Risco | |---|---| | História Familiar e Genética | • História familiar de surdez permanente com início na infância.
• Consanguinidade entre os pais. | | Condições Perinatais | • Permanência em UTI neonatal por mais de 5 dias.
• Ventilação mecânica ou ventilação extracorpórea.
• Hiperbilirrubinemia com necessidade de exsanguineotransfusão.
• Anóxia perinatal grave (Apgar 0-4 no 1º min ou 0-6 no 5º min).
• Peso ao nascer < 1.500g.
• Prematuridade. | | Infecções Congênitas | • Infecções do grupo STORCH (Sífilis, Toxoplasmose, Rubéola, Citomegalovírus, Herpes).
• Infecção pelo vírus Zika. | | Anomalias e Síndromes | • Anomalias craniofaciais, especialmente as que envolvem orelha e osso temporal.
• Síndromes associadas à perda auditiva (ex: Waardenburg, Alport, Pendred, Usher). | | Exposições | • Uso de medicamentos ototóxicos pela mãe na gestação ou pelo recém-nascido. | 4. Metodologia da Triagem A triagem é realizada por fonoaudiólogo ou médico habilitado e utiliza métodos eletrofisiológicos que avaliam a integridade das vias auditivas. 1. Emissões Otoacústicas Evocadas (EOA): - Método: Avalia a funcionalidade das células ciliadas externas da cóclea (ouvido interno). É um teste rápido, não invasivo e indolor. - Indicação: É o procedimento de escolha para a triagem em recém-nascidos sem indicadores de risco (IRDA). 2. Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico Automático (PEATE-A ou BERA-A): - Método: Avalia a via auditiva desde o nervo auditivo até o tronco encefálico. É considerado o padrão-ouro para a avaliação. - Indicação: É o procedimento obrigatório para a triagem em recém-nascidos com indicadores de risco (IRDA), especialmente aqueles que permaneceram em UTI neonatal. Isso se deve ao risco de Neuropatia Auditiva, condição na qual as EOA podem estar presentes, mas a via neural auditiva está comprometida. 5. Interpretação dos Resultados e Fluxograma de Seguimento O resultado da triagem é binário: "Passa" ou "Falha". Passa: Indica resposta satisfatória no momento do exame. A família deve ser orientada a acompanhar o desenvolvimento da audição e da linguagem da criança e a procurar o serviço de saúde caso note qualquer alteração. Falha: Indica resultado não satisfatório. Não confirma o diagnóstico de surdez, mas sinaliza a necessidade de investigação. Pode ocorrer por presença de vérnix ou líquido amniótico no conduto auditivo. Fluxograma de Ação 1. RN sem IRDA: - Teste (EOA): - Passa: Alta com orientação de seguimento em puericultura. - Falha: Agendar reteste com EOA em até 15 dias. - Passa no reteste: Alta com orientação. - Falha no reteste: Encaminhar para serviço de diagnóstico (avaliação com Otorrinolaringologista e Fonoaudiólogo, realização de PEATE diagnóstico). 2. RN com IRDA: - Teste (PEATE-A): - Passa: Alta com orientação de seguimento auditivo e de linguagem em puericultura, pois há risco de perdas auditivas tardias ou progressivas. - Falha: Encaminhar diretamente para serviço de diagnóstico para avaliação completa. O diagnóstico definitivo e o plano de intervenção (se necessário) devem ser estabelecidos antes dos 6 meses de idade. 6. Referências BRASIL. Lei nº 12.303, de 2 de agosto de 2010. Dispõe sobre a obrigatoriedade de realização do exame denominado Emissões Otoacústicas Evocadas. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 3 ago. 2010. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes de Atenção da Triagem Auditiva Neonatal. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. COMITÊ MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE AUDITIVA (COMUSA). Recomendações 2021. Disponível em fontes da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. JOINT COMMITTEE ON INFANT HEARING (JCIH). Year 2019 Position Statement: Principles and Guidelines for Early Hearing Detection and Intervention Programs. Journal of Early Hearing Detection and Intervention, v. 4, n. 2, p. 1-44, 2019. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (SBP). Tratado de Pediatria. 5. ed. Barueri: Manole, 2022.

