Teste do coraçãozinho
Resumo
1. Objetivo
Detecção precoce de cardiopatias congênitas críticas (CCC) e deficiência auditiva para intervenção oportuna e melhora do prognóstico.
2. Triagem Cardiológica (Teste do Coraçãozinho)
Quando: RN > 34 semanas, entre 24-48h de vida, antes da alta.
Como: Oximetria de pulso em membro superior direito (MSD, pré-ductal) e em um dos membros inferiores (MMII, pós-ductal).
Resultados:
Normal: SpO2 ≥ 95% em ambos E diferença entre MSD-MMII < 3%.
Anormal: SpO2 < 95% em qualquer medida OU diferença MSD-MMII ≥ 3%.
Conduta na Falha:
Repetir teste em 1 hora.
Se persistir anormal: NÃO CONCEDER ALTA. Avaliação cardiológica urgente (ecocardiograma em < 24h).
Suspeita de Cardiopatia Ducto-Dependente (CCC):
Sinais de Alerta: Cianose grave, pulsos femorais diminuídos, instabilidade hemodinâmica.
Manejo Imediato: Discutir com cardiologista pediátrico/intensivista. Iniciar infusão de Prostaglandina E1 (Alprostadil).
Dose: Ataque: 0,05-0,1 mcg/kg/min IV contínua. Manutenção: titular para 0,01-0,025 mcg/kg/min.
Monitorar: Risco de apneia (efeito adverso mais comum e grave), febre, hipotensão.
Critérios para Hospitalização/Transferência: Qualquer RN com falha persistente na triagem cardiológica deve permanecer internado até avaliação cardiológica completa. Se o hospital não dispuser de recursos, transferir para centro de referência.
3. Triagem Auditiva Neonatal (Teste da Orelhinha)
Quando: Preferencialmente > 24h de vida, antes da alta.
Como: Emissões Otoacústicas Evocadas (EOAE).
Resultados:
"Passa": Função coclear normal.
"Falha": Ausência de emissões (comum por vérnix/líquido no conduto).
Conduta na Falha:
Agendar reteste (preferencialmente antes da alta ou em até 30 dias).
Se falha persistir no reteste: Encaminhar para avaliação diagnóstica completa (Otorrinolaringologista/Fonoaudiólogo), incluindo Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico (PEATE).
Objetivo: Confirmar diagnóstico até 3 meses, iniciar intervenção (protetização/terapia) até 6 meses.
Fatores de Risco (IRDA) para Deficiência Auditiva:
História familiar de surdez permanente.
Permanência em UTI > 5 dias ou ventilação mecânica.
Infecções congênitas (Toxoplasmose, Rubéola, CMV, Herpes, Sífilis).
Anomalias craniofaciais.
Peso ao nascer < 1.500g.
Hiperbilirrubinemia com necessidade de exsanguineotransfusão.
Uso de medicamentos ototóxicos.
4. Orientações de Alta e Sinais de Alerta para a Família
Triagem Auditiva (Falha com reteste agendado): Explicar que "falha" inicial é comum e não significa surdez, mas o reteste é crucial. Orientar a observar se o bebê se assusta com sons altos.
Sinais de Alerta Cardíacos (para todos os RNs na alta):
Dificuldade para Respirar: Respiração muito rápida, esforço (afundamento do peito/costelas).
Cansaço Extremo para Mamar: Interrompe mamadas frequentemente, transpira muito na cabeça.
Coloração Azulada (Cianose): Lábios, língua ou pontas dos dedos azulados, especialmente ao chorar ou mamar.
Palidez ou Cor "Acinzentada" associada à dificuldade de despertar o bebê (letargia).
Retorno Imediato ao pronto-socorro se qualquer um desses sinais for observado.
Categoria
Puericultura > Triagens Neonatais > Teste do coraçãozinho
Conduta Completa
1. Definição e Contexto
O Teste de Oximetria de Pulso, popularmente conhecido como "Teste do Coraçãozinho", é um exame de triagem neonatal não invasivo, universal e obrigatório no território brasileiro. Seu objetivo principal é a detecção precoce de Cardiopatias Congênitas Críticas (CCC) que podem se manifestar com hipoxemia após o nascimento.
A incidência de CCC é estimada em 1 a 2 para cada 1.000 nascidos vivos. Cerca de 30% desses recém-nascidos (RN) podem receber alta da maternidade sem o diagnóstico, evoluindo para choque cardiogênico, hipóxia grave ou óbito. A triagem precoce é fundamental para o manejo adequado e melhora do prognóstico.