Tratamento

1. Checklist Clínico para o Pediatra Na Maternidade (Pré-alta): [ ] Verificar se a Triagem Auditiva Neonatal (TAN) foi realizada. [ ] Checar o resultado no prontuário ou resumo de alta: "Passa" ou "Falha". [ ] Avaliar a presença de Indicadores de Risco para Deficiência Auditiva (IRDA). [ ] Se houver IRDA, confirmar se o método utilizado foi o PEATE-A. Se foi EOA, orientar a necessidade de PEATE-A. [ ] Se o resultado foi "Falha", garantir que o reteste esteja agendado para até 15 dias de vida. [ ] Registrar o resultado e o plano de seguimento na Caderneta da Criança. Na Consulta de Puericultura (Primeiro Mês): [ ] Confirmar a realização da TAN. Se não realizada, solicitar com urgência. [ ] Revisar o resultado. Se "Falha" no teste e reteste, verificar se o encaminhamento para o serviço de diagnóstico foi efetuado. [ ] Reforçar com a família os marcos do desenvolvimento auditivo e de linguagem. 2. Orientações para a Família Sobre o Exame: "O 'Teste da Orelhinha' é um direito do seu bebê, garantido por lei. É um exame rápido, seguro e indolor, feito geralmente enquanto ele dorme." "O objetivo é verificar precocemente se a audição do bebê está funcionando bem, o que é essencial para que ele aprenda a falar." "Um resultado 'Falha' não significa que seu bebê é surdo. Pode ser apenas líquido do parto no ouvidinho. Por isso, é fundamental fazer o reteste para confirmar." Após o Resultado "Passa": "O resultado foi ótimo. Mesmo assim, continue observando o desenvolvimento do seu filho. A audição pode mudar ao longo do tempo." "Converse, cante e leia para o seu bebê. Esses estímulos são muito importantes." "Avise o pediatra se notar qualquer um dos sinais de alerta listados abaixo." Após o Resultado "Falha": "O primeiro teste mostrou que precisamos investigar melhor a audição do seu bebê. O próximo passo é o reteste, que é muito importante e não deve ser perdido." "Se o reteste também falhar, faremos um encaminhamento para exames mais detalhados com especialistas. O diagnóstico precoce é o melhor caminho para garantir todo o apoio que a criança precisar." 3. Sinais de Alerta para o Desenvolvimento Auditivo Mesmo com resultado "Passa" na triagem, oriente a família a retornar se a criança não apresentar os seguintes marcos: 0 a 3 meses: - [ ] Não se assusta com sons altos e repentinos. - [ ] Não se acalma com a voz da mãe/cuidador. - [ ] Não vira a cabeça na direção de uma voz familiar. 4 a 6 meses: - [ ] Não procura com os olhos a origem de um som. - [ ] Não responde a mudanças no tom de voz. - [ ] Não emite sons (balbucio) para chamar atenção. 7 a 12 meses: - [ ] Não localiza sons vindos de diferentes direções. - [ ] Não responde a sons familiares como o telefone tocando. - [ ] Não responde a palavras simples como "não" ou "tchau". - [ ] Não balbucia sequências como "mamama" ou "papapa". Após 12 meses: - [ ] Não fala as primeiras palavras. - [ ] Não aponta para objetos ou pessoas quando nomeados. - [ ] Parece ouvir umas coisas e outras não. 4. Critérios de Encaminhamento Encaminhar para avaliação audiológica e otorrinolaringológica especializada sempre que: [ ] Houver falha no reteste da Triagem Auditiva Neonatal. [ ] O recém-nascido apresentar IRDA e falhar no teste inicial com PEATE-A. [ ] A família ou o pediatra suspeitarem de déficit auditivo em qualquer idade, independentemente do resultado da TAN. [ ] A criança apresentar atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem.

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