2. Fisiopatologia da Triagem
As CCC frequentemente envolvem a mistura de sangue sistêmico (oxigenado) e pulmonar (desoxigenado), ou dependem da persistência do canal arterial para manter o fluxo sanguíneo pulmonar ou sistêmico. O fechamento fisiológico do canal arterial, que se inicia nas primeiras horas e se completa em até 72 horas de vida, pode descompensar o quadro clínico, tornando a hipoxemia detectável pela oximetria de pulso.
A medição é realizada no membro superior direito (pré-ductal) e em um dos membros inferiores (pós-ductal) para identificar diferenciais de saturação que sugiram uma cardiopatia canal-dependente.
3. População-Alvo e Janela de Realização
3.1. Critérios de Inclusão
Todos os recém-nascidos aparentemente saudáveis.
Idade gestacional ≥ 35 semanas.
3.2. Janela de Realização
O teste deve ser realizado entre 24 e 48 horas de vida, obrigatoriamente antes da alta hospitalar.
A realização antes de 24 horas aumenta o risco de resultados falso-positivos devido à instabilidade circulatória do período de transição neonatal.
4. Metodologia de Execução
A técnica correta é crucial para a acurácia do resultado.
4.1. Condições do Paciente e Ambiente
O RN deve estar calmo, em sono ou vigília tranquila.
As extremidades devem estar aquecidas e com boa perfusão.
Evitar realizar o teste durante a amamentação ou choro, pois o esforço físico pode alterar a saturação.
4.2. Equipamento
Oxímetro de pulso com tecnologia de extração de sinal.
Sensor de tamanho adequado para o recém-nascido.
4.3. Procedimento Passo a Passo
1. Higienizar as mãos.
2. Posicionar o sensor no membro superior direito (MSD) do RN.
3. Aguardar a estabilização da curva pletismográfica no monitor, garantindo um sinal de qualidade.
4. Registrar o valor da saturação periférica de oxigênio (SpO2).
5. Posicionar o mesmo sensor em um dos membros inferiores (MMII).
6. Aguardar novamente a estabilização da curva e registrar o valor da SpO2.
5. Interpretação dos Resultados e Condutas
Os resultados são interpretados conforme o fluxograma da Sociedade Brasileira de Pediatria (2022).
| Resultado | Critérios | Conduta Imediata |
|---|---|---|
| Normal (Negativo) | SpO2 em MSD e MMII ≥ 95% E Diferença entre as medidas ≤ 3%. | Alta hospitalar liberada após exame físico completo e demais rotinas. |
| Anormal (Positivo) | SpO2 em qualquer medida ≤ 89%. | - Não conceder alta hospitalar.
- Realizar exame físico detalhado.
- Solicitar Ecocardiograma em caráter de urgência.
- Avaliação do cardiologista pediátrico. |
| Duvidoso | SpO2 em qualquer medida entre 90% e 94% OU Diferença entre MSD e MMII ≥ 4%. | - Repetir a aferição em 1 hora.
- Se persistir duvidoso, repetir novamente após 1 hora (máximo de 2 repetições).
- Se após as repetições o resultado se mantiver duvidoso, o caso é considerado positivo. |
5.1. Fluxograma de Manejo
1. Resultado Normal: RN liberado para alta.
2. Resultado Anormal (SpO2 ≤ 89%): Considerar resultado positivo. Realizar ecocardiograma de urgência.
3. Resultado Duvidoso (SpO2 90-94% ou Diferença ≥ 4%):
- Repetir em 1 hora:
- Se normalizar → Alta.
- Se permanecer duvidoso → Repetir novamente em 1 hora.
- Se se tornar anormal (≤ 89%) → Considerar positivo e solicitar ecocardiograma de urgência.
- Após a segunda repetição (terceira medida total):
- Se normalizar → Alta.
- Se permanecer duvidoso ou se tornar anormal → Considerar positivo e solicitar ecocardiograma em até 24 horas.
6. Cardiopatias Congênitas Críticas (Alvos da Triagem)
O teste possui maior sensibilidade para as cardiopatias que cursam com hipoxemia. As principais são:
Lesões com fluxo pulmonar dependente do canal arterial:
- Atresia Pulmonar
- Estenose Pulmonar Crítica
- Anomalia de Ebstein grave
Lesões com fluxo sistêmico dependente do canal arterial:
- Síndrome de Hipoplasia do Coração Esquerdo
- Coarctação de Aorta Crítica
- Interrupção do Arco Aórtico
- Estenose Aórtica Crítica
Cardiopatias com circulação em paralelo:
- Transposição das Grandes Artérias
Outras cardiopatias graves:
- Tronco Arterial Comum
- Drenagem Anômala Total de Veias Pulmonares
Importante: Um teste normal não exclui 100% das cardiopatias, especialmente a Coarctação de Aorta, que pode não apresentar dessaturação diferencial. O exame físico minucioso do RN permanece indispensável.
7. Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 20, de 10 de junho de 2014. Torna pública a decisão de incorporar a oximetria de pulso - teste do coraçãozinho, a ser realizado de forma universal, fazendo parte da Triagem Neonatal no Sistema Único de Saúde - SUS. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 jun. 2014. Seção 1, p. 56.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Departamento Científico de Cardiologia e Neonatologia. Sistematização do atendimento ao recém-nascido com suspeita ou diagnóstico de cardiopatia congênita. Manual de Orientação, n. 4, ago. 2022.
Tratamento
1. Checklist de Execução do Teste do Coraçãozinho
Critérios de Elegibilidade:
[ ] RN com idade gestacional ≥ 35 semanas?
[ ] RN com idade entre 24 e 48 horas de vida?
[ ] RN ainda não recebeu alta hospitalar?
Preparo do Ambiente e Paciente:
[ ] RN em berço, em decúbito dorsal, calmo e tranquilo?
[ ] Extremidades (mãos e pés) aquecidas e com boa perfusão?
[ ] RN não está chorando, se alimentando ou agitado?
[ ] Oxímetro de pulso ligado e com sensor neonatal conectado?
Procedimento de Aferição:
[ ] Passo 1: Posicionar o sensor no membro superior direito (MSD).
[ ] Passo 2: Aguardar curva de pulso estável e homogênea no monitor.
[ ] Passo 3: Anotar o valor da SpO2 do MSD: ______%
[ ] Passo 4: Mover o sensor para um dos membros inferiores (MMII) (pé direito ou esquerdo).
[ ] Passo 5: Aguardar novamente a curva de pulso estável.
[ ] Passo 6: Anotar o valor da SpO2 do MMII: ______%
[ ] Passo 7: Calcular a diferença: | SpO2 (MSD) - SpO2 (MMII) | = ______%
2. Interpretação Rápida e Conduta
| Verificação | Sim | Não | Conduta |
|---|---|---|---|
| SpO2 em AMBOS os membros é ≥ 95%? | ✅ | | Continue |
| A diferença entre as medidas é ≤ 3%? | ✅ | | RESULTADO NORMAL.
Proceder com rotina para alta. |
| SpO2 em QUALQUER membro é ≤ 89%? | | ✅ | RESULTADO POSITIVO.
- NÃO DAR ALTA.
- Comunicar equipe médica sênior/neonatologista.
- Solicitar Ecocardiograma de URGÊNCIA. |
| SpO2 está entre 90-94% OU a diferença é ≥ 4%? | | ✅ | RESULTADO DUVIDOSO.
- Repetir o teste completo em 1 hora.
- Se persistir, seguir fluxograma de repetição. |
3. Orientações ao Prescritor e Equipe de Enfermagem
Registro Obrigatório: Os valores de SpO2 (MSD e MMII), a diferença calculada e o resultado final (Normal, Positivo ou Duvidoso) devem ser registrados de forma clara no prontuário do recém-nascido e, se disponível, na caderneta da criança.
Comunicação: Qualquer resultado que não seja "Normal" deve ser imediatamente comunicado ao médico responsável pelo RN para definição da conduta.
Não dar alta: Nenhum recém-nascido com resultado positivo ou duvidoso (mesmo após repetições) deve receber alta hospitalar sem a realização de um ecocardiograma e avaliação especializada.
4. Sinais de Alerta para Retorno (Orientação de Alta para Casos com Teste Normal)
Mesmo com um Teste do Coraçãozinho normal, a família deve ser orientada a procurar atendimento médico imediato se o bebê apresentar qualquer um dos seguintes sinais:
Cianose: Coloração azulada ou arroxeada nos lábios, língua ou extremidades, especialmente durante o choro ou alimentação.
Cansaço para mamar: O bebê fica ofegante, faz pausas frequentes, transpira muito na cabeça ou abandona a mamada antes de estar satisfeito.
Taquipneia: Respiração rápida e difícil, com afundamento das costelas (tiragem intercostal ou subcostal).
Sudorese excessiva: Suor frio e constante, principalmente na testa, mesmo em ambiente com temperatura agradável.
Irritabilidade ou sonolência excessiva: Dificuldade para acordar para mamar ou choro inconsolável.
Baixo ganho de peso: Dificuldade persistente em ganhar peso, apesar da alimentação adequada.
